sábado, 20 de setembro de 2014

LOURDES

“Não sei o que você pensa, mas tenho certeza que é impossível ficar indiferente”. Foi com esta declaração que o médico Dozous, um cético chamado a observar os acontecimentos em Lourdes, resumiu sua experiência. Uma adolescente, Marie-Bernarde, conhecida como Bernadette, a mais velha entre quatro irmãos da família Soubirous, ao sair para coletar gravetos e assim poder vendê-los para ajudar no orçamento da sua família reduzida à miséria, dizia que uma linda senhora, vestida de branco, com um véu, igualmente branco, a cobrir-lhe a cabeça e usando na cintura uma faixa azul, lhe apareceu. Era o dia 11 de fevereiro,1858. As primeiras reações da jovem são de medo e desconfiança, até porque a mulher nada fala. Apenas sorri. Em sua simplicidade busca água benta na fonte da igreja pensando que, caso a mulher voltasse a aparecer, jogaria nela água benta. Se a visão não fosse por Deus, a mulher certamente sumiria ao ser aspergida. A bela mulher volta a aparecer no seguinte dia 14 e Bernadette a asperge. E a senhora fica, mas mantém-se muda. Somente na terceira visita a mulher fala. Solicita que a jovem lhe fizesse o favor de retornar à gruta para a encontrar por mais quinze vezes. A esta altura, o povo da pequena e pacata Lourdes já está em alvoroço. Curiosos e desconfiados, os moradores acorrem para ver a bela Senhora. Em uma das subseqüentes visitas, a bela dama sugere a Bernadette que fosse beber e lavar-se na fonte que estava ali por perto. Não havia fonte alguma, a não ser o rio Pau que corta a cidade. A jovem, então, começa a cavar com as mãos e um filete de água emerge, fonte que não para de jorrar. Poucos dias depois, no começo do mês de março, uma senhora Catherine Latapie, que sofria de paralisia no braço, arrisca enfiar o braço doente na fonte e fica curada! Espanto, medo, admiração e curiosidade se avolumam a ponto das autoridades locais julgarem oportuno fechar a entrada da gruta. Nem Bernadette a ela tinha acesso. O delegado do local interroga por horas a jovem. Seu depoimento impressiona pela simplicidade e coerência. O pároco local, Pe. Peyremale, a quem Bernadette leva o pedido da mulher para construir uma capela, próximo à gruta onde as pessoas pudessem orar, começa a perder a paciência com a jovem e a insta a pedir à mulher seu nome. A jovem, então, cria coragem e pede que a mulher se identificasse. Era o dia 25 de março. A Senhora de branco com a faixa azul revela sua identidade no dialeto local, o único conhecido por Bernadette, que não sabia ler nem escrever: Sou a Imaculada Conceição. A jovem corre e revela o anunciado ao pároco que assustado interroga a jovem se compreendia o que aquilo significava. Trêmula, a jovem responde que não. Poucos anos antes, em 1854, o Papa Pio IX tinha proclamado como dogma de Fé católica a concepção sem pecado original da Virgem Maria. O severo pároco se rende e reconhece; o que o povo estava afirmando é verdade: a Virgem Maria, mãe de Jesus, estava aparecendo em Lourdes, sua paróquia, a uma jovem simples e analfabeta. Assombrado recorre ao Bispo da região, Mons Laurence, que acompanhado de outros clérigos, interroga longamente a jovem. Convencido da coerência do depoimento da jovem, o Bispo declara autênticas as aparições e aprova o culto à Virgem na gruta. Neste ínterim, o Dr.Dozous é requisitado a avaliar a situação. Acompanha atentamente o comportamento da jovem. Numa ocasião, repara como ela segurava uma vela acesa. Absorta em oração, nem se dá conta que a chama está para queimar-lhe os dedos. Terminada a oração, o médico examina a mão da jovem e não constata nenhum ferimento. Para certificar-se solicita outra vela, a acende e a aproxima da mão da menina. Ela se recolhe acusando a queimadura. Seu depoimento, registrado e autenticado, encontra-se exposto no museu de Bernadette. Explicar não sabia, mas não podia negar que algo além do normal estava acontecendo naquela gruta e com aquela menina. Centenas de milhares de peregrinos visitam anualmente a gruta de Lourdes. Com variadas aspirações, evidente. Ao observar o constante vai e vem de doentes, voluntários, peregrinos e curiosos o testemunho do Dr. Dozous naturalmente se impõe: não há explicação racional, mas o semblante das pessoas demonstra confiança e irradia alegria e gratidão pelo simples fato de estarem ali e poderem tocar a rocha onde a Senhora vestida de branco com a faixa azul pousou seus pés!

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