sábado, 13 de julho de 2013

URIAS

Subalternos eclipsam, vez ou outra, superiores. Previsível é o ator principal atrair toda atenção. Pontualmente, todavia, é o desempenho do coadjuvante que brilha e se destaca. Na biografia de Davi, rei bíblico de Israel, a integridade de um coadjuvante deixa na sombra o brilho do adulado regente. Trata-se do general Urias. Registra a Bíblia que, enquanto o oficial esteve a serviço do rei em guerra, este encantou-se com a mulher dele, Betsabéia, e abusando do seu poder real, mandou chamá-la para satisfazer seus caprichos e ela ficou grávida. Apavorado, trama o rei encobrir seu abuso chamando para casa o general e, fingindo amizade e consideração, concede-lhe dias de descanso. Urias, em atitude exemplar de fidelidade ao rei e de solidariedade aos companheiros em guerra, recusa desfrutar da companhia da esposa. Passa a noite à porta do palácio. Ao tomar conhecimento da conduta de seu general, Davi o convida para um banquete e o embriaga, na certeza que, entorpecido pela bebida, o general procuraria os afagos conjugais. Novamente, Urias dá demonstração de fidelidade ao soberano e de solidariedade aos companheiros e passa a noite à porta do palácio. Vencido, Davi manda de volta o general ao campo da batalha com a explícita recomendação que atuasse na frente onde o combate fosse mais feroz. Claro, Urias acaba morto. A narrativa bíblica destaca o subseqüente arrependimento de Davi. Urias sai de cena, mas não sem deixar uma valiosa lição de ética e de coerência. De integridade. Preciosa reflexão para o momento conturbado pelo qual o Brasil atualmente passa. Impactante é o senso de responsabilidade do general Urias. Em tese, ele não cometeria nenhuma improbidade caso aceitasse a insinuação do seu superior e fosse descansar e relaxar-se em casa. O sentido do dever, todavia, e o sentimento de solidariedade para com seus companheiros falaram mais alto em sua consciência. Dentro da atual conjuntura, a falta de um sentido agudo do dever por parte de vários funcionários públicos graduados é, certamente, uma das causas principais para tanta desordem e para o alto grau de descontentamento por parte da população. Infelizmente, o que salta aos olhos é uma viciada mentalidade de querer beneficiar-se de posições e cargos. Altos cargos em administrações públicas garantem acesso fácil às mais descabidas mordomias. Com a consciência da transitoriedade do poder, as autoridades de plantão, com algumas exceções, buscam tirar o máximo de vantagens no menor prazo possível. O que cria um círculo vicioso de corrupção e de espólio. Altera-se radicalmente a razão de ser do serviço público. Com as exceções de praxe, o que se observa não é o político a serviço da nação, mas homens públicos cobrindo-se de privilégios e mordomias as custas do contribuinte. Não bastasse o abuso, ainda assiste-se á desfaçatez de querer justificar o injustificável! Desfigurado por completo, o exercício de governança locupleta seus ocupantes ao passo que a população permanece em estado de constante indigência. Inconformados, os cidadãos decidiram que havia chegado a hora de dizer um sonoro BASTA, de extravasar ruidosamente o protesto que há muito amargurava suas vidas. Superaram a contumaz indiferença e foram para a rua exigir mudanças. Ao clamar por administrações 'padrão Felipão', o povo quer administrações eficientes, que trabalham coesos na busca do verdadeiro progresso. A começar pela seleção da equipe dirigente. A comissão técnica da seleção de futebol convocou atletas segundo o perfil do esquema de jogo a ser implantado. Não se preocupou com cartolas, nem se deixou impressionar com medalhões. O objetivo era formar um time competitivo, com um esquema de jogo definido, capaz de chegar a vitória. Padrão Felipão é isto, objetivos claros, comando reconhecido e com autoridade e plano de ação definido e assumido por todos os integrantes do grupo, desde os mais graduados oficiais aos mais humildes cooperadores. A livre e consciente adesão a esta mentalidade levou à inconteste vitória uma seleção que pouco prestígio inspirava. A figura bíblica de Urias é motivo de grande inspiração neste momento crítico pelo qual passa o país. Se a hora é de mudança, que se assumam, e de forma livre e consciente, posturas de integridade, de lealdade, de coerência, de abnegação e de ética.

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