sábado, 18 de abril de 2015

PASSOS FIRMES

Conselheiro temerário é o medo! O medo bloqueia o raciocínio, privando a pessoa de uma analise serena das circunstâncias. E, consequentemente, limita drasticamente a adoção de medidas e estratégias objetivamente saneadoras. Foi esta a situação vivida pelo primeiro grupo de discípulos logo após a morte do Mestre Jesus. Dominados pelo medo, escolheram trancar-se e esconder-se. A nota do evangelista destacando as portas fechadas é de uma pedagogia inspiradora. Impossível não fazer um paralelo com as primeiras páginas da Bíblia. Os primeiros pais, cientes de seu pecado e tomados de medo, também tentaram, inutilmente, esconder-se. Ensinam os teólogos que o medo é o sentimento que torna mais evidente a desordem provocada pela rebeldia contra Deus. A narrativa do evangelista João a respeito da experiência vivida por aquele pequeno grupo, do qual ele mesmo fez parte, é de uma preciosidade catequética formidável. O detalhe de portas fechadas é de inspiradora provocação. Como também de um perene e fecundo anúncio profético. Trancas e ferrolhos não foram suficientes para impedir a visita de Jesus na tarde daquele memorável primeiro dia da semana. A reação primeira do grupo, compreensível, foi de espanto, imaginando estarem vendo um fantasma, embora pela manhã já tivessem recebido a notícia de que o Mestre havia ressuscitado. Mas eles ainda não haviam entendido o que significava a ressurreição. Quem entenderia, de resto? Real e perturbadora foi a imagem de Jesus morrendo na cruz, feito malfeitor. Quando, então, Cristo se fez presente no meio deles, o espanto aumentou ainda mais. Pela aparição inesperada, certamente, e também pelo sentimento de culpa. Afinal, o grupo abandonou o amigo. Jesus, todavia, domina a cena e marca o compasso do encontro. Sua primeira manifestação é uma saudação recheada de otimismo: SHALOM! Jesus trazia as bênçãos de vida plena para seus amigos. E para certificá-los ainda mais da sua real presença, expõe-lhes as feridas da cruz. Sim, o mesmo Jesus que viram morrer, estava agora vivo e vitorioso entre eles. Um novo capítulo estava sendo escrito! Confirmada a autenticidade da visita, o ambiente se transforma. Onde antes dominava o receio e a desconfiança, reina agora a alegria e a segurança. Jesus está vivo e com eles novamente. Mas isso não era tudo. Faltava um detalhe fundamental. Para a alegria ser genuína as portas precisavam ser abertas. A alvissareira esperança precisava chegar aos confins do universo. Os amigos precisavam compenetrar-se que a missão de Jesus agora passava a ser deles. A vida plena que Jesus conseguiu com sua vida e com o exemplo extremo da sua total doação não era para ficar restrita a um grupo seleto. Assim como Ele havia deixado a casa do Pai e se encarnado para facilitar a comunicação com as pessoas, agora cabia a eles destravar as portas e sair levando este evangelho a todas as pessoas. Para Jesus, a comunidade dos discípulos jamais podia se imaginar recolhida, com medo, atrás de portas fechadas. Uma Igreja medrosa é um contrassenso. A fé no Senhor ressuscitado, acompanhada da vigorosa presença do Espírito, enche a comunidade de potencialidade, de vitalidade, de luz e de vida, bênçãos que precisam ser partilhadas com todos. Ao tomar consciência da dimensão do bem que podem oferecer às pessoas, impulsionados por uma caridade desinteressada e generosa, garantida pela presença do Espírito Santo, cientes ainda da real necessidade que essas mesmas pessoas tem de receber a mensagem redentora, os seguidores de Jesus abraçam alegres e destemidos a nobre missão. Convencem-se da fundamental verdade: a Igreja de Jesus Cristo não pode confinar-se atrás de portas fechadas. Como pode a Igreja dialogar com quem está de lado de fora, justamente os destinatários que mais precisam ouvir-lhe a voz, se permanecer recolhida atrás de portas fechadas? Portas fechadas, imagem eloquente e provocadora! Tem muito cristão de cabeça baixa, julgando-se arcaico, cidadão obsoleto. A experiência do Senhor ressuscitado, ultrapassando portas fechadas, pretende sacudir os resignados! Mexer com os pessimistas! O encontro com o Senhor ressuscitado reaviva a fé. E consolida nos crentes a certeza que, na condição de protagonistas, cabe-lhes ultrapassar fronteiras e sair, com passos firmes, a semear esperança. A fé no ressuscitado vence o mundo!

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