
O DIAMANTE
Encerra-se neste domingo o Ano da Fé! Ao lançar a pastoral campanha, o Papa Bento XVI quis convidar a Igreja a realizar um detido exame sobre a vivência na Fé. Percebendo a urgência da iniciativa, o Papa Francisco vem empenhando-se em provocar os batizados católicos a avaliarem a autenticidade da sua identidade religiosa. Concede-se, nem sempre é agradável submeter-se a exames. Essas avaliações, não raramente, expõem falhas que se gostaria não possuir ou limitações que se preferiria ignorar. Por outro lado, ao convencer-se da realidade de certas debilidades, o sujeito que deseja progredir em suas realizações assume adotar os ajustes necessários. O dom da Fé assemelha-se a um diamante precioso que precisa constantemente de lapidação para chegar a seu verdadeiro brilho! Conservado em seu estado bruto perde muito da valorização, como também da natural exposição. Foi esta a explícita intenção dos Papas ao propor o Ano da Fé: provocar nos batizados católicos uma revisão detalhada da prática da fé, com o intuito de induzi-los a reafirmar sua legítima identidade cristã.
Um olhar criterioso sobre a prática católica denuncia o estado ainda bruto em que se encontra o diamante da fé. Para a grande maioria dos católicos a vivência da fé se reduz à prática dos sacramentos. O católico, em sua maioria, reconhece como obrigações batizar-se, fazer a primeira comunhão, ser crismado, casar-se na igreja, participar de missa de sétimo dia. Faz isso, contudo, não com a intenção que a Igreja quer, mas apenas realizando cerimônias, cumprindo rituais, como se vacinas fossem. Comprova-se este formalismo ao reparar nos preparativos considerados relevantes para a realização desses rituais. As preocupações mais evidentes são com fotografias, com o desfile de roupas, com a decoração da igreja! Em sua maioria, o católico fica distante do verdadeiro sentido e do real desdobramento de cada sacramento. Comporta-se como um consumidor religioso. Na cultura tradicional, o crente católico age basicamente como um cliente; paga para ter um produto e julga-se no direito de reclamar se o que é oferecido não corresponde a seus requisitos! Rituais e tradições sem fé não passam de meras representações, cerimônias com pompa, mas sem vida! Concorridas, mas sem contágio!
Diante deste desgastante descompasso reconhece-se a urgência de uma séria e minuciosa revisão no conceito e na vivência da fé. Enorme é o trabalho necessário para lapidar este diamante. O ponto de partida, logicamente, é reconhecer a urgência de realizar esta revisão. O fato de um sujeito não sentir dor não é nenhuma garantia de saúde perfeita, da mesma forma, o simples fato de alguém participar regularmente da missa não é nenhuma garantia de vivência autêntica na fé. Basicamente, crer é dispor-se a ouvir a voz de Deus! Ouvir com o intuito de ajustar-se à instrução recebida. Ao falar da autenticidade da fé, o Senhor Jesus, com hábil e prática pedagogia, recorre à figura do servidor que ouve e cumpre as determinações do seu superior. Basicamente, crer é exatamente isto, ouvir e cumprir! Na bonita e provocante imagem bíblica, a pessoa de fé vive em um constante desinstalar-se. Crente é o sujeito que está em constante busca para responder adequadamente a um chamado! Acontece que a voz de Deus é sempre suave, em contraste com os extravagantes ruídos do mundo moderno! Na cultura moderna, quem mais faz barulho mais possibilidade tem de ser ouvido. Real, portanto, é o perigo de a voz de Deus sumir! É, possivelmente, esta uma das razões para o enfraquecimento da fé! O crente está se deixando levar pelos ruídos do mundo, inclusive por uma ambígua propaganda religiosa. Confuso, não consegue distinguir mais a voz de Deus! Consequentemente, não a atende. Razão porque o crente católico é geralmente um sujeito inseguro, hesitante. Com facilidade vacila!
A fé não se herda! A fé se cultiva, pessoalmente. Cada um recebe o diamante em estado bruto, com enorme potencialidade. Recebe, igualmente, a convocação para aplicar-se na lapidação. A oficina é a alma. As ferramentas são a escuta diligente da Palavra, a oração e o silêncio. O polimento é a prática. O ano da Fé esta terminando, mas a intenção de provocar no católico uma constante busca de aperfeiçoamento no perfil de sua identidade evangélica persiste urgente!
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