sábado, 9 de abril de 2016

UNGIDOS

Partidas de futebol com torcida única. Situação política caótica. Crise moral grave. Panorama econômico preocupante. Cidades tradicionais europeias alvos de terrorismo! Neste contexto conturbado, pululam, compreensivelmente, propostas variadas de solução. A mais frequente, e a mais aclamada, defende uma reação enérgica contra os diversos agentes causadores de violência. Diante das estúpidas e bárbaras brigas entre torcedores, as autoridades tiraram da cartola esse encaminhamento injusto, impedindo torcedores de acompanhar os jogos de seu time favorito, como se todos fossem marginais. No front internacional, a solução imaginada, e executada, promove ataques bélicos sistemáticos contra redutos promotores de terrorismo. No cenário local, multiplicam-se propostas mirabolantes. Entende-se, que em situações delicadas, medidas urgentes precisam ser tomadas. A probabilidade, todavia, dessas medidas enérgicas surtirem duradouro efeito benéfico permanece questionável. Na verdade, soluções emergenciais respondem a necessidades prementes, como estancar o sangue em uma ferida. Sabe-se, contudo, que estancar a hemorragia não representa cura. O restabelecimento do paciente demanda outro nível de tratamento. Dependendo da gravidade da agressão à saúde do paciente, sua recuperação sugere procedimentos prolongados e articulados. Sem este tipo de cuidado, anestesia-se contra a dor, mas o paciente permanece vulnerável diante de possíveis outras agressões. Contam os historiadores que Winston Churchill, no auge do bombardeio aéreo alemão sobre Londres, convocou uma reunião do gabinete para tratar da organização da Alemanha no imediato pós-guerra. Intuindo a derrocada alemã, começou a planejar sua reconstrução quatro anos antes do fim da guerra. Soluções eficazes alicerçam-se em percepções sagazes e criterioso planejamento. O mal maior da cultura moderna é que se deixou de planejar à longo prazo. Buscam-se soluções improvisadas. E de impacto. Na maioria das vezes, para satisfazer apetites imediatos ou agradar a torcida. Quer-se apenas mostrar serviço, mas sem resolver definitivamente os conflitos. Contenta-se com o estancar da hemorragia, sem oferecer ao paciente ulteriores procedimentos capazes de encaminhar sua plena recuperação. Um renomado estudioso dos conflitos que afligem o Oriente Médio, Robert Fisk, analisou, recentemente, a situação dos países árabes, especialmente após os bárbaros atos terroristas na pacata Bruxelas. O impacto causado pelo horror dos desumanos atentados provocou uma reação enérgica por parte de governos do ocidente. Bombardeios aéreos começaram a castigar com mais intensidade supostos redutos de treinamento de terroristas. Na opinião do conceituado estudioso, o resultado dessa enérgica reação é limitado. Campos e organismos simplesmente mudarão de endereço, migrarão para outras localidades. Destroem-se instalações, mas não se acaba com a raiz verdadeira do problema, que é o ódio contra a civilização dita ocidental. Fisk faz uma sutil, mas significativa observação que anda ignorada pelas lideranças ocidentais. Os cidadãos árabes continuam migrando para o ocidente, indicação óbvia que não querem ficar sob o domínio de quem posa ser o legítimo representante do Islam. Essa constante e numerosa migração representa a maior derrota para o chamado Califado e, simultaneamente, aponta para onde está a verdadeira solução: maciço investimento na promoção social e cultural desses povos. A insensibilidade diante da exploração e a indiferença perante a indigência por que passam esses povos representam combustível cultural ideal para o recrutamento de novas levas de candidatos suicidas. Planejamento e percepção! Aplicando essas inteligentes análises à caótica situação, tanto local como internacional, apercebe-se que o caminho para recuperar um mínimo de descontração e segurança na rotina da vida passa por objetivos diagnósticos e por criteriosas e articuladas iniciativas, demandando alto grau de entendimento e corajoso desapego por parte de agentes genuinamente bem-intencionados. Iniciativas inovadoras e redentoras existem. Merecem foco e suporte. Inspiram emulação. Sobre os cristãos, em sua peculiar condição de ungidos com o Espírito da Inteligência e da Fortaleza, recai a responsabilidade de sair do anonimato e do desalento e colaborar decisivamente na urgente e redentora tarefa de humanizar instâncias e instituições!

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