sábado, 17 de janeiro de 2015

FRATERNIDADE E DIGNIDADE HUMANA (II)

FRATERNIDADE E A DIGNIDADE HUMANA (II) Por ocasião do Dia da Confraternização Universal, dia 1º de janeiro, o Papa costuma propor uma reflexão para qualificar a celebração da data. O Papa Francisco escolheu como tema da sua mensagem para este ano "a Fraternidade e a Dignidade Humana". No domingo anterior apresentei a primeira seleção de trechos desta mensagem. Reproduzo outros trechos que merecem destaque e reflexão. “Desde tempos imemoriais, as diferentes sociedades humanas conhecem o fenômeno da sujeição do homem pelo homem. Hoje, na sequência de uma evolução positiva da consciência da humanidade, a escravatura – delito de lesa humanidade – foi formalmente abolida do mundo. Contudo, ainda hoje milhões de pessoas – crianças, homens, mulheres de todas as idades – são privadas da liberdade e constrangidas a viver em condições semelhantes às da escravatura. Penso em trabalhadores e trabalhadoras: penso nas condições de vida de muitos migrantes: penso em tantos que ficam detidos em condições às vezes desumanas: penso em tantos deles que são impelidos a passar à clandestinidade: sim, penso no trabalho escravo: penso nas pessoas obrigadas a prostituírem-se, nas mulheres forçadas a casar-se: penso em quantos, menores e adultos, feitos objeto de tráfico e comercialização para remoção de órgãos... para servir de pedintes... recrutados para atividades ilegais como a produção e venda de drogas: penso, enfim, em todos aqueles que são raptados e mantidos em cativeiro por grupos terroristas. Na raiz da escravatura está uma concepção da pessoa humana que admite a possibilidade de a tratar como objeto. Juntamente com esta causa ontológica – a rejeição da humanidade no outro – há outras causas que concorrem para se explicar as formas atuais da escravatura. Entre elas, penso em primeiro lugar na pobreza, no subdesenvolvimento e na exclusão, especialmente quando os três se aliam com a falta de acesso à educação ou com uma realidade caracterizada por escassas, se não mesmo, inexistentes, oportunidades de emprego. Deve-se incluir também entre as causas da escravatura, a corrupção daqueles que, para enriquecer, estão dispostos a tudo. Isto acontece quando, no centro de um sistema econômico, está o deus dinheiro, e não o homem, a pessoa humana. Quando a pessoa é deslocada e chega o deus dinheiro, dá-se esta inversão de valores. Quando se observa o fenômeno do comércio de pessoas, do tráfico ilegal de migrantes e de outras faces conhecidas e desconhecidas da escravidão, fica-se com a impressão de que o mesmo tem lugar no meio da indiferença geral. Faz falta um tríplice empenho a nível institucional: prevenção, proteção das vítimas e ação judicial contra os responsáveis.Além disso, assim como as organizações criminosas usam redes globais para alcançar seus objetivos, assim também a ação para vencer este fenômeno requer um esforço comum e igualmente global por parte dos diferentes atores que compõem a sociedade. São necessárias leis justas, centradas na pessoa humana, que defendam os seus direitos fundamentais e, se violados, os recuperem reabilitando quem é vítima e assegurando a sua incolumidade. É preciso ainda que seja reconhecido o papel da mulher na sociedade, intervindo também no plano cultural e da comunicação para se obter os resultados esperados. Na sua atividade de ‘proclamação da verdade do amor de Cristo na sociedade’ a Igreja não cessa de se empenhar em ações de caráter caritativo guiada pela verdade sobre o homem. Nesta perspectiva, convido a cada um a realizar gestos de fraternidade a bem de quantos são mantidos em estado de servidão. Perguntamo-nos: quando temos de comprar, se escolhemos produtos que poderiam razoavelmente resultar da exploração de outras pessoas: se no dia-a-dia praticamos pequenos gestos como dirigir uma palavra ou oferecer um sorriso, gestos que nada custam, mas podem mudar a vida de uma pessoa. Lanço um veemente apelo aos ocupantes dos mais altos níveis das instituições para que não se tornem cúmplices do mal da escravidão. A globalização da indiferença, que hoje pesa sobre a vida de tantas irmãs e de tantos irmãos, requer de todos nós que nos façamos artífices de uma globalização da solidariedade e da fraternidade”.

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