sábado, 9 de novembro de 2013

MENTES INTELIGENTES

MENTES  INTELIGENTES
 Muitos são cultos. Poucos são inteligentes. É verdade, na opinião popular, o conceito de inteligência segue bastante amplo e genérico, abrange desde retórica polida, mesmo oca, até golpes de esperteza!  O sujeito com módicos conhecimentos e boa prosa é apressadamente aclamado como inteligente. Basta causar boas impressões. Na realidade, porém, nem toda pessoa possuidora de variados conhecimentos e boa retórica é objetivamente inteligente. A cultura pode ser superficial. A prosa, apenas cênica, elaborada meramente para causar impacto, em especial quando for mera multiplicação de palavras, estratégia ardilosa para impedir interrupção nem contestação. O sujeito loquaz, com pose de sábio, impõe-se recorrendo a frases de impacto que chamam atenção e impressionam. Seu objetivo é dominar a conversa. Aparecer! A pessoa genuinamente inteligente, por sua vez, se destaca pela ponderação e reflexão. Prefere mais ouvir, não se incomoda com o silêncio nem se aflige quando não é reconhecida. Ao manifestar-se, apresenta-se cuidadosa na escolha das palavras. Sabe dar a cada termo o exato peso que possui. Não receia opiniões diferentes ou teses contrárias. Seu negócio é aprender e ampliar o conhecimento, próprio e dos outros.
Na raiz etimológica, inteligente é a pessoa que enxerga além das aparências! Faz dos acontecimentos e da informação uma leitura que vai além do que é aparente. Faz, sobre todo tópico, uma leitura reflexiva. Assimila o que aprende, diferente de quem somente copia e cola! Desta forma, digerindo os assuntos os incorpora e os amplia, dando-lhes maior densidade e uma pessoal interpretação.  Este tipo de percepção demanda, evidentemente, disciplina, exige tempo, impõe estudo e dedicação. Inteligência não combina com pressa! Aplicado e paciente, o sujeito inteligente vai elaborando conceitos sólidos e consistentes, convicções enraizadas e articuladas, em condições de contribuir efetivamente para o progresso da ciência e do saber. O interlocutor pode discordar-se dele, mas reconhece o embasamento de seus argumentos. Livre da necessidade de reconhecimento e de aprovação popular, apresenta suas conclusões com a tranquila confiança e segura serenidade que, em tempo oportuno, suas opiniões serão devidamente avaliadas e compreendidas. Não receia expor suas convicções à análise de outras mentes, pois seu maior interesse não é granjear fama, mas progredir no saber. A mente inteligente se realiza e se delicia ao poder contribuir para um conhecimento mais abrangente sobre a realidade da vida.
O sujeito inteligente é um aplicado colecionador de conhecimentos. Diferente da pessoa que precisa de informação imediata. Este último só procura informar-se quando sente necessidade e concentra-se somente naquela particular informação. Conhecimento fragmentado e desconexo. Ao contrário, o sujeito inteligente cuida de armazenar o maior número de informações, pois enxerga além da necessidade imediata. Mergulha fundo nas matérias. Todo assunto é relevante e nenhuma informação é desprezível. Aprende e ensina que a sabedoria se adquire ao longo de uma extensa jornada, acumulando e organizando pequenas informações. O atual sistema de vida apresenta-se como sério obstáculo para o desenvolvimento da inteligência. Além da facilidade de copiar e colar, tão nociva para um amadurecimento consistente, prevalece a mentalidade utilitária e imediatista. Procura-se somente o que se vai usar de imediato. O cidadão moderno, envolvido pela atual cultura imediatista, não percebe que está se tornando imprevidente, despreparado para as possíveis emergências e desafios. Ao desdenhar poupanças, tanto culturais quanto materiais, torna-se extremamente vulnerável e perigosamente remedado! São as reservas, afinal, que dão consistência e segurança na vida! Na esfera intelectual, inclusive.
Ao guardar e assimilar diversificadas informações, o sujeito inteligente não somente amplia o depósito de conhecimentos, como também enxerga o sutil nexo entre um e outro tópico. Em sua análise, os assuntos adquirem novos e surpreendentes contornos, presentes, na verdade, mas latentes. Pessoas cultas agradam. Mentes inteligentes edificam!


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