
Ato exclusivamente humano é celebrar! Atitude intrinsecamente positiva e bonita é querer partilhar sentimentos e emoções. É inerente à condição humana comunicar-se. O instintivo hábito de compartilhar experiências e sentimentos explica essa peculiar prerrogativa do ser humano, o gosto, a satisfação, a necessidade de celebrar. Somente o ser humano celebra suas efemérides. Animais não celebram. Compartilhar, portanto, é qualidade distintiva da identidade humana.
Com o advento da tecnologia digital ficou mais fácil as pessoas compartilharem entre si sentimentos e emoções. As modernas ferramentas disponíveis favorecem sobremaneira esta vocação comunicativa, reduzindo drasticamente tempo e distância. Este formidável avanço, universalmente acessível, agilizou, sem dúvida, a comunicação entre as pessoas. Paradoxalmente, a facilidade e a praticidade no uso dessa tecnologia começam a criar situações embaraçosas e preocupantes. É comum ver pessoas tão absortas em seus aparelhinhos portáteis que, mesmo estando em lugares públicos, ignoram completamente vizinhos mais próximos, desinteressados que estão pelo que acontece em volta. A ferramenta que, em tese, foi pensada para aproximar pessoas começa a levantar barreiras entre vizinhos! Esta fissura na digitalização instantânea está levando as pessoas a perderem noção da realidade. Prioridade absoluta passou a ser manter-se conectado em tempo real! E por conta desta obsessão o cidadão está perdendo a noção de espaço e de civilidade. Não há, convenhamos, nada mais desagradável que estar na companhia de amigos que, no entanto, se entretêm mais com seus aparelhinhos que com a conversa dos presentes. Fala-se, passam-se mensagens e fotos em qualquer situação, a qualquer hora, em qualquer ambiente. Se vê gente digitando ao volante enquanto dirigem. Durante celebrações religiosas, inclusive! O cúmulo do desrespeito! E na maioria das vezes, trata-se de assuntos fúteis. Francamente, nenhuma urgência justifica tamanha irresponsabilidade.
Este tipo de descontrole é claro indício que algo vai mal com o ser humano. Ilusão pensar que a tecnologia de comunicação está contribuindo para socializar o cidadão. Curiosa realidade emerge ao se observar com atenção a conduta das pessoas; uma ferramenta cujo prudente uso se prestaria sobremaneira para aproximar cidadãos, não importa onde se encontram, está denunciando um crescente isolamento. A autoestima em baixa, que aponta para uma aguda carência afetiva, aliada à ausência de um consistente projeto de vida levam as pessoas a sentirem-se seguras somente entre suas ‘tribos’. Temores e receios, desconfianças e preconceitos estão induzindo as pessoas a encolherem-se, criando barreiras a impedir novos convívios e alargar fronteiras reais de amizades. Ao isolar-se em seu particular aparelho, o cidadão ostensivamente se blinda. Esta restrita afinidade apresenta como consequência palpável o descaso para com o vizinho ocasional e o pouco caso por ambientes e horários. E como consequência latente, denuncia uma desmedida superficialidade. Não é a ferramenta que não presta, é o seu uso irracional. Na suposta necessidade de manter-se conectado está se perdendo a noção da individualidade e da privacidade, tanto própria quanto do outro. A falta de critério no uso desses aparelhos, favorecida evidente pela sua popular disseminação, acentua a insana agitação que toma conta do ritmo moderno e, ao mesmo tempo, incrementa a vulgarização de assuntos. Não é toda informação que merece ser comentada instantaneamente. Nem, em tese, o destinatário estaria sempre disponível para atender os caprichos do comunicador. Nada disso é relevante, diante da obsessão de manter-se conectado.
Comunicar-se é preciso. Compartilhar sentimentos e emoções, impulso inerente à condição enobrece amizades e estimula convívios. A moderna tecnologia proporciona meios formidáveis para agilizar e facilitar compartilhamentos. Para fomentar convívios, portanto! E avivar celebrações em contexto real! Deixar de usar esses novos recursos é evidente sinal de descompasso com a realidade. Deixar-se enfeitiçar e ser dominado por elas representa, por outro lado, inadmissível escravidão, deplorável desumanização. Festejemos os avanços tecnológicos, usemos as ferramentas disponíveis para compartilhar emoções e sentimentos em vista de uma celebração real da vida e do convívio amigo!
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