sábado, 27 de setembro de 2014

VOTO$$

Informação que vem do Tribunal Superior Eleitoral. Trinta e nove milhões de reais (R$39.000.000,00) é a soma que duas empreiteiras estão 'doando' para campanhas políticas. A legislação atual obriga candidatos e partidos a identificarem os doadores de suas campanhas políticas. Este respeitável volume de dinheiro representa o 'investimento patriótico' de apenas duas empreiteiras. Fica-se livre a imaginar a astronômica quantia de dinheiro que se repassa para financiar partidos e candidatos. Essa promiscuidade, que em tempos anteriores permanecia oculta, justifica amplamente o desabafo de um notório magistrado, Marlon Reis: dinheiro compra poder e poder é ferramenta poderosa para se obter dinheiro. No contexto atual, nas eleições vence quem paga mais. As conclusões do ilustre juiz confirmam, muitos dos eleitos estão atrelados a grandes empresas, cujos interesses e lucros defendem e promovem. Compromissos de campanha são demagogia pura. No fim das contas, o que vale não é a ideologia, mas o lucro puro e simples. O cidadão consciente já há tempo desconfia da perversa promiscuidade que pauta a política. Escândalos denunciados e comprovados apenas confirmam a notória realidade dos esquemas. Ingentes somas são desviadas em forma de propinas, pilhagens, licitações fraudulentas, descaradas comissões. Este quadro desalentador que atualmente contextualiza o exercício da política e, que aparentemente remédio não tem, vem fortalecendo perigosa doutrina, a de abster-se de votar ou de anular o voto. É a forma contundente de protesto e de repúdio com que o cidadão cogita externar a forte aversão pela classe política e pelo jeito de fazer política. Mesmo concedendo que amplas são as justificativas para uma tal radical postura, é de se destacar que as consequências negativas ao não votar ou ao anular o voto não são nada desprezíveis. A primeira obvia conclusão é que ao abster-se de votar o cidadão em nada contribui para alavancar o nível ético da política. Incorre-se ainda em uma injustiça, pois equipara todos os políticos como corruptos. Se os exemplos de alguns dos mais notórios homens/mulheres públicos nada são edificantes, é de se conceder que existem, sim, políticos e candidatos honestos, genuinamente bem intencionados. Claro, é preciso realizar diligente pesquisa para identificar esses diferentes políticos, mas o exercício da cidadania não pode reduzir-se apenas ao ato de votar, à época da eleição. Envolve obrigatoriamente o empenho para conhecer, com detalhes, o perfil de candidatos a quem se pretende delegar a representatividade. Como também acompanhar a sua atuação. Neste contexto, emergem os significativos avanços realizados com vistas a moralizar a atividade política. A informática tem sido valiosa ferramenta de auxílio de pesquisa. O próprio TER oferece dados sobre os candidatos. O site do Congresso facilita acompanhar e avaliar a atuação de quem exerce mandato. Registra-se ainda a Lei da Ficha Limpa que começa a barrar candidatos ímprobos de contestar eleições. Outro significativo avanço realizado graças a mobilizações populares é a lei que obriga a publicação do dinheiro doado por empresas e associações em favor de partidos ou políticos. Ainda há uma ação a ser julgada pelo Supremo que impedirá doações em dinheiro para campanhas políticas. Costuma-se comentar que essas legislações, além de demorada execução, são flagrantemente porosas. No entanto, são avanços que a sociedade, consciente e mobilizada, tem conquistado para aprimorar sua ação cidadã e para impor mais decência e responsabilidade no exercício do mandato representativo. Sobressai preciosa conclusão: é pela participação ativa dos cidadãos que se moraliza a política. O caminho ainda é longo. Os obstáculos são muitos, até porque quem legisla são os próprios interessados. Nem por isso deve-se desistir ou desanimar! Recorda-se o impacto positivo que os protestos de junho do ano passado provocaram. Pena que acabaram infiltrados por anarquistas. Mas o saldo foi positivo e encorajador. Sacudiu e mexeu! O poder continua nas mãos do povo. Isso não é demagogia. É realidade! Ao omitir-se, o cidadão deixa livre o caminho para os donos do dinheiro e os tradicionalmente apadrinhados. Torna-se conivente com o jeito promíscuo de fazer política. Os donos do dinheiro nunca se omitem. Nem tiram férias! Ao cidadão cabe reagir, rejeitar, reformular. É com persistência, discernimento e destemidas posturas que se moraliza a política. Atitudes promovem mudanças!

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