
Época de festas religiosas é esta. Em muitas comunidades católicas realizam-se nesta época as celebrações da Primeira Eucaristia. Compreensivelmente, as comunidades vivem dias de expectativas, de excitação e de alegria, envolvidos em preparativos variados. Esta euforia contagia também as famílias dos catequizandos que se desdobram para deixar marcado o dia mor! Parentes vem de longe, residências são preparadas, comemorações encomendadas. Tudo bonito e legítimo, afinal celebrar a distinção de ser comensal com Jesus merece devido destaque. Ao envolver diretamente crianças, as celebrações da Primeira Eucaristia adquirem dimensões de singular singeleza e puro prodígio. Não há quem não se comove nessas celebrações.
Participar da Eucaristia é distinção singular. Afinal, ser convidado a sentar-se à mesa com Jesus e repartir com Ele o pão da vida, que é seu próprio Corpo e Sangue, é manifestação sublime de especial consideração. Costuma-se convidar a partilhar refeições pessoas por quem se cultiva especial estima. Ao celebrar e comungar na Missa, o fiel experimenta a alegria de estar incluído no rol de amigos privilegiados de Jesus e, coerente e simultaneamente, expressa e renova sua íntima sintonia com o divino Amigo. Reconhece, inclusive, que sua presença na celebração deve-se à livre iniciativa do próprio Anfitrião. Somente Ele pode escolher e convidar seus comensais. Esta consciência preliminar induz o participante a entender que só celebra dignamente a Eucaristia quem dela se aproxima com sinceros sentimentos de humildade e gratidão, de reverência e compromisso. Este clima de júbilo, mas também de reverente respeito, fica especialmente evidente nas celebrações da Primeira Eucaristia. Ele justifica amplamente a excitação e a euforia que as acompanham.
Nem sempre, todavia, a dimensão religiosa encontra nas famílias o devido destaque e respaldo. Focados mais no aspecto festivo, pais se deixam envolver com a repercussão social em prejuízo da dimensão religiosa. Quando este clima profano é ainda repassado para as crianças, enormes são a alienação e a confusão que se provoca em sua tenra consciência. Distorção lamentável e, não raramente, irremediável. Legítimo, sim, é fazer festa pela ocasião. Há motivos de sobra para isso. Sua organização e preparação, contudo, devem ficar distantes das crianças, justamente para não desviar sua atenção do principal. Em famílias onde realmente se preza a dimensão religiosa da celebração, esta estratégia é facilmente entendida e executada. Os pais, quando conscientes da sua missão, fazem questão de manter o foco no clima espiritual, encontrando tempo para orar junto com seus filhos, ajudando-os a tomar consciência da dignidade e da sublimidade da ocasião! A comemoração social é preparada na surdina, surpresa a coroar um grande dia!
Onde, contudo, está ausente a reta consciência do significado do ritual, a probabilidade da celebração da Primeira Comunhão se reduzir a folclore religioso é enorme. Estaciona-se, neste caso, na cerimônia, na data, e não no sentido profundo e perpétuo da celebração. É a festa que importa, com suas manifestações profanas de roupas especiais, de penteados elaborados, de fotografias. De desfile. De registro social. A distinção de sentar-se à mesa com Jesus, a dignidade de partilhar com ele o pão da vida, viram apenas detalhes, formalidades que servem de pretexto para recepções sociais. Dilui-se por completo o mistério. Perde-se a reverência. É lamentável constatar que muitos pais, ao não compreender a dimensão sacra da celebração, sua profunda repercussão na vida, encaram a Primeira Comunhão como formatura religiosa. Julgam-se quites com suas obrigações religiosas, desincumbidos de mais uma tarefa. Ufa! Motivo outro, quiçá, para comemorar! A celebração, tão diligentemente preparada porque representa a passagem para um estágio novo de vivência religiosa, manifestação emocionante de gratidão e pura expressão de sintonia com os valores de Jesus Cristo, fica reduzida à vaidades profanas e distorcida por estéril exibicionismo.
Sublime momento na vida de uma família é a celebração da Primeira Comunhão de um filho, merecedora de todo júbilo, motivo de grande satisfação. Sobressaia, pois, o clima de reverência e gratidão. De comunhão com Jesus e com seus valores. Caso contrário, tudo não passará de inconsequente folclore religioso!
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