
RÉVEILLON
Todo Homem nasce bom! Sendo intrinsecamente bom o ser humano conserva esta condição. A bondade é indelével! Nenhuma circunstância é capaz de apagar por completo a semente de bondade. Afirmativa intrigante e compreensivelmente contestada, especialmente diante das constantes barbaridades praticadas. Onde encontrar bondade no sujeito que mata friamente e em série? Onde está a bondade no terrorista que faz da decapitação fria do refém um espetáculo macabro com o intuito de chamar atenção para sua causa política ou religiosa? A lista de atrocidades e abusos, infelizmente, não para de crescer e o ser humano parece fazer questão de mostrar-se cada vez mais cruel e irracional! Diante deste desfile de horrores fica, aparentemente, difícil defender a tese da intrínseca bondade de cada ser humano. A reação impulsiva induz a classificar certos cidadãos como piores que bichos. Bichos não torturam companheiros de espécie. Nem matam por prazer! A compreensível repulsa tende a justificar o descaso com que são tratados certos criminosos. É alegada também para justificar linchamentos e a formação de grupos de extermínio. Tudo fica permitido quando um ser humano é visto como bicho!
A pessoa de fé apóia-se na revelação bíblica ao propagar que todo ser humano é intrinsecamente bom e nenhum pecado o faz perder esta preciosa qualidade. Atesta a revelação que o Homem é criado à imagem e semelhança de Deus. Pela fé, reconhece-se que cada ser humano carrega em si a imagem e semelhança da bondade infinita de Deus. Esta marca é indelével. O ser humano pode aprontar o que quiser, pode cair nos mais abjetos desvios. Jamais, porém, deixará de ser imagem e semelhança divina. Pela fé se reconhece que por mais deteriorada que esta imagem seja, sempre será possível recuperá-la! Esta é uma das mais alentadoras mensagens que o mistério da Encarnação transmite. Jesus encarnou-se porque acredita no ser humano! Esta abordagem otimista torna ainda mais aguda a triste realidade: o que leva o ser humano a corromper esta bondade original, a deturpá-la com tamanha intensidade a ponto de assemelhar-se mais a um ser irracional que a um ser intrinsecamente bom?
Envolver-se em explicações pode ser acadêmica e terapeuticamente interessante. E certamente são muitos os estudos que analisam e explicam os graves desvios de comportamento. O foco, todavia, permanece na defesa da bondade intrínseca do ser humano. Se mesmo quem aceita a revelação divina encontra dificuldades para digerir e pautar-se por esta verdade, que dirá quem desconsidere a intervenção sobrenatural? A experiência humana comprova que a maldade sempre gera mais maldades, crueldade mais crueldades. Partindo, pois, do pragmático interesse de reduzir o número e o grau de brutalidades, conclui-se que a flexão para baixo na curva da maldade só vai se verificar a partir da decisão de tratar o ser humano reconhecendo e respeitando sua intrínseca bondade, independentemente da situação em que se encontra. Embora coerente, a decisão de incondicionalmente tratar bem o semelhante esbarra, claro, na dificuldade prática de executá-la. Como tratar bem um facínora? São inúmeras as objeções que justificam a resistência. A mais eloquente é o fato de a recuperação ser sempre lenta, quase imperceptível. Prefere-se, então, a agressividade da extirpação ao cuidado com a correção. É a mentalidade que precisa ser mudada. Repressão e punição isoladas não diminuem o índice de criminalidade. Se a aspiração para um mundo sem maldade for sincera, é preciso que se mude de estratégia! E mudança de estratégia pressupõe mudança de princípios. Avanços duradouros exigem paciência, convicção e persistência. Entendimento o ser humano possui. O que lhe falta é a legitima paciência, fruto de discernimento profundo. Está comprovado, o bem nasce de outro bem! Confirma-se uma das mais antigas e universais regras de comportamento, conhecida justamente como a regra de ouro: dar aos outros o mesmo tratamento que se espera deles receber. Regra esta que o próprio Jesus Cristo não somente solenemente chancelou no Sermão de Montanha, como também ousou dizer que no seu cumprimento se resume toda a revelação divina.
Réveillon lembra o despertar. Auspicioso será o ano que começa se cada cidadão despertasse para a magnifica realidade da inerente bondade presente no semelhante. E agisse de acordo!
FELIZ ANO NOVO!
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