
Todo fanatismo é obtuso! E irracional. Em sua dimensão patológica chega às raias do absurdo. Confirma essa concepção a reação, registrada em jornais, de cristãos de ultradireita nos Estados Unidos ao celebrarem festivamente o massacre acontecido numa boate gay recentemente. Um pastor de uma dessas comunidades foi reportado pregar em sua comunidade que o massacre foi fantástico. Não via motivos para lamentações, pois os frequentadores daquela boate iriam morrer mesmo de aids e outras doenças sexualmente transmissíveis. Pelo Twitter, integrantes da mesma corrente religiosa festejavam o atirador assassino como enviado de Deus para deixar o estado da Florida mais limpo! O que estarrece é o fato desses grupos se apresentarem como cristãos. Impõe-se uma espontânea indagação: que escola evangélica essas pessoas frequentam?
Pois se existe algo que sobressai no comportamento do Senhor Jesus Cristo é justamente a tolerância para com os que pensam e vivem diferente. Movido por genuína compaixão, Cristo acolhia e defendia os pecadores, embora não compactuasse com o pecado. Alguns episódios na jornada de Jesus são bastante ilustrativos e servem como referência de conduta. Contam os evangelistas que ao decidir dirigir-se a Jerusalém, Jesus procurou pouso na região de Samaria. Dada a histórica rixa entre judeus e samaritanos, estes negaram recebê-lo, justamente porque estava a caminho de Jerusalém. Indignados e ofendidos, os discípulos, ao reportarem a ofensa, sugerem a Jesus que invocasse fogo do céu como castigo sobre os abusados. A ingratidão era incompreensível, pois, afinal, Jesus vivia defendendo e promovendo os samaritanos. No entanto, a resposta de Jesus foi enfaticamente negativa. Sua missão era salvar, não castigar. Aproveitou, inclusive, o episódio para deixar os pretensos seguidores a estarem preparados a encontrar semelhantes resistências e incompreensões. Mesmo fazendo o bem, iriam encontrar portas fechadas. Pessoas recusariam recebê-los. Nem por isso, todavia, estariam justificados a desistir da missão ou a invocar castigos divinos sobre quem se porta como adversário. A mais convincente resposta diante da ingratidão e incompreensão é a persistência no caminho do bem!
Em outra circunstância, os seguidores de Jesus relataram, inconformados, que testemunharam gente fazendo milagres usando o nome dele sem que fizessem parte da sua comitiva. Onde já se viu tamanha pretensão. Imaginando ganhar a simpatia do Mestre, os discípulos afirmaram que proibiram o abuso. Qual não deve ter sido a surpresa de todos ao ouvir Jesus afirmar que não aprovava sua conduta. Pois quem não se posiciona contra ele está a seu favor. O bem não é propriedade de ninguém. Nem o Evangelho. Criar caso e discriminar por causa da pregação do evangelho é o maior desserviço que se faz à construção do Reino. Fora o escândalo. Só se deve reagir quando as palavras de Jesus são manipuladas e distorcidas para servir a interesses particulares ou ideológicos. A maturidade e o discernimento que Jesus exibe, causam verdadeira admiração. Repara ele os bons sentimentos presentes na alma do pecador, e não hesita de propor o transgressor como exemplo a ser seguido. Foi dessa maneira que elogiou o centurião romano que confessou publicamente não se julgar digno de acolher Jesus em sua casa. Na ocasião, o Mestre disse a seus conterrâneos que não havia conhecido tamanha fé em todo Israel. Em outra ocasião, apontou uma mulher pecadora como exemplo de hospitalidade e gratidão. E isto na casa de um fariseu!
Passam os anos, multiplicam-se celebrações e cultos, e esta sublime lição de tolerância permanece ignorada. Comunidades e lideranças que se gabam serem seguidoras de Jesus teimam persistir em rotular pessoas a partir de grupos ou igrejas a que pertencem. Ao se considerar os únicos e genuínos seguidores de Jesus, atrevem-se a classificar os demais como ímpios ou falsos discípulos, usurpadores dos ensinamentos evangélicos. Ousam, inclusive, fazer o que Cristo sistematicamente recusava adotar, condenar e castigar. Na escola de Jesus se aprende a ser tolerante e valorizar o diálogo. Bem distante da grade antiga, que insiste no castigo e no fogo do inferno.
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