Reflexões para crescer no amor a Deus, no amor aos irmãos e fortalecer-se na fé cristã.Viver, em suma!
sábado, 4 de junho de 2016
RESGATE MORAL
30% dos casos de estupro são denunciados. Os dados são do Ipea. Esta estatística denuncia que a agressão sexual hedionda acontece com muito mais frequência que a sociedade civilizada imaginaria. Ou preferiria admitir. Donde se conclui que o número de agressores e de vitimas é muito maior do que o divulgado em noticiários. Esta realidade estarrecedora parece confirmar uma tese que veio a tona por ocasião do estupro coletivo sofrido recentemente por uma jovem carioca. Detectam antropólogos e sociólogos a existência de uma cultura de estupro, uma mentalidade difusa que promove e aprova a agressão infame. Estudiosos se debruçam sobre o problema e buscam encontrar explicações para essa cultura. O que mais intriga, todavia, é a passividade da sociedade em geral. Esta só se manifesta por ocasião de tragédias sensacionalistas e, mesmo assim, boa parcela da população debita a culpa na conta da mulher violentada. O debate adquire contornos polêmicos porque vive-se em um tempo quando a individualidade de cada sujeito anda sobremaneira enaltecida. A figura feminina, neste contexto, também granjeou especial e merecida valorização. Gaba-se da soberania do subjetivismo e, no entanto, a dignidade do gênero feminino sofre agressões frequentes e humilhantes.
Emerge uma primeira ponderação denunciando a evidente distância entre o pensamento acadêmico e os valores reais que imperam na sociedade. Embora, em tese, exista um consenso quanto a dignidade e o respeito devidos a ambos os sexos, na realidade a mentalidade machista persiste. Basta constatar os difusos e constrangedores assédios e insinuações a que mulheres são submetidas em várias áreas da vida social e profissional. Essas ocorrências levam a ulterior consideração. Apesar dos valiosos ensaios enaltecendo a dignidade feminina, o que prevalece como substrato cultural é o conceito de mulher objeto, favorecido e vitaminado pelo frequente recurso à silhueta feminina para fins mercadológicos. Nesta estratégia, o destaque fica, óbvio, para o corpo feminino, maliciosamente exposto, passando a subliminar mensagem que o predicado mais importante na mulher seja sua silhueta. Impõe-se uma mentalidade capciosa, associando a figura feminina ao impulso consumista, com evidentes insinuações eróticas. Firma-se, pelo contumaz recurso, o conceito que reduz a mulher à condição de ferramenta, com forte e primário tempero erótico, meio atraente e apetrecho agudamente insinuante para alcançar metas e atingir objetivos. Emerge a contumaz hipocrisia que marca a conduta humana: ao mesmo tempo que a imaginação se delicia e promove fantasias eróticas, protesta-se veementemente e clama-se energicamente por punições e condenações.
A humanidade, na verdade, anda doente, moralmente decaída. O ritmo frenético da vida, o constante bombardeio de informações e imagens priva o homem moderno de tempo e disposição para parar e refletir. Avaliar e filtrar. Hoje, o cidadão é induzido a acumular informações, manter-se conectado. Percebe-se um nivelamento por baixo das informações recebidas. Todas recebem a mesma atenção, idêntico destaque. Ora, as mensagens que excitam instintos primários encontram, obviamente, maior receptividade, aguçam mais o apetite. Se, portanto, não atentar que precisa parar e selecionar entre o fluxo interminável de apelos, qualquer cidadão facilmente ficará a mercê de impulsos, com os previsíveis desdobramentos agressivos e trágicos em várias áreas da vida, inclusive a sexual.
Doente, a humanidade necessita urgentemente de cura. Por causa do nojento episódio do estupro coletivo tem se sugerido como estratégia para evitar futuras ocorrências, punições severas a delinquentes, coragem para denunciar. Louváveis sugestões. No entanto, o eficaz remédio reside na prevenção. A ciência médica ensina ser mais benéfico e econômico prevenir que tratar e curar enfermidades. Igualmente, no atual estágio de decadência moral é mais salutar investir num conjunto de iniciativas que ensinam, desde a infância, em família, nas escolas, nas igrejas, que todo ser humano, não importa se é homem ou mulher, é digno, é gente e merece ser, incondicionalmente, tratado com respeito. Sem esse resgate moral, efetivo, decidido e coletivo, continua-se a assistir a vã enxurrada de discursos comoventes, a apelos indignados, mas, que, na realidade, nem cheguem a afetar a tal cultura do estupro.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário