sábado, 20 de junho de 2015

QUMRAN

Austera vida levava João Batista. O registro de sua vida retirada no deserto, combinada com a frugal alimentação, a sua vestimenta rupestre e a sua pregação de moralismo fundamentalista induz estudiosos a associá-lo à seita de essênios, em particular ao grupo conhecido como comunidade Yahad que vivia na região de Qumran! A região, situada na proximidade do Mar Morto, é marcada por uma topografia típica do deserto, com cavernas e vales espalhados pelo acidentado terreno. Embora já se soubesse da existência dessa comunidade, por várias fontes literárias do primeiro século, o interesse em aprofundar mais o conhecimento acerca dos hábitos de seus integrantes floresceu na segunda metade do século passado quando em uma de suas cavernas foram acidentalmente encontrados pergaminhos e papiros com longas trechos da Bíblia como também com informações acerca de seu modo de viver. Esses escritos ficaram conhecidos como os Manuscritos do Mar Morto. Pelos relatos encontrados, confirmou-se tratar-se de uma comunidade que havia se instalado na região no século anterior à vinda de Jesus Cristo, provavelmente formada por um grupo de sacerdotes que discordava da vida opulenta e decadência de costumes dos ministros do Templo em Jerusalém, como também de seus rituais estereotipados. Inspirados num ascetismo fundamentalista, o grupo se refugiou ao deserto, onde fundou uma comunidade, provavelmente de celibatários, cuja característica era a austeridade de costumes, centrada em uma obsessão pela purificação. Baseados em documentos encontrados nas diversas cavernas, mais de 900 fragmentos, arqueólogos e historiadores foram pacientemente reconstruindo os objetivos e o estilo de vida seguido por esta comunidade. Inferiu-se tratar-se de uma comunidade composta por homens que levavam vida reclusa, trabalhavam a terra, mas que abrigava um grupo que se dedicava a transcrever livros sagrados e outras literaturas, prevendo a restauração da santidade do Templo em Jerusalém, a realizar-se por um especial enviado de Deus, cuja vinda ardentemente aguardavam. A obsessão com abluções e banhos reflete a insistência mística da purificação. Pelas escavações realizadas, chegou-se a contar sete cisternas usadas para esses rituais de purificação. Isto para uma comunidade que dificilmente ultrapassava o número de 150 integrantes. Pelos regimentos encontrados, sabe-se que as purificações eram obrigatórias três vezes ao dia, ao amanhecer, antes da refeição principal no almoço e antes de deitar. Este regimento purificatório fez a comunidade desenvolver um genial sistema de aquedutos a abastecer as várias cisternas, em uma região, lembra-se, marcada pela aridez! O ponto alto da vida comunitária era a refeição principal, no almoço, onde geralmente era servido um prato quente acompanhado por um pequeno pedaço de pão e um cálice de vinho. Interessante registrar que a refeição transcorria no mais absoluto silêncio. O refeitório era considerado como se santuário fosse. Esta vida de duras renúncias tinha como finalidade principal preparar a comunidade para a vinda de um profeta de Deus, que purificaria costumes e restauraria a santidade do Templo. Este traço apocalíptico encontra-se na pregação de João Batista, argumento outro a alimentar a tese que liga o precursor à comunidade. Seja como for, num determinado momento de sua vida, o Batista parece ter se desligado da comunidade para seguir missão individual. O conjunto Qumran, todavia, ficou célebre pelos chamados Manuscritos do Mar Morto. Esses rolos contêm as transcrições mais antigas em aramaico e grego dos livros sagrados. Ao deparar-se com a importância dos documentos, estudiosos hebreus e acadêmicos da renomada escola bíblica de Jerusalém, debruçaram-se sobre os pergaminhos para conferir sua autenticidade. Análises científicas confirmam tratar-se de material do primeiro século antes de Cristo. Um dos textos chaves é um longo trecho do profeta Isaias que corresponde plenamente à versões posteriores. O alívio entre acadêmicos e religiosos é compreensível. Alguns dos originais desses documentos se encontram no Museu do Vaticano, outros no Museu de Jerusalém, e outros muitos ainda guardados a espera de análise. O complexo Qumran proporciona interessante complemento para a compreensão da situação política e religiosa que envolve e marca a época de Jesus Cristo.

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