
Desumanizadas estão se tornando as instituições. E a sociedade, em geral! É a opinião corrente entre sociólogos, economistas e estudiosos do comportamento humano. Basicamente, em grande número de instituições, repara-se uma distância considerável entre o que se propõem os estatutos e o que se faz na prática. Pelos estatutos, o compromisso declarado é promover o ideal da instituição, propostas nobres, irretocáveis, sempre à serviço do ser humano. Na prática, contudo, o referencial que move as peças são interesses particulares, geralmente atrelados ao lucro. Esta é a explicação que está por detrás do triste e vergonhoso caso da corrupção na FIFA. Na condição de instituição, a organização mundial de futebol tem a obrigação estatutária de zelar pela promoção e divulgação do esporte. Na realidade, porém, as informações que estão vindo a tona revelam que outros interesses movem as peças. Quando se descobriu a mina de dinheiro potencialmente disponível nas transmissões esportivas, chutaram-se todos os valores esportivos e humanitários e passou-se a buscar avidamente o lucro. Comenta-se que a inclusão de Ronaldo Fenômeno na fatídica final da copa da França deu-se por exigência de uma marca esportiva que exigia a presença do jogador. Às favas a reputação do futebol brasileiro. Às favas a condição física do jogador! Às favas o brio da torcida brasileira. Importava faturar! Era preciso jogar o jogo! E o jogo não era a final da copa do mundo, mas o faturamento da marca esportiva. O Brasil lamentou o revés, mas, pelos indícios, teve gente que faturou, e ainda fatura alto, as custas daquele jogo! O ser humano fica, simplesmente, instrumentalizado. A desumanização no esporte, particularmente, no futebol ficou mais do que evidente.
Espontaneamente brota a indagação: por que não se denunciam sujeiras desse porte? As possíveis razões são várias, evidente. A obsessão pelo lucro inebria o ser humano. A sensação de poder tudo porque se possui muito dinheiro incha a vaidade e induz a chutar todo e qualquer referencial moral e ético. Emerge, então, o fator arbitrariedade. Firmas e diretorias se apossam do poder de decisão de uma maneira tal que, quem recusa aderir ao esquema - jogar o jogo - fica excluído aprioristicamente de toda concorrência, amargurando previsível falência. Favorece muito este esquema o regime de perpetuação no poder, mesmo quando a sucessão fica legitimada por supostas eleições democráticas. Quando a ficha cai, gente com um pouco de decência fica inconformada, mas como já é refém do esquema, mantém-se calada por covardia ou por medo. O lucro e o dinheiro são patrões despóticos. O ser humano é o que menos vale!
A corrupção, em qualquer setor da vida, enoja. Revolta pelo principal fato de ignorar por completo o ser humano, reduzindo-o a mero instrumento. Clama a alma humana por redenção. Estudiosos no assunto apontam princípios capazes de enquadrar toda esta cultura de corrupção. Sugerem uma legislação que elimina o monopólio, reduz poderes de decisão arbitrária, e favorece claramente a transparência da administração em todas as instâncias. Sem esquecer evidentemente a severa punição de corruptores e corruptos. Claro, todo este arcabouço legal é recomendável e deve-se exigir que seja implantado e vigiado. Mas, sabe-se, o ser humano é esperto demais. Legislação é imprescindível, mas não resolve tudo. Pois a inteligência humana é sempre capaz de achar brechas para justificar transgressões e acobertar desvios. Para não falar das blindagens que organizações criminosas costumam costurar para garantir suas nefastas transações.
Em última análise, o referencial confiável para a lisura de toda administração passa a ser a integridade de cada agente. Parece irônica a afirmação, tamanha a desconfiança que envolve o ser humano. A impressão que se tem é que parece impossível encontrar um ser humano genuinamente honesto. Que feio para a humanidade! Que vergonha para os mais de dois bilhões de cristãos espalhados pelo mundo! A hora não é de lamentar, todavia. A hora é de investir conscientemente na formação moral e ética do cidadão. A hora é de virar o jogo. Deixar de render-se ao jogo da podridão que desumaniza e passar a jogar o jogo da retidão, da justiça e da valorização do ser humano! A corrupção não pode ter a última palavra!
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