sábado, 29 de agosto de 2015

KIT MISSIONÁRIO


A fé muda! Uma fé muda, por outro lado, é fé morta! Esta duas verdades convergentes transparecem de uma maneira clara nos escritos evangélicos e apostólicos. A fé muda, no sentido de transformar vidas e alterar destinos. Inúmeros são os exemplos desta lapidar realidade. A Pedro, Jesus disse que ia transformá-lo em pescador de homens. Quanto a Paulo, Jesus o transformou de perseguidor em evangelizador. A fé em Jesus Cristo opera necessariamente radical transformação na vida de quem a abraça e professa. Introduz novos valores e exigências. Dos primeiros chamados registra-se que deixaram tudo para seguir Jesus. Mudaram, na verdade, de referência, embora continuassem em suas profissões.
A adesão pela fé é um processo contínuo e crescente. É o que se deduz pelas narrativas evangélicas. Aquele primeiro grupo que andava com Jesus imaginava que bastava estar na companhia do Mestre. É legitimo, inclusive, supor a euforia - ou será mais apropriado dizer a vaidade - daquela gente por usufruir da intimidade do Nazareno. Afinal, Jesus era o assunto do dia. Atraia multidões e provocava enormes esperanças. Ora, ser amigo de celebridades é sempre motivo de vanglória. Jesus, consciente da sua missão e profundo conhecedor da alma humana esperou a hora certa para colocar os discípulos no verdadeiro trilho. No auge de sua popularidade, chamou o primeiro grupo e incumbiu-o com a tarefa de sair pelas aldeias e realizar o que ele fazia! Claramente propôs: mando vocês expulsar demônios e curar doentes!
Imagina-se o espanto daquela primeira turma! Quem somos nós, diriam, para realizar missão tão desafiadora! Maior ficou o espanto quando Jesus passou-lhes suas recomendações: não era para levar nada pelo caminho, nem dinheiro, nem pão nem roupa de reserva. Apenas cajado e sandálias! Ferramenta apropriada para enfrentar estrada! O perfil estava desenhado. A lição estava dada. Para ser seguidor de verdade, o discípulo precisa conscientizar-se que deve ser também evangelizador. Missionário. Uma fé que permanece muda, encolhida, inoperante, ilude. A fé que muda condutas não pode permanecer muda. Ela é essencialmente dinâmica, comunicativa. Construtiva. Emerge aí outro dado, pedagogicamente sutil. O primeiro conceito que se forma ao pensar em evangelizar foca a pregação, girando predominantemente em torno da retórica, do anúncio verbal! Com seu peculiar jeito de ensinar, Jesus retoca o foco ao exigir que os missionários trabalhassem em pares. Sem dispensar o anúncio verbal, Jesus põe em destaque o exemplo da vida, em particular da vida em comunidade. Adverte, com esta exigência, que o anuncio do reino, da vida nova, só será eficaz, consequetemente aceito e assimilado, quando o discurso se fundamenta no exemplo de vida. Pregação bonita impressiona, chama atenção até. Mas somente o testemunho convence. Ao exigir que se formem comunidades, o Mestre confirma que o anúncio mais eloquente não é dado por palavras, mas sim pelo testemunho de uma fraternidade autêntica. Afinal só se pode viver o mandamento de amor fraterno quando se tem irmãos para amar. Esta pétrea recomendação carrega, para os tempos modernos, urgentíssimo apelo. Percebe-se, no ritmo atual de vida, um crescente individualismo, um destacado isolamento social. Esta mentalidade infiltra-se também na prática religiosa. É perceptível a privatização da fé. Pessoas há que se consideram cristãos porque rezam em casa. Outros frequentam missas e cultos, mas resistem criar vínculos com a comunidade. Viver a fé cristã de maneira isolada contraria o projeto do Senhor Jesus. O evangelho só pode ser vivido, entendido e ensinado em comunidade.
A última ferramenta a completar o kit missionário é a capacitação para levar avante tão ambicioso, embora vital, projeto. Jesus não se contenta em enviar, habilita seus mensageiros com seu próprio poder. Os missionários não devem colocar a eficácia do seu ministério em ascendências econômicas ou conluios políticos. O poder de convencimento reside na intrínseca vitalidade da verdade evangélica. Aquele primeiro grupo acreditou. Revestiu-se do kit missionário. Partiu e viu maravilhas acontecerem.

A fé muda. Mas é incompreensível que fique muda. O apelo do Mestre permanece pertinente. É crer e pôr-se a caminho!    

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