
NUDEZ
Pompas fascinam! Reis, rainhas e princesas, aristocracia enfim, continuam exercendo um encanto especial sobre o cidadão comum. Em tempos de escassas e obsoletas monarquias, é curioso como a população faz questão de demonstrar suas preferências pelas monarquias, elegendo seus próprios reis e rainhas. Temos reis em futebol, rainhas em basquete, princesas em festas agrícolas. Regentes na política. Cada celebridade recebe a unção popular graças ao bom desempenho em sua modalidade. Com frequência, a publicidade dada a essas figuras contribui para justificar e ampliar a admiração, enaltecendo feitos e escondendo defeitos. As várias condecorações e loas mantêm em evidência os 'nobres', assegurando a devoção do povo.
Quando, por acidente, tem-se acesso ao que esses figurões aprontam na intimidade, não raramente, a aura mística dá lugar a amargos desapontamentos. Quem sabe, não seja exatamente para camuflar as 'sujeiras da cozinha' que esses distintos cidadãos fazem questão de receber condecorações em sempre maior número. Cobertos de mantos e medalhas fica mais fácil desviar a atenção e iludir a população. E para sustentar a ficção, necessário se faz um articulado projeto de propaganda e blindagem. É dado inclemente da história, contudo, que ninguém consegue enganar a todos por todo tempo. Em uma hora de desatenção ou de excessiva confiança, a máscara cai e o 'rei fica nu', exposto e sem camuflagem. Conhece-se, então, o seu verdadeiro perfil! A real fotografia, sem retoques e sem produção! Nessas circunstâncias a decepção costuma ser profunda. A artificial imagem rui e reconhece-se que se exagerou numa exposição inverossímil. Há virtudes, sem dúvida, nesses medalhões, no entanto, seus valores são tão desproporcionalmente inflacionados que acabam criando irreais mitos. É sinal de enorme coragem e rara honestidade querer expor-se, sem máscaras e sem maquiagem, para ser objetivamente conhecido pelos outros! Poucos os 'reis' dispostos a despojar-se de seus mantos!
É inegável, consciente das próprias limitações e defeitos, o ser humano prefere sempre esconder-se atrás de protocolos e de títulos. De mantos e de roupas. Hoje, a moda é recorrer para a tatuagem; a realidade, contudo, permanece a mesma, desviar a atenção da própria nudez! Existem dois níveis de exposição. Há o nível exterior. Muitos são os modelos que não se importam em exibir seus corpos atléticos ou suas formosas e atraentes silhuetas. Ironicamente, não são poucos entre esses modelos, que ao se despir, buscam inconscientemente esconder sua real personalidade. Preferem chamar a atenção por predicados exteriores e contingentes uma vez que o interior continua lamentavelmente indigente. Comprometedor, talvez, ou traumático. Optam, então, pela ilusão da vulgaridade. Importa fingir e representar!
Mas há também o nível interior! A alma, o caráter, a identidade da pessoa! Apresentar-se como se é na realidade, talvez seja o grande desafio para o homem moderno! A cultura moderna impõe padrões de apresentação e de aceitação. As pessoas são avaliadas e encontram seu espaço à medida que se enquadram à padrões convencionais. Para conseguir apoio, o sujeito renega princípios, negocia valores! Emerge, obviamente, uma sociedade artificial, de fachadas, baseada em mentiras e hipocrisias. Finge-se ser uma coisa quando, na intimidade, se é outra! Por medo ou por conveniência o sujeito esconde sua real identidade. É preciso coragem para apresentar-se como se é na realidade!
É falsa a tese que divide a humanidade em anjos e demônios. Somos, todos, santos e pecadores. Somos, todos, uma mistura de virtudes e de desvios! Assim é a humanidade! A diferença está em que alguns admitem suas limitações e as confessam ao passo que outros posam de perfeitos, dão lições de moral e alimentam a ficção! Urge que reis e plebeus se dispam de seus mantos ou de seus trapos e reparem a própria nudez! Muitas das arrogâncias diminuirão, reduzir-se-ão as pretensões, moderar-se-á a vaidade, evitar-se-ão os desapontamentos, limitar-se-ão as cobranças. Sobrará compreensão. Aplicar-se-á preferencialmente em corrigir os próprios defeitos. A sociedade, enfim, progredirá! Com ou sem realezas!
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