A fé muda! Uma
fé muda, por outro lado, é fé morta! Esta duas verdades convergentes transparecem
de uma maneira clara nos escritos evangélicos e apostólicos. A fé muda, no
sentido de transformar vidas e alterar destinos. Inúmeros são os exemplos desta
lapidar realidade. A Pedro, Jesus disse que ia transformá-lo em pescador de
homens. Quanto a Paulo, Jesus o transformou de perseguidor em evangelizador. A
fé em Jesus Cristo opera necessariamente radical transformação na vida de quem
a abraça e professa. Introduz novos valores e exigências. Dos primeiros chamados
registra-se que deixaram tudo para seguir Jesus. Mudaram, na verdade, de
referência, embora continuassem em suas profissões.
A adesão pela
fé é um processo contínuo e crescente. É o que se deduz pelas narrativas
evangélicas. Aquele primeiro grupo que andava com Jesus imaginava que bastava
estar na companhia do Mestre. É legitimo, inclusive, supor a euforia - ou será
mais apropriado dizer a vaidade - daquela gente por usufruir da intimidade do
Nazareno. Afinal, Jesus era o assunto do dia. Atraia multidões e provocava
enormes esperanças. Ora, ser amigo de celebridades é sempre motivo de vanglória.
Jesus, consciente da sua missão e profundo conhecedor da alma humana esperou a
hora certa para colocar os discípulos no verdadeiro trilho. No auge de sua
popularidade, chamou o primeiro grupo e incumbiu-o com a tarefa de sair pelas
aldeias e realizar o que ele fazia! Claramente propôs: mando vocês expulsar
demônios e curar doentes!
Imagina-se o
espanto daquela primeira turma! Quem somos nós, diriam, para realizar missão
tão desafiadora! Maior ficou o espanto quando Jesus passou-lhes suas
recomendações: não era para levar nada pelo caminho, nem dinheiro, nem pão nem
roupa de reserva. Apenas cajado e sandálias! Ferramenta apropriada para
enfrentar estrada! O perfil estava desenhado. A lição estava dada. Para ser
seguidor de verdade, o discípulo precisa conscientizar-se que deve ser também
evangelizador. Missionário. Uma fé que permanece muda, encolhida, inoperante,
ilude. A fé que muda condutas não pode permanecer muda. Ela é essencialmente
dinâmica, comunicativa. Construtiva. Emerge aí outro dado, pedagogicamente
sutil. O primeiro conceito que se forma ao pensar em evangelizar foca a
pregação, girando predominantemente em torno da retórica, do anúncio verbal!
Com seu peculiar jeito de ensinar, Jesus retoca o foco ao exigir que os
missionários trabalhassem em pares. Sem dispensar o anúncio verbal, Jesus põe
em destaque o exemplo da vida, em particular da vida em comunidade. Adverte,
com esta exigência, que o anuncio do reino, da vida nova, só será eficaz,
consequetemente aceito e assimilado, quando o discurso se fundamenta no exemplo
de vida. Pregação bonita impressiona, chama atenção até. Mas somente o testemunho
convence. Ao exigir que se formem comunidades, o Mestre confirma que o anúncio
mais eloquente não é dado por palavras, mas sim pelo testemunho de uma
fraternidade autêntica. Afinal só se pode viver o mandamento de amor fraterno
quando se tem irmãos para amar. Esta pétrea recomendação carrega, para os
tempos modernos, urgentíssimo apelo. Percebe-se, no ritmo atual de vida, um
crescente individualismo, um destacado isolamento social. Esta mentalidade
infiltra-se também na prática religiosa. É perceptível a privatização da fé. Pessoas
há que se consideram cristãos porque rezam em casa. Outros frequentam missas e
cultos, mas resistem criar vínculos com a comunidade. Viver a fé cristã de
maneira isolada contraria o projeto do Senhor Jesus. O evangelho só pode ser
vivido, entendido e ensinado em comunidade.
A última
ferramenta a completar o kit missionário é a capacitação para levar avante tão
ambicioso, embora vital, projeto. Jesus não se contenta em enviar, habilita
seus mensageiros com seu próprio poder. Os missionários não devem colocar a eficácia
do seu ministério em ascendências econômicas ou conluios políticos. O poder de
convencimento reside na intrínseca vitalidade da verdade evangélica. Aquele
primeiro grupo acreditou. Revestiu-se do kit missionário. Partiu e viu
maravilhas acontecerem.
A fé muda. Mas
é incompreensível que fique muda. O apelo do Mestre permanece pertinente. É
crer e pôr-se a caminho!
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