
Acabou o período do palanque! Agora, realidade! A campanha política encerrou-se. O cidadão votou e os eleitos festejam êxito. Vivem, eleitor e candidatos, salutar pausa para o descanso, que deve servir também para uma atenta avaliação e, obviamente, para um objetivo planejamento futuro. O sombrio contexto e a situação de penúria nacional refletem-se, evidentemente, no cenário local. O anseio por mudanças é nitidamente perceptível nas conversas sociais, como, aliás, transparece nas colunas de leitores em jornais e revistas. Urge, no entanto, evitar equívocos.
As desejadas mudanças não dependem somente dos eleitos. Claro, deles se espera posturas corajosas e coerentes. Afinal, foram esses os compromissos assumidos e o cidadão mostrou, com seu voto, que confia em sua palavra. Sobre os eleitos recai a grave responsabilidade de não desapontar. A classe política padece de profunda rejeição porque sua credibilidade anda muito baixa. O cidadão permanece enfastiado e desconfiado com a classe, como demonstra claramente o nada desprezível índice de abstenção. Não será o arroubo retórico que resgatará a credibilidade, mas o empenho decidido de quem realmente pretende trabalhar pela promoção da cidade. A hora, agora, não é de discursos, mas de ação! Que se cuide, especialmente, de realizar gestões transparentes, predicado escasso, atualmente, em círculos políticos. À transparência, acrescenta-se outra qualidade indispensável, a coerência. Dos eleitos espera-se coerência com programas anunciados e com compromissos assumidos. A população exige, e com razão, lealdade. Clareza, coerência, lealdade, formidável tripé a configurar gestão política consistente.
Emerge, nesse cenário, outro fator nada desprezível. De candidatos não eleitos espera-se, igualmente, civismo honrado. Presume-se que as declarações de amor pela cidade fossem sinceras. Pela lógica, portanto, esse interesse deve persistir. Lamenta-se ver diluir-se o ardor cívico, tão logo constata-se o insucesso nas urnas. Como se os compromissos antes anunciados e defendidos perdessem seu valor. Como se o postulante não sufragado nada mais tivesse a ver com a história da cidade. O fato de não conseguir ser eleitos não diminui a corresponsabilidade, a não ser, obviamente, que o discurso de campanha não passasse de demagogia! Retórica oportunista! Igualmente antiética é a atitude de quem faz oposição por oposição, torcer - ou até maquinar - para as coisas darem erradas, e assim poder tirar proveito no futuro. Urge libertar-se dessa maneira rasteira de fazer política, tão nociva para o progresso da coletividade. Imprescindível é ter oposição, indispensáveis a fiscalização e a objetiva crítica, desde que movidos por um civismo construtivo. Todo governo bem intencionado, sente-se privilegiado ao lidar com uma oposição madura, coerente, cobradora.
Quando, então, essa mentalidade política estiver presente no cidadão, o progresso de uma sociedade fica ainda mais promissor. Habituou-se a encerrar o dever cívico ao ato de votar. O cidadão considera quitada sua obrigação cívica ao votar. Equivocada mentalidade. Ao votar, o eleitor expressa sua preferência, o jeito como deseja ver gerenciada sua cidade. Ora, a coerência exige que se desse prosseguimento a esse anseio. Que se acompanhe o desempenho dos eleitos. Que se mantenha, prioritariamente, o contato entre eleitos e eleitores. Em época de campanha, os candidatos visitam casas e bairros, incansavelmente. Não há razão para esse salutar intercâmbio encerrar-se findas as eleições! Irrisório afirmar que o candidato permanece a disposição em seu gabinete. Sim, cabe ao cidadão exigir esse constante diálogo, não mais para ouvir promessas, mas para poder efetivamente colaborar e, eventualmente, cobrar. Triste é ver a chama cívica arder somente em época de eleições. Passado o sufrágio, tudo volta à cômoda realpolitik: os eleitos refugiados em seus gabinetes e o cidadão contentando-se em murmurar, em lamentar-se e insultar.
Somente com uma conscientização política consistente e uma mobilização constante e amadurecida se consegue quebrar a redoma que mantém os políticos protegidos e distantes em seus gabinetes e a população frustrada com vazias promessas e enfastiada com a velha politica.
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