
Os conceitos estão em conflito! Quando o assunto é família, torna-se necessário, primeiro, especificar o tipo de família a que se refere. No debate em torno da lei 470/2013 que estabelecia o Estatuto das Famílias, alguns senadores defenderam a inclusão da poligamia no conceito familiar. Outros queriam que amantes tivessem igual status aos demais membros da família. Esses conceitos, bizarros alguns, complementados por outras propostas de uniões estáveis, ressaltam, paradoxalmente, a importância da família na sociedade. Lamenta-se o fato de os debates focassem apenas o aspecto legal, ou seja, o reconhecimento, e os subsequentes amparo e proteção, pelo Estado, das diferentes formas de convívio abrigadas no conceito família. Vale registrar, a esta altura, a conclusão do conhecido antropólogo Levi-Straus. Ao final de suas extensas observações, incluindo primitivas culturas, o eminente estudioso conclui que, por família deve-se entender a estável união entre homem e mulher, geradora e educadora de filhos.
Estabelecer conceitos, contudo, não garante nenhum êxito de convívio feliz e realizado. Este é o ponto que, no fim, interessa! Não é porque se reconhece universalmente como família a união estável entre gêneros, que toda vez que homem e mulher se unem em matrimônio sua felicidade está garantida. Embora exista predisposição espontânea de atração entre gêneros, a harmonia e o êxito dessa união estão sujeitas a um articulado programa de educação e de ajustes. Não é totalmente fora de contexto afirmar que as variações de uniões estáveis reconhecidas hoje na sociedade emergiram por causa dos tantos fracassos experimentados, e outras tantas desilusões verificadas, no casamento dito tradicional. Por outro lado, o fato de muitas dessas uniões tradicionais sofrerem sérios abalos, chegando à dissolução, não é argumento para determinar o definitivo colapso do casamento tradicional. Impressiona o largo testemunho de casais em segunda união que afirmam trabalhar pastoralmente para que nenhum matrimônio passe pelo dissabor da separação. Casamento desfeito, testemunham, assemelha-se à guerra, deixa somente feridas! São numerosos, sim, os casos de matrimônios tradicionais que dão certo, mesmo com as turbulências e inevitáveis sobressaltos da vida. Vale registrar, ainda, difuso anseio entre casais que, ao se unirem em matrimônio, sonham envelhecer juntos. Confirma este anelo a singela alegria e a estampada admiração no semblante de pessoas ao assistirem celebrações de bodas de prata e de ouro.
Chega-se, então, ao cerne da questão: descobrir receita confiável a influenciar na realização de um casamento. É fato, na maioria das formas de convívio humano, existe disputa de poder. Em alguns casos, essa disputa é escancarada. Em outras, e nessas o matrimônio é destaque, a concorrência permanece estrategicamente camuflada. Assim, se não for detectada e disciplinada em tempo, essa infeliz disputa pode estragar irremediavelmente o convívio. No caso específico do casamento, dá-se um salto considerável de qualidade quando o casal se despe da ambição da supremacia e da imposição e sujeita-se a buscar um ideal genuinamente comum. O grau almejado de comunhão, companheirismo e cumplicidade se alcança quando marido e mulher buscam o mesmo objetivo e a ele submetem as próprias preferências. Aprende-se a administrar nesse compasso, com generosas gestões de renúncia e doação, as frequentes tensões entre a vontade de um e as preferências da outra. Para o casal religioso, essa articulação fica explicitada na tradicional e precisa fórmula: deixar pai e mãe e se unirá à sua mulher e formarão um só corpo! Já não são dois, mas uma só carne! Há muito mais que palavras nessa fórmula. Pressupõe a assumida comunhão de objetivos, enriquecida pela identidade e pela diversidade peculiar de cada membro! Para o casal religioso indica e expressa a livre submissão aos desígnios divinos. Desgruda-se de si para grudar-se em Deus! Pautando sua conduta pelas orientações divinas, o casal educa e vigia o instinto dominador, praga temível e terrível em qualquer instituição.
À pergunta, feita tantas vezes com interesse capcioso e intenção provocadora, sobre quem manda lá em casa, o casal cristão responde, com serena convicção e inspirado discernimento: Deus! Eu e minha família servimos ao Senhor: a estratégia fundamental para manter vibrante e fecundo o convívio familiar!
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