sábado, 25 de abril de 2015

FILIAÇÃO

Próprio é ao ser humano fazer parte de uma família. Usa-se o termo família em sentido abrangente de comunidade, agrupamento de pessoas com predicados afins. Reconhece-se um denominador comum presente em toda concepção de família: o elemento 'pertencer', 'identificar-se', destacando aquela qualidade peculiar capaz de associar pessoas sob uma única bandeira! O denominador comum pode ser de natureza consanguínea, profissional, artística, religiosa, terapêutica, lúdica e etc. Fato é que o ser humano, naturalmente gregário, sempre se identifica com algum grupo. Fazer parte de uma família é constitutivo do ser humano. Dá segurança. Confere identidade! Consequentemente, é sempre motivo de sério e perigoso distúrbio quando um sujeito se isola, recusando-se a fazer parte de uma família. Incorre-se em uma mutilação agressiva, traumática, com graves consequências pessoais e sociais. Ao isolar-se, o sujeito fica especialmente vulnerável e priva a agremiação à qual deveria pertencer da sua peculiar contribuição. Em algumas situações, pertencer a uma família garante evidência. Chama atenção. Dá status. Repara-se nos modismos que costumam marcar estilos de conduta entre cidadãos. Hoje, tatuar o corpo representa um desses modismos, uma febre cultural. O sujeito que não exibe nenhuma tatuagem se considera, ou é tachado, fora de moda. Por outro lado, o exagero de tatuagens, como também a discutível falta de gosto nos desenhos, acenam para uma acentuada carência de autoestima. O sujeito parece querer se impor no grupo pela agressividade da linguagem. Claro, fica sempre reservado o direito de alguém achar bonito tatuar-se, independente da moda! O ponto em destaque permanece a necessidade instintiva de identificar-se com um determinado grupo. Ilustrativo e interessante é observar a aplicação dessa realidade ao quesito religião. De um lado, repara-se a tendência do sujeito fazer questão de alardear estar filiado a esta ou àquela denominação religiosa, particularmente quando a tal família está mais em evidência.Empolgado, nosso amigo se esforça, não raramente de forma inoportuna ou inconveniente, para impor sobre os outros suas novas opções. Confissão religiosa também padece de modismos. Por outro lado, dissemina-se a mentalidade de considerar a religião assunto estritamente privado. O que se foca nesta observação não é a decisão de crer ou não numa divindade ou de pertencer a um grupo religioso. É evidente que este é assunto de estrito foro íntimo. O que se destaca é a crescente tendência de desvincular-se do convívio comunitário. Afirma-se pertencer a uma determinada confissão, mas decide-se levar a vida e a prática religiosa segundo critérios pessoais, ignorando e dispensando a dimensão comunitária. Uma filiação pro forma, convencional. Na prática, o individuo vive um isolamento religioso sério e perigoso. Imagina poder seguir, isolado, o caminho da fé! A família religiosa que, em tese, está para servir de apoio e proteção, passa a ser considerada estorvo. Suas orientações e recomendações que pretendem preservar a saúde do grupo e garantir a identidade e a unidade dos filiados são classificadas como indevidas imposições e arbitrárias intromissões. Todo convívio comunitário promove, mas também enquadra. Sem regras qualquer associação se desmantela. Ignorar esta elementar premissa ou desqualificar esta verdade representa temerária obsessão ou acena arrogante presunção. Pretensão descabida é querer que, para não melindrar, a comunidade religiosa abdique de seus princípios, quando o lógico seria o sujeito adequar-se ás normas da família. Reflexo outro desta mentalidade ambígua e individualista é a migração de uma comunidade para a outra. Inclusive dentro de uma mesma confissão religiosa, como se o que está errado em uma passa a ser permitido em outra! Participar de uma comunidade é sinal de amadurecimento e claro discernimento. De seriedade de propósito. Distanciar-se do convívio comunitário resulta normalmente numa filiação superficial e descomprometida. Sem uma comunidade fixa não há identificação nem a prazerosa e satisfatória sensação de pertença. Ao considerar-se integrante de uma família e por ela sentir-se responsável, o filiado percebe que os benefícios e vantagens do convívio são bem mais compensatórios que as pontuais limitações e transitórios desconfortos.

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