sábado, 24 de junho de 2017

O OUTRO

Em tempo de crise, criatividade! É o axioma que pauta a conduta do autêntico líder. Perspicaz, o legítimo empreendedor faz uma analise objetiva da realidade, inclusive da própria atuação, sempre, porém, sob uma perspectiva positiva, a de encontrar novas estratégias para progredir. O líder verdadeiro não perde tempo em lamúrias ou autocomiseração, nem busca culpados em conjunturas externas, embora possam existir. Acima de tudo, não se resigna diante de adversidades. Não desiste diante um revés. Pelo contrário, por acreditar em seus ideais, encara os contratempos e os enfrenta, buscando novos caminhos para alcançar seus objetivos. Em tempo de crise, ação. Criatividade! Há muito se fala que a religião, o cristianismo em particular, e mais especificamente a religião católica, passa por grave crise! Apresentam-se estatísticas para comprovar uma realidade que, de resto, todo observador atento e isento já constatou. Existe, sim, uma deserção informal entre os católicos. Existe uma frouxidão religiosa, provocada por vários fatores. O ritmo acelerado da vida, aliado a um consumismo quase compulsório, contagia todas as pessoas, criando um novo estilo de vida. Os sociólogos definem este novo compasso como uma mudança de época. Evidente, este rearranjo de valores se reflete também na prática religiosa, seja qual for a confissão. Intuindo esta mudança, algumas lideranças cristãs desenvolveram os cultos da prosperidade e da cura fácil. São, compreensivelmente, os segmentos que mais florescem e mais atraem adeptos. Nesses cultos a fé se confunde com emoção e com terapia de massa, gerando euforia e ilusórias sensações místicas. Sutilmente, essas comunidades aproveitam a popularidade para restabelecer o pedágio religioso, paga-se para conseguir os favores divinos. Graças viraram negócios! O essencial é descartado, desconsiderado mesmo, pois o que vale é a apresentação, o show, o impacto! A mudança de época exige logicamente uma mudança de estratégia. Na crise, criatividade! Com uma ressalva básica e urgente. A renovação não deve pautar-se por estatísticas. A preocupação não é com números, mas com o ser humano! A Igreja, na condição de continuadora legítima da obra de Jesus Cristo, não deve preocupar-se com prestígio, mas deve, coerente com seu divino fundador, colocar-se por inteiro a serviço do ser humano. Curiosamente, este ser humano que se apresenta tão valente padece de crônicas carências! Captar e entender os seus verdadeiros anseios e a eles responder com coragem e com perspicácia é o desafio maior. O homem, apesar da sua presunçosa autossuficiência, anseia por Deus ‘como a corça suspira pelas águas correntes’ (Sl 41). O ser humano cresce no conhecimento, avança nas habilidades e conquistas, mas permanece surpreendentemente frágil. Ufana-se de seus formidáveis recursos tecnológicos, mas desmorona quando a dor lhe castiga. Nenhum chip consegue oferecer respostas satisfatórias para as suas constantes indagações existenciais. Nenhum aplicativo o conforta ou lhe assegura repouso quando está abatido. O Homem precisa de algo mais que tecnologia. Precisa do sobrenatural. Tenta convencer-se de sua independência, mas intimamente, precisa de Jesus Cristo. Espontaneamente emerge como tarefa primordial que desafia a Igreja, encontrar linguagens adequadas capazes de ajudar o homem moderno a conhecer e querer encontrar-se com Jesus. Atrair o homem a Cristo continua a ser simultaneamente, desafio urgente para a Igreja, e necessidade premente para a alma humana. Somente na pessoa de Cristo Jesus o ser humano encontra o repouso desejado, a resposta para as suas angústias existenciais. O homem moderno, apesar de todos os formidáveis avanços, permanece inquieto. Em tempos de globais contatos percebe-se dramaticamente solitário. As compras não conseguem lhe saciar a sede. As redes sociais não aliviam a solidão. Espalha-se a depressão! Igual à corça, anseia o homem por águas correntes, suspira pelo sobrenatural. Esse sobrenatural não é doutrina, não é ideologia, não é rito, não é conquista material. É o Outro. Encontrá-lo realmente preenche! É tarefa da Igreja, quer dizer de todo crente, descobrir nova linguagem para que este encontro com Cristo aconteça. Em tempos de crise, criatividade!

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