
Costume antigo. Forças-tarefas preparam a chegada de dignitários! Este hábito remonta ao tempo do império romano. Toda vez que o imperador estava por passar por alguma região, um pelotão de oficiais era designado para preparar a passagem do ilustre comandante. Como os imperadores romanos se consideravam divindades, a acolhida - o advento - tinha que ser digna de um deus! O cristianismo, ainda na clandestinidade, suportava esses ritos pagãos. Ao sair da clandestinidade e reconhecendo a incompatibilidade de conviver com hábitos profanos, o cristianismo tratou de adaptar os costumes do império aos ritos da fé. Dessa forma, transformou os festejos do solstício do inverno na celebração do nascimento de Jesus! Os pagãos celebravam o nascimento do deus sol que, terminado o outono, iniciava sua jornada luminosa. Para os cristãos, a luz verdadeira que sempre brilha é Jesus Cristo. Assim, aproveitavam os feriados do solstício para celebrar o nascimento de Jesus. Ora, se os romanos preparavam a chegada de seus imperadores, deuses fajutos na concepção cristã, por que não preparar também a chegada do verdadeiro Deus, Jesus Cristo, feito homem? Nasce, assim, o tempo litúrgico do Advento, cujo foco é preparar a vinda do Salvador. Enquanto os romanos se preocupavam apenas em destacar e bajular o imperador e suas espetaculares conquistas, a mística do Advento cristão se ocupa com a preparação espiritual do fiel. Afinal, a passagem do Redentor só encontra sentido se Ele for acolhido na vida do discípulo. Pouco resolve destacar a excelência do Príncipe da Paz se, na realidade, Ele não encontra abrigo no coração do crente.
O clima místico do Advento é, compreensivelmente, pontuado com o apelo à vigilância. Ao motivar o cristão a permanecer de olhos abertos ante a chegada do Messias, a liturgia pretende induzir o fiel a reconhecer a natural incapacidade de compreender suficientemente os atos divinos. Inadmissível é a pretensão de quem imagina absorver os atos divinos. As iniciativas divinas são sempre muito superiores à capacidade cognitiva do ser humano. Diante deles cabe à mente humana a disposição humilde de contemplar. Ao reconhecer que nunca será capaz de assimilar plenamente as iniciativas divinas, a mente humana permanece alerta a novas intuições. Muitos, infelizmente, se satisfazem apenas com o enredo, estacionam na narrativa do nascimento. Ao imaginar que já conhecem tudo, se desinteressam em celebrá-lo com a devida propriedade. Perdem a reverência e a admiração. Deixam de contemplar. O nascimento de Jesus sai do contexto de mistério e passa a efeméride, simples data do calendário.
Emerge, então, a dimensão prática do apelo para vigilância. Se o vigilante cochilar, o risco da invasão aumenta consideravelmente. O próprio Jesus recorre a analogia, ao alertar sob o risco de ter a casa invadida por ladrões, caso o vigilante se entregue ao sono. A advertência vale igualmente para o campo espiritual. Se o fiel afrouxa a reverência e a contemplação começa a passar por sérios riscos de ver enfraquecida sua vivência religiosa. Outros valores, à semelhança de um ladrão esperto que se aproveita do descuido, invadem silenciosamente a alma e a limpam de suas espirituais riquezas. A advertência não é meramente retórica. Nem ritualmente rotineira. É real. E pode ser conferida pelo atual clima do Natal. As imagens religiosas do presépio, de menino Jesus, estão sendo substituídos por outros 'idolos', tipo Papai Noel, duendes, ceias fartas. A celebração religiosa perdeu espaço para a ceia natalina, descaracterizando por completo a sua singularidade. Cochila a família cristã ao aceitar resignadamente a invasão de valores profanos. Dorme a comunidade cristã ao resignar-se perante as imposições da laica sociedade moderna. O ladrão está sorrateiramente levando embora riquezas espirituais e a comunidade de fé nem está se dando conta! Ao contrário, justifica o cochilo!
Jesus Cristo, o único e verdadeiro Salvador da humanidade, está chegando. Ele vem para salvar! E como a humanidade precisa deste Salvador! Está na hora de despertar do sono. Está na hora de abrir os olhos, fazer detida varredura, expulsar as nocivas intromissões e recuperar as verdadeiras riquezas. À semelhança do diligente vigilante, enorme será a satisfação e gratificante a recompensa quando, ao passar, o Redentor encontra seus discípulos acordados, com lâmpadas acesas!
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