sábado, 4 de outubro de 2014

MODOS

O futebol ocasionou, num recente final de semana, duas preciosas e ilustrativas situações. Enquanto no Brasil, com a intenção de prevenir atos de vandalismo e agressão entre torcidas rivais num clássico tradicional, a administração de um novo estádio de futebol decidiu retirar as cadeiras das arquibancadas, na Inglaterra no jogo entre Manchester City e Chelsea, dois times igualmente rivais, a torcida do Chelsea aplaudiu de pé, no final do jogo, o jogador Lampard. Para quem não está familiarizado com o futebol inglês, Lampard, hoje, é jogador do Manchester City, mas durante anos foi um dos principais atletas do Chelsea. Neste jogo particular, Lampard marcou o gol que tirou a vitória do Chelsea. A torcida londrina, reconhecendo as excelentes atuações do jogador enquanto profissional do Chelsea, ao final do jogo, não somente poupou o jogador de ofensas e insultos, mas o aplaudiu de pé. Lampard reconheceu o belo gesto esportivo e, visivelmente emocionado, foi também cumprimentar sua antiga torcida! Que contraste! O Brasil é um país tecnologicamente avançado, mas atrasado no quesito comportamento! O descompasso entre as conquistas tecnológicas ao alcance de um bom número de cidadãos e a educação em boa conduta é abissal. O cidadão sabe manusear intricada parafernália tecnológica, mas não sabe se comportar civilizadamente. E não somente no esporte, não. Em outros ambientes sociais, a falta de postura, de respeito, de educação em suma, é, igualmente, evidente. Em ambientes religiosos, inclusive. É comum observar em cerimônias de casamento, madrinhas em trajes flagrantemente incompatíveis com o ambiente religioso. É comum ver crianças se comportando de maneira imprópria durante celebrações religiosas. Chega-se até a levar lanches para igreja, supostamente para manter os pequenos distraídos ou comportados! Espanta-se como o código de boas maneiras anda esquecido. Ou seria mais apropriado dizer, aposentado? Os ambientes estão nivelados por baixo. O que vale para um ambiente, serve igualmente para os demais lugares. O traje de baile que vale também para o ato religioso. A descontração da sala de estar da casa vale para o banco da igreja! Falta, evidente, sensibilidade. Desconfiómetro, como se diz no popular. Falta instrução! Faltam pais que ensinam! O fenômeno de omissão ou de descaso neste quesito é generalizado. Em parte, devido ao despreparo dos agentes de instrução, particularmente da família. Geram-se filhos, mas não se tem noção do alcance e das exigências da educação. Tanto é verdade que é comum delegar sua formação e educação a terceiros. É verdade que as exigências modernas impõem sobre os pais duras jornadas de trabalho, estresse constante, mas isso não é justificativa para tanta complacência e tanta incúria. Espalha-se a doutrina que é preferível calar-se, deixar as crianças à vontade, pois ao corrigir pode-se causar nelas traumas ou reprimir suscetibilidades. Esclareça-se, corrigir e orientar não significa berrar e insultar. Significa mostrar e estabelecer valores. E, ato contínuo, enfatizar que se vive em sociedade, onde pessoas outras merecem ser respeitadas em sua dignidade e liberdade. Viver em sociedade exige aceitar limites. Aprender a renunciar integra o processo formador. Não se deve ter nenhum receio em dizer 'não' quando assim a situação exige. Agir com firmeza não é o mesmo que agir com estupidez ou com brutalidade. É ser coerente e estar preparado a não dobrar-se diante de manhas e chantagens. É preciso aprender a discernir o que é certo e compatível com as diversas situações em que se vive. Ensinar valores e respeito não inibe, ao contrário, faz desabrochar a intrínseca distinção de cada pessoa. Educar é um trabalho árduo, exigente, constante. Requer repetidas revisões e ajustes, afinal a vida é dinâmica. Requer, acima de tudo, disciplina e respeito. Os torcedores do Chelsea não estavam nada satisfeitos com o gol marcado por Lampard. No entanto, souberam sobrepor ao contragosto o respeito pelo profissional e a gratidão pelas inúmeras alegrias que o atleta já lhes havia proporcionado em anos anteriores. Formidável exemplo, que apenas comprova os imensos benefícios de uma educação fundada em valores e respeito, uma formação que ao moldar comportamentos e disciplinar hábitos distende o convívio social!

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