domingo, 20 de abril de 2014

NOITE FELIZ

O Servo sofredor é o Servo vencedor! Este é o vibrante evangelho anunciado e celebrado na Vigília Pascal! Jesus, a quem os homens rejeitaram, ridicularizaram e quiseram calar-lhe a voz, sai, ao final, vitorioso e glorioso! Imortal! Pode-se imaginar, dentro da lógica humana, que a vitória de Jesus representa a derrota de seus adversários. A afirmativa procede, em parte apenas. Ao ressuscitar glorioso, Jesus não derrotou pessoas, como se fossem inimigos. Ele veio não para condenar, mas para resgatar e para indicar caminho infalível para a realização de todas as pessoas, incluindo as que mais resistiram à sua missão. Com a vitória sobre a morte, Ele desmontou mentalidades alienantes e desqualificou esquemas dominadoras, abraçadas por autoridades e sábios de todos os tempos. Ao longo do seu ministério Jesus continuamente acenava para o êxito glorioso da sua missão. A peculiaridade fundamental da sua vitória encontra-se no caminho que Ele seguiu. De acordo com a lógica humana, sai-se vitorioso quem leva vantagem. Embora tivesse opositores declarados, Jesus não os considerava adversários, mas errantes, potencialmente recuperáveis. Via-os como guias obcecados por normas e tradições que, longe de glorificar a Deus, os tornava aduladores de si próprios e inflexíveis gestores de preceitos humanos. Em sua arrogância perpetuavam, inconscientemente talvez, a resistência a Deus. Ao encarnar-se, Jesus parte para reverter este processo presunçoso. Despe-se da glória celeste, assume a condição de pessoa humilde. E quando decide iniciar seu ministério, o faz em atitude de servidor. Repetidas vezes afirma, não ter vindo para ser servido, mas para servir e dar a vida pelos outros. Entre tantas outras figuras escolhidas para ilustrar esta renovadora verdade, Jesus prefere a do pastor. Em sua concepção, o pastor é considerado bom quando, ao perceber o extravio de uma ovelha, tem a coragem de deixar a maioria do rebanho sob os cuidados de amigos e ir atrás da rebelde até encontrá-la. Nesta perspectiva, a matemática do pastor bom segue uma lógica peculiar, o menos é mais valioso que o mais! Na condição de Mestre consciente, não se contenta em pregar sermões. Sabe que a lição maior sempre vem do exemplo. Com perfeita sincronia, deixa para os últimos dias de sua existência terrena os mais marcantes exemplos de despojamento e serviço. Na última ceia pascal da qual participava com seus amigos, que, na realidade, passaria a ser a primeira de inúmeras novas ceias a serem vividas junto a seguidores de todas as raças, Jesus, despoja-se de seu manto e assume a tarefa do humilde servidor que acolhe os hóspedes do patrão. Lava os pés de seus discípulos. Estes estranham, claro, e pela boca de Pedro esboçam resistência. Compreensivelmente, Jesus reconhece que era difícil para eles entenderem, mas insiste em sua atitude, confiante que, no dia que entenderem, se libertariam e gozarão de verdadeira realização. Quem se acha merecedor do primeiro lugar, instruía, que se coloca no último, na condição de servidor. Na condição de servo, coloca-se dócil à vontade do Pai e deixa-se condenar a cruel e infame tortura, deixando, novamente, perplexos seus seguidores. Afinal, como se explica que aquele Homem tão poderoso, como várias vezes ficou comprovado, permitiu que fosse insultado por vulgares soldados. Não bastassem tantas injúrias, ainda O testemunham interceder por seus algozes e justificar sua ignorância! Se a história terminasse na cruz, esta proposta de serviço seria a mais esdrúxula! Que só podia mesmo terminar no mais fragoroso fracasso! O Servo Sofredor, todavia, ressuscitou! A mais drástica atitude que um ser humano pode adotar contra o semelhante, matá-lo, resultou, neste caso, sem efeito. Inútil! Ao sair vitorioso do túmulo, Jesus confirma a eficácia do caminho do serviço por Ele ensinado e seguido. É pelo despojamento e pelo esquecimento de si que se chega à verdadeira e perene glória. Ao celebrar anualmente a Páscoa, os crentes exaltam a vitória de Jesus e se compenetram que o único caminho capaz de restaurar eficazmente o mundo e regenerar a raça humana é o caminho da humildade, do serviço, do amor fraterno em suma, vivido com, generosidade e desprendimento. Razão plena tem a liturgia cristã ao exaltar a noite da Vigília Pascal como a noite mais feliz e alvissareira do ano! Renasce para o mundo, neste noite, a esperança!

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