Reflexões para crescer no amor a Deus, no amor aos irmãos e fortalecer-se na fé cristã.Viver, em suma!
domingo, 22 de maio de 2016
PROTAGONISTA
PROTAGONISTA
Está Jesus sendo levado a sério? Soa descabida a interpelação face ao grande número de pessoas que se congregam em missas e cultos pelo mundo. Em tese, se Jesus não fosse levado a sério, essas multidões não lotariam templos. São, ironicamente, os templos cheios que motivam a angustiante indagação. Sem perceber, fiéis praticantes podem estar trocando Jesus por rituais. Apesar de tantas liturgias, louvores e pregações, está mais que evidente que o paganismo avança no mundo. Sem nenhum viés pessimista, mas olhando a realidade com objetividade, não estaria tão despropositado indagar: qual é a real influência do contingente cristão no cotidiano da sociedade? Qual tendência consegue mais influência: a cristã sobre a pagã ou a pagã sobre a crista?
É conhecida a sentença de Jesus que define o amor fraterno como o real qualificativo da identidade cristã. Ele elevou este apelo ao status de mandamento, seu particular desejo. É evidente que Jesus não estava baixando um decreto. Profundo conhecedor da alma humana, sabia perfeitamente que pessoa alguma consegue amar por imposição. Quando anunciou esse seu mandamento, Jesus se encontrava em clima de profunda comunhão com seus imediatos discípulos. Participava da ceia pascal, momentos antes de seguir para a tortura da cruz. Não era, óbvio, ocasião para demagogia. O clima era tenso, de despedida, e é normal, nessas circunstâncias, as pessoas darem vazão a seus mais íntimos sentimentos. É o que fez Jesus em mais uma demonstração da sua verdadeira natureza humana. Chama seus amigos de 'filhinhos', enaltecendo o ambiente de cordial comunhão fraternidade. Nesse clima carregado de ternura, tratando seus discípulos como parceiros íntimos e não como súditos, Jesus expõe seu anseio. Com ardente desejo ansiava ver seus seguidores agirem por amor. Quando, então, se toma conta que fora do recinto onde se encontrava com os discípulos, sua morte estava sendo tramada, motivada por traição, ódio e intolerância, e Ele prevendo tudo, o apelo atinge dramaticidade aguda. Enquanto adversários planejam sua condenação, espúria articulação, Jesus convoca à prática do amor! Dramático contraste!
Refletem comentaristas que se Jesus tivessem encerrado ai seu apelo, suas palavras seriam digeríveis. Afinal, todo ser humano ama alguém ou alguma coisa. Abundam relacionamentos amigáveis. Para não deixar dúvidas acerca de que amor falava, Jesus acrescenta a referência: como eu amei vocês! Não falava de amor sentimento, emotivo. Falava de amor-doação, do amor que induz o sujeito a esquecer-se de si em favor do semelhante. Estava ainda fresca na memória dos discípulos a inesperada experiência da lavagem dos pés, assumindo Jesus a tarefa do mais desqualificado escravo. Era desse amor - ágape - que Cristo falava. Justamente a generosa atenção que emoldurou a trajetória de sua vida. Ele fez somente o bem por onde andou. Agia movido sempre por tenra compaixão. Ao propor o mandamento do amor fraterno, o Mestre provocava seus seguidores a tomarem a iniciativa na prática da caridade. A serem protagonistas da compaixão. A livrarem-se de todo cálculo e de toda desculpa que pudesse justificar indiferença. Ao insistir no seu exemplo, Jesus instava seus discípulos a agirem sempre por caridade, não se importando com as circunstâncias. A crer na força do amor, em suma!
Para o discípulo a caridade não é facultativa. Constitui, ao contrário, sua mais real e profunda identidade, confirmada por outra sentença impactante: o discípulo será reconhecido autêntico, se e quando demonstra amor pelo semelhante. Recorrendo à formidável estratégia retórica, Jesus qualificava a caridade que esperava ver praticada pelos seguidores, dando a ela o selo da autenticidade. Cristão é o sujeito que se dispõe agir com a caridade de Cristo, em todas as circunstâncias, com todas as pessoas. Afastar-se desse padrão representa perder o selo da autenticidade. Relegar-se à condição de cristão falsificado.
Portar-se como protagonista da caridade incondicional envolve riscos. E na atual cultura, tão marcada pela ojeriza a qualquer tipo de sofrimento, não é de todo inverossímil que muitos preferem contemporizar. Acomodar-se numa religiosidade porosa. Popular e atraente, mas descomprometida. Uma religiosidade, em suma, que não leva Jesus a sério!
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