sábado, 24 de janeiro de 2015

PROFÉTICA RESPOSTA

Absurda estratégia! O bárbaro ataque contra os chargistas do hebdomadário satírico francês reacendeu o alerta acerca da permanente ameaça do terrorismo e desencadeou uma série de comentários analisando a assassina estratégia sob as mais variadas perspectivas. O motivo religioso-politico supostamente por trás do insano ataque concentrou compreensivelmente os comentários sobre o grave perigo do fundamentalismo religioso. Muitos autores, ao denunciar o grave e real perigo presente na pretensão de impor sobre a sociedade uma visão dogmática e unilateral, voltaram a enaltecer os méritos do laicismo. Nesta visão filosófica, a religião fica completamente desqualificada e hostiliza-se com veemência qualquer tentativa de orientar a vida social a partir de princípios religiosos. Como se a religião fosse estorvo, com nada de positivo a contribuir para uma vida social digna e decente. Distingue-se laicismo de laicidade. Esta é outra linha de pensamento político que defende a independência do Estado da religião. Na teoria laica, o Estado gere sua vida sem a tutela de qualquer confissão religiosa. Esta tese, hoje abraçada pela maioria dos países, garante a independência tanto do Estado como das religiões. Garante, inclusive, a liberdade religiosa, facultando a cada segmento social a possibilidade de seguir e manifestar de forma pública e ordeira suas convicções. No regime teocrático, o Estado fica tutelado por dogmas religiosos. É o que pretendem alguns movimentos de origem islâmica. Querem impor sobre os cidadãos, recorrendo geralmente à força bruta e ao terrorismo psicológico, dogmas e costumes próprios à religião. Insiste-se em afirmar que não é o islamismo que é assim, mas apenas os adeptos de uma leitura fundamentalista. Na realidade, este tipo de regime nada tem de novo. O cristianismo o praticou durante a idade média. E, numa versão mais recente, o comunismo pretendeu implantá-lo na Rússia e em países satélites. Ambas as experiências fracassaram ruidosamente, pelo simples e bom motivo que a liberdade é predicado transcendental, muito prezado pelo ser humano. Nenhum regime de força é capaz de anular o anseio profundo de liberdade. É justamente este apreço pela liberdade que sacudiu o mundo diante do bárbaro ataque. Ao protestar contra a estúpida violência, as pessoas não estavam necessariamente endossando o que é publicado no semanário, mas o espaço para fazê-lo. A possibilidade de ver-se cerceado em sua liberdade impulsiona o Homem a reagir com veemência. Não aceita imposições despóticas e unilaterais. Este foi, basicamente, o motivo que reuniu milhões de pessoas em Paris e em outras cidades pelo mundo. Cidadãos do mundo inteiro fizeram questão de manifestar repúdio não contra uma religião, mas contra a intolerância que poda liberdades. A manifestação em Paris representa um formidável gesto de maturidade. A bem pensar, foi a mais contundente condenação à barbárie e à intolerância. Ao não clamar por vingança. Ao não esconjurar o islamismo, o mundo civilizado testemunhou que a receita para um convívio pacífico e harmonioso entre diferentes não pode se apoiar no terror e nem na eliminação de adversários, mas no respeito e na tolerância. É dar ao outro o direito de pensar diferente sem sentir-se ameaçado. Claro, tolerância não significa deixar impune agressões e transgressões. Convívio civilizado exige respeito às leis e cabe ao Estado vigiar para que normas fossem observadas por todos, indistintamente. A mesma tolerância impõe prudência e discernimento ao externar opiniões. Respeitar alheios sentimentos, não extrapolar na dosagem da zombaria também integram o conjunto da legítima liberdade. Possuir a capacidade de autocensurar-se é sinal inegável de centrada maturidade. Responsável liberdade recomenda que, embora tudo fosse permitido, nem tudo é aconselhável! Mesmo fazendo piada, é preciso saber respeitar sentimentos e suscetibilidades! Insano e bárbaro foi o ataque contra os editores do jornal francês. Injustificável! Formidável e profética foi a resposta do mundo civilizado. Contra absurda selvageria a melhor estratégia é sempre a decidida e serena reafirmação de valores. É pelo bem que se derrota o mal! Respeito é bom e educativo. Que a lição seja seguida e aplicada em quaisquer situações de conflito!

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