sábado, 30 de julho de 2016

ARMAS

Nos Estados Unidos é mais fácil comprar um fuzil semiautomático que um remédio contra gripe! Isso explica a aberrante estatística que revela existirem mais de 300 milhões de armas de fogo em circulação naquele país. Não é de se admirar, portanto, com a frequência absurda de ataques com arma de fogo naquele país e, por extensão, no mundo inteiro. Comentou-se já, e com frequência, que a facilidade de comprar e comercializar armas de fogo favorece sobremaneira a incidência de crimes violentos e letais. Na cerimônia fúnebre por um grupo de negros assassinados friamente, não faz muito tempo, no Estado da Carolina do Sul, o pastor que presidia a celebração comentou com precisão: O responsável por este massacre está preso, mas outros potenciais assassinos permanecem a solta. Enquanto a circulação de armas persistir, a probabilidade de se repetirem crimes estúpidos permanece real e crescente. A NRA (a associação nacional do rifle americana) que exerce fortíssimo lobby no Congresso americano defende a livre comercialização com o cínico argumento de que quem mata é o homem, não a arma. Como se armas não fossem fabricadas com o intuito precípuo de serem usadas! Em setembro do ano passado, ao discursar no congresso americano, o Papa Francisco abordou vários assuntos. Ao refletir sobre a família, suas palavras receberam efusivos aplausos. Mas quando focou a comercialização das armas, pedindo o fim de uma indústria cujo lucro vem embebido em sangue, a reação foi uma tímida aprovação. E olha, um terço de congressistas é católico! Está no lucro, uma das reais razões que explicam e tentam justificar a fácil comercialização e a posse de armas. Ecoando as palavra do Papa é uma indústria que se sustenta no extermínio de vidas! Após o massacre vêm, geralmente, as rezas. Rezar pelos que tombam é necessário. É confortador. Frequentemente, todavia, a reza não passa de um ritual cínico. Na perspectiva genuinamente cristã, a oração deve levar à ação. Que vale orar se nada se faz para mudar a situação! Se forte é o lobby em favor da comercialização de armas, urge organizar uma igualmente valente mobilização contra sua produção e comercialização. Curiosamente, entre nós, o lobby que, no Congresso Nacional, defende a comercialização de armas é composto majoritariamente por deputados cristãos. Responde pela sigla BBB - Biblia, Bola, Bala! Como se possível fosse reverenciar o Deus da vida e defender simultaneamente a proliferação de meios de extermínio da vida! Cúmulo de cinismo! Argumenta-se que se o bandido ataca com arma é somente com armas que se pode defender vidas e patrimônio. Argumentação porosa e inconsequente. Estatísticas comprovam que são mínimas as mortes provocadas por atos de defesa pessoal. A mais elementar reflexão suscita previsíveis indagações: por que é tão fácil ao criminoso conseguir armas? A quem interessa e quem está por detrás de tanta facilitação? Não seria mais fácil e mais econômico investir no aparelhamento e no treinamento das forças de seguranças, adestrando-as a vigiar fronteiras e investigar traficantes e contrabandistas? Recursos existem, basta querer usá-los de forma responsável. Hábitos não mudam por decreto! Embora seja necessária uma legislação mais rigorosa, particularmente com relação ao tráfico e contrabando, é sabido, contudo, que mentalidades mudam a partir de uma sólida e coerente educação em favor da vida. A título de referência, registra-se a paradoxal mentalidade corrente nos Estados Unidos ao impor mais controle sobre adoção de animais domésticos que na compra de fuzis! O bom senso sugere que o mesmo zelo deve valer mais quando se trata de vida humana. Ao compreender que a vida humana é precioso dom, passa-se a reverenciá-la e a promovê-la em todos os estágios evolutivos. E em todas as situações. Emerge a triste realidade: elimina-se a vida com estúpida facilidade porque o contexto cultural a menospreza em vários de seus estágios. As pessoas não recebem o tratamento merecido em praticamente nenhuma área do convívio social. São tratados mais como números que gente! Como se pode valorizar a vida num contexto de desprestígio tão acentuado, particularmente quando se trata de algumas categorias, mais sujeitas ao anonimato. Urge cercar drasticamente a circulação de armas! Urge punir traficantes e contrabandistas! Urge, precípua e sistematicamente, educar as pessoas a valoriza e respeitar a vida humana. Compenetrar-se do sagrado dom da vida é a indispensável premissa a motivar o banimento de tudo que possa colocar em perigo a vida do cidadão, mesmo que seja apenas potencialmente.

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