sábado, 6 de agosto de 2016

MOSTRAR A CARA

Fidelidade e coerência caminham juntas! Em todos os departamentos da vida, quem é fiel se comporta de forma coerente. Na vivência da fé religiosa, essa convergência se apresenta como premissa fundamental. Os valores da fé, quando conscientemente assumidos, ditam a conduta. Por outro lado, a autenticidade da fé se mede pela real influência que a mesma exerce no cotidiano da vida de uma pessoa. Para quem abraça a fé de forma consciente, religião e vida não constituem departamentos estanques. Porque assim se crê, assim se vive. O apóstolo Paulo sintetizou essa verdade em uma precisa formulação: porque acreditamos, pregamos! Compreendendo o termo pregação em seu sentido mais largo, apresentar testemunho de vida. Anunciar não se reduz necessariamente à retórica. O sermão mais eloquente é aquilo dado pelo testemunho da vida. Diz-se, com toda razão, que o mundo acredita mais em testemunho que em retórica. Particularmente, neste tempo de mudança de época, quando os valores passam por uma real crise de avaliação, torna-se imperioso examinar em que se acredita e por que. Imperceptivelmente, a pessoa de fé pode estar sendo fortemente influenciada por preferências materiais e pagãs. Sem dar-se conta suficientemente, é possível que, no intuito de acompanhar o ritmo do mundo, faça concessões a valores que em nada convergem com os princípios evangélicos. A maçante e ruidosa exaltação de vantagens materiais, aliada à difusa aceitação de costumes profanos, pressiona para que haja um sutil e progressivo afrouxamento de hábitos. Quando se apercebe, o fiel repara que vive fragmentado. Preserva o sentimento religioso, mas suas escolhas e motivações são inspiradas mais por interesses profanos que por princípios evangélicos. Diante do inevitável conflito de identidade, alguns tendem a acomodar a situação, maquiando geralmente a coerência e dopando a consciência. Mutilam a fé para agradar. Para não sofrer rejeição, fazem concessões. Abafam a cobrança, abrigando-se na porosa justificativa de que todo mundo age dessa forma. Outros, refugiam-se em devoções ou rituais, imaginando que cumprindo obrigações satisfazem as exigências religiosas. Consciências mais críticas e maduras, todavia, entendem que fidelidade exige coerência. Se se crê na verdade do evangelho é preciso confiar, igualmente, em sua vitalidade. Emerge fundamental e sublime verdade. Ao captar as verdades da fé, particularmente aquelas que atingem a alma humana, o fiel entende que representam referências indispensáveis e irrefutáveis para garantir a dignidade do ser humano. São os únicos a atender aos anseios mais profundos da alma. São referências que ultrapassam a dimensão estreitamente religiosa para atingir o Homem naquilo que constitui sua existencial identidade. O ser humano chega a ser gente a medida que conhece, assimila e vive segundo os valores propostos por Deus. A profunda convicção nessa lapidar verdade, faz surgir no crente o instintivo impulso de querer transmiti-la oportuna e inoportunamente. Se reconhece responsável pelo semelhante. A mesma urgência que sente em comunicar é correspondida por igual intensidade pela alma sedenta de vida! Sua convicção é tão solidariamente enraizada que intui que a maneira mais convincente para comunica-la não passa por uma patrulha dogmática ou impositiva, mas através de caridosa partilha. Assimila a pedagogia da vela que alcança sua função de iluminar e brilhar a medida que sua chama é partilhada e dividida. É a partir do diálogo, franco e aberto, com o mundo que o crente dá testemunho do precioso tesouro que carrega. Seguro, interage com o profano. Escuta com atenção e amor, discerne o que há de positivo nas tendências culturais, mas, sem medo e presunção, propõe e defende as verdades que libertam a alma humana. Longe de fugir do, ou condenar o, mundo, longe de entregar-se a uma cruzada ideológica ou moralista, o fiel convicto entende que sua missão é marcar presença, transformar realidades. Neste conturbado mundo, embevecido com suas vaidades e atordoado com suas incongruências não há espaços para cristãos invisíveis. Mostrar a cara, sem medo, sem arrogância, é o contributo mais substancioso que o fiel cristão, coerente e firme, deve ao mundo.

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