sábado, 31 de janeiro de 2015

GLÓRIA A DEUS !

Ao blasfemo a morte! As mais recentes e notórias vítimas foram os chargistas do satírico Charlie Hebdo e outros cidadãos inocentes que acidentalmente se encontravam em sua órbita e nem blasfemos eram, pelo menos publicamente! Em outras épocas, ofensas contra a divindade ou mesmo a recusa de crer no sobrenatural era considerado, pelos cristãos, crime capital. Para preservar a honra de Deus, pasme-se, clérigos cristãos mandaram queimar e enforcar muita gente. Esta desautorizada defesa do sagrado mancha indelevelmente a benemérita história do cristianismo. Como mancha também a não menos bela história do islamismo. Segundo os catecismos, a blasfêmia representa uma ofensa contra a divindade. O segundo mandamento da lei de Deus orienta honrar o nome de Deus e veta pronunciá-lo em vão. Desrespeitar este mandamento constitui falha grave, rompe a comunhão com o sobrenatural. Ora, quando se olha a Bíblia - e o Alcorão - na totalidade da sua mensagem, isto é, sem pinçar frases e os interpretar fora de contexto, há de se reparar como todo pecado é passível de perdão. A postura de Deus diante da rebeldia humana é de perdão e não de condenação. A prova maior da imensa compaixão divina é a própria pessoa de Jesus Cristo, que carregou sobre si os pecados da humanidade. Na forte e feliz expressão do apóstolo, havia uma conta a ser paga e Jesus a pagou na cruz! A mesma linha de pensamento é seguida pelo Alcorão. O sagrado livro muçulmano, ao referir-se a pessoas que ultrajam o nome de Deus, orienta o fiel a manter-se distante deles. Não pede que as mate. Nem o Deus da Bíblia nem o Allah do Alcorão mandam matar infiéis. Eliminar pecadores em nome de Deus (ou de Allah) representa não somente um absurdo abuso como também uma flagrante afronta à explícita vontade divina. Matar para vingar a santidade divina representa a mais descabida distorção da religião. Tanto no cristianismo medieval como no islamismo, a aplicação da pena capital aos hereges e blasfemadores encontra sua origem em critérios puramente políticos. Os regentes necessitavam de motivos para justificar a eliminação de adversários. Obviamente, quem enfrentava os governantes, criticava as práticas religiosas por eles patrocinadas. Elaborou-se, então, uma jurisprudência, com a conivência dos clérigos, que tornava toda ofensa contra a religião um crime de lesa pátria. Abriu-se uma avenida para os mais ultrajantes abusos. Felizmente, o cristianismo, tanto católico, como ortodoxo e protestante, acordou e se afastou da nefasta leitura. Com toda propriedade reconhece, hoje, seu grave erro e pede perdão. Infelizmente, alguns setores do Islamismo, ao persistirem nesta leitura fundamentalista, continuam provocando e justificando carnificinas. Ao recorrer ao terror exploram com perversão o sentimento do medo. Ao usar o terror para semear pânico, fazer chantagens e angariar dinheiro, fazem um tremendo desserviço à causa religiosa. Importa insistir que religiosos islâmicos, zelosos na defesa da pureza da religião, não somente condenam esta leitura, como aplicam-se em desautorizá-la. Muitas dessas injunções disciplinares resultam de interpretações humanas, feitas para justificar a imposição de um código de comportamento atrelado a uma visão oportunista da religião. De todo modo, fica-se comprovado o gravíssimo perigo que existe quando se manipula a religião para fins particulares, especialmente para fins políticos. Decreta-se a morte de uma religião, quando se decide manipulá-la para conseguir poder, seja político seja mesmo religioso e dele se apropriar. Resquícios desta infeliz mania de instrumentalizar a religião para fins ideológicos podem ser observados na obsessão de taxar como pecado qualquer banal diversão. A maior blasfêmia que se pode cometer contra o Deus da vida é justamente por vidas em perigo. A leitura abrangente da Bíblia revela que Deus nunca se preocupou exclusivamente consigo. Nenhuma afronta, por mais atrevida ou escandalosa, O atinge ou diminui sua santidade! A preocupação maior do Criador é com o ser humano, a quem deseja ver vivendo em plenitude, plenitude de paz, plenitude de prosperidade. Se se quiser poupar Deus de blasfêmias e afrontas, portanto, basta respeitar a dignidade de todo ser humano. Deus é glorificado quando, por amor a Ele, se empenhe para resgatar e preservar vidas!

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