
Segurança é comum anseio! Entre as necessidades mais prementes para uma vida digna, destaca-se a urgência da segurança. As constantes e reais ameaças contra a integridade física e patrimonial levam os cidadãos a viver em permanente estado de sobressalto. Qualquer ruído estranho, como qualquer postura ou olhar considerados suspeitos já são motivo para a desconfiança. Não raramente, com intenção de proteger-se, o cidadão age agressivamente, piorando ainda mais a situação de paranóia. Consequência previsível deste estado de pânico é o florescimento da indústria de segurança. Ressalva-se, lamentavelmente, que mesmo com tanta tecnologia a serviço da segurança, o cidadão não vive tranquilo. Ao contrário, anda sob a constante sombra do medo, sinal claro que é preciso mais que tecnologia para o cidadão gozar a tão almejada paz!
As narrativas da ressurreição de Jesus, conforme registradas nos evangelhos, apresentam um dado interessante, que reúne reais condições para assegurar o sonhado sossego. Ao ler com atenção essas narrativas percebe-se que a presença viva do Ressuscitado está intimamente atrelada ao convívio fraterno entre os discípulos. Na versão dos evangelhos sinóticos, o anúncio da ressurreição do Senhor é acompanhado pela ordem de reunir os discípulos novamente na Galiléia. Ali, congregados, poderão encontrar-se com o Senhor! Na versão do evangelista João, o encontro de Jesus ressuscitado com os discípulos se dá no mesmo dia da ressurreição enquanto estão reunidos, a portas fechadas. O evangelista insiste no medo que tomava conta do grupo, medo que dá lugar a alegria com a presença de Jesus. Para reforçar a dimensão comunitária da nova realidade, João acrescenta o episódio de Tomé, que, na hora, se encontrava ausente. Os amigos contam a visita de Jesus, mas ele recusa crer. Exige provas. E a prova lhe é oferecida, oito dias depois, novamente quando o grupo está reunido e desta vez Tomé está junto. A mensagem é por demais clara: viver em comunidade, além de ser uma das consequências primeiras da fé na ressurreição do Senhor ajuda a vencer o medo.
A mesma mensagem é repassada pelo evangelista Lucas, no episódio dos discípulos de Emmaús. Dois discípulos decidem afastar-se de Jerusalém, presumivelmente para retomar seus originais trabalhos. A morte de Jesus, provocou, certamente, a dispersão do grupo. É comum, quando um líder falece, o grupo de seguidores se disperse e se fragmente. No caminho, Jesus se aproxima dos dois e caminha com eles ao longo do dia. Ao chegar ao destino, aceita o convite para com eles sentar-se á mesa e ao repartir o pão é reconhecido. A reação dos dois é inspiradora: voltam imediatamente para o grupo e partilham a novidade! Entendem que o lugar deles é junto com a comunidade dos discípulos!
A vitória de Jesus sobre a morte, sua real presença junto aos seus após a ressurreição fez o grupo compreender que o testemunho maior que devem ao mundo é seu convívio comunitário. O ser humano é naturalmente sociável. Este convívio, contudo, fica muitas vezes conturbado por causa das inúmeras limitações humanas. Valores conflitantes e defeitos de personalidade tumultuam a convivência, tornando-a frequentemente difícil, excludente e, até, repulsiva! São necessários radicais ajustes de personalidade para que se possa viver bem em comunidade! É a proposta e a aposta de Jesus ao insistir no único mandamento do amor fraterno, possível somente para quem se dispõe a esquecer-se de si e renunciar a suas preferências.
Compreende-se o empenho do evangelista Lucas, no livro dos Atos dos Apóstolos, em exaltar o convívio fraterno da primitiva comunidade. Admira-se o grau de fraternidade daquele primeiro grupo de seguidores. E entende-se perfeitamente que a pregação mais eloquente que apresentava, e que acabava atraindo numerosos admiradores e seguidores, era o exemplo de convívio fraterno. Como se amam, costumava-se comentar. Ora, a base do convívio fraterno é o respeito mútuo. Antes de investir em tecnologia para garantir segurança, deve-se aprender a investir no respeito mútuo. Quanto mais sólido o respeito pelo semelhante, menor fica a possibilidade de agressão. É mais um benefício, enorme, que a fé na ressurreição de Jesus proporciona à vida civil. É o peculiar contributo dos cristãos para um convívio pacífico e tranquilo!
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