Reflexões para crescer no amor a Deus, no amor aos irmãos e fortalecer-se na fé cristã.Viver, em suma!
sábado, 30 de janeiro de 2016
RECICLAGEM
Leia atentamente o manual de instruções. É a recomendação que acompanha a aquisição de qualquer eletrodoméstico. Ignorar essa orientação pode causar danos irreparáveis ao aparelho, privando seu dono dele usufruir-se. A mesma recomendação vale para toda atividade. Antes de exercer qualquer função é preciso adestrar-se adequadamente. A consciência da própria limitação sugere ainda que se procure sempre orientação de pessoas capacitadas. Por sua vez, toda instituição séria cuida de disponibilizar monitores capacitados para orientar programas de aprimoramentos. No campo da ação pastoral não é diferente. Ao querer que uma iniciativa pastoral seja fecunda, o agente precisa reconhecer a necessidade de capacitar-se regularmente para poder exercer sua missão de maneira eficaz e fecunda. Jesus, o bom pastor, é o monitor ideal para todo agente missionário.
Profundo conhecedor da alma humana, o Mestre costumava dispensar extensas aulas teóricas e concentrar-se em exercícios mais práticos, sem nenhum prejuízo para o conteúdo. Deixava claro para o grupo que o acompanhava que a condição de discípulos não se resumia ao ambiente de auditório. Na condição de discípulos estavam sendo chamados a participar ativamente da sua missão. Assim, após um estágio de íntimo convívio, o Mestre enviou o grupo em missão. Cuidou de lhes convencer que sua ferramenta mais poderosa era a inerente potencialidade da mensagem que carregavam. Bastava a disposição de querer anunciar acoplada à inabalada confiança na intrínseca luminosidade da sua mensagem. Saíram, pois, e o êxito da primeira experiência fez o grupo retornar exultante ao convívio do Mestre. Solícito, Jesus reconhece o mérito do trabalho e elogia o empenho, mas aproveita para passar ulterior e fundamental treinamento. Surpreende o grupo ao insistir que todos se retirassem a um lugar deserto. Compreende-se o espanto do grupo. Afinal, o sucesso era evidente e as multidões estavam empolgadas. O Mestre, no entanto, estava irredutível. O próximo estágio seria de retiro, de silêncio, de oração. Mister era vacinar o grupo contra o perigo da empolgação. Ele mesmo já tinha dado exemplo. Quanto mais aclamado, mais fazia questão de encontrar tempo para esconder-se. Na tranquilidade e no despojamento, o discípulo permanece focado na essência da mensagem, preservando-a de qualquer acréscimo postiço. Bombardeado por ruídos e envaidecido por aplausos, o ministro corre o risco de cair no artificialismo, contentando-se com retóricas comoventes e convencionais, desprovidas, contudo, de apelos genuinamente interpeladores. O recolhimento é que dá ao discurso foco, intensidade e credibilidade. Certamente, é essa falta de recolhimento que torna o ser humano tão disperso e tão volúvel.
A visível urgência com que o povo procurava por Jesus para ouvir sua orientação, ofereceu ao Mestre ocasião propícia para ulterior instrução indispensável. O povo andava carente. Necessitava de luz. Buscava caminhos. Para oportunistas, essa ostensiva carência sempre é ocasião providencial para explorações e manipulações. Bastam alguns truques sensacionalistas, e, pronto, o povo está na mão, formidável massa de manobras. Sem escrúpulos, muitos são os aproveitadores que exploram as carências das pessoas. Ao contrário, ao perceber tamanha necessidade, Jesus reage com compaixão. Sensibilizado, sofre com o povo e se desdobra não para dar o que povo quer, não para vender ilusões, mas para dar o que realmente a multidão necessita! É o que diferencia o autêntico dirigente do agente aproveitador. Este acomoda a mensagem para servir a seus interesses. O autêntico missionário mantém-se fiel, mesmo que cause impopularidade. Despreocupado com a própria promoção, prossegue inabalado e correto, confiante na inerente potencialidade da sua mensagem, proporcionado o que julga objetivamente necessário para as pessoas. Aprendeu, afinal, com seu tutor divino que é a compaixão que legitima e sustenta seu trabalho pastoral. A mesma caridade alimenta sua energia, tornando-a inesgotável, confiante e inovadora. Pautado pela caridade e disciplinado no silêncio, o discípulo fiel vence a mediocridade da rotina, sem apelar ao popular sensacionalismo.
No trabalho pastoral, o missionário encontra nos evangelhos o manual de instruções e, em Jesus, o agente qualificado para mantê-lo reciclado em seu ministério. Aplicado aprendiz, mantém vigoroso o ardor missionário e fiel a mensagem libertadora.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário