
PILATOS
Constrangedora é a realidade política. A classe dirigente padece de desonesta septicemia. O nocivo vírus da ganância espalhou-se pela classe política e o tumor da corrupção está levando o Estado a um quadro de múltipla falência. O noticiário diário reforça a convicção de que a quase totalidade da classe dirigente do país, como também do empresariado mais em evidência, encontram-se gravemente infectados. A declaração de um dos mais notórios delatores afirmando que quem não está preso está no Governo é chocante, vergonhosa e desmoralizadora. O extenso cipoal da corrupção, agravado pela igualmente extensa teia de conluios, induz a desconfiar das motivações por detrás de denúncias, delações, vazamentos, julgamentos e tramitações parlamentares. A sujeira é imensa! A imoralidade é rotina. O dever pauta-se pela barganha. As leis interpretadas e aplicadas de acordo com pontuais conveniências. As consequências desse contaminado gerenciamento são desastrosas. O reflexo dessas condutas desonestas é doloroso.
Todo cidadão decente entende que não basta constatar, tampouco xingar ou amaldiçoar. Muito menos resignar-se. Urge reagir, atitude que se cobra com mais insistência do cidadão cristão. A fé, quando autêntica, não se resigna a ver a banda passar. O cristão consciente entende que por vocação é chamado a tomar posição. O ensinamento do Senhor Jesus é claro e categórico: ide para o mundo, curai e restaurai. Salvai, em suma! O Mestre nunca imaginou seus seguidores alheios às mazelas do mundo. Nunca os imaginou praticando uma fé desencarnada da realidade. Ele próprio envolvia-se intimamente com o duro cotidiano de seus conterrâneos, inclusive quando se tratava de questões políticas. E para convencê-los da necessidade de marcarem presença em seus ambientes, insistiu que toda instrução ouvida em particular era para ser retransmitida sobre telhados. Nada havia de escondido ou privativo. As mensagens eram para todos. Prenhe de verdades libertadoras, carregado de respostas iluminadoras para a sequiosa alma humana, o Evangelho não pode ficar guardado em mentes e corações. Quanto mais espessas as trevas, mais necessidade há de luz! Quanto mais confuso o mundo, mais urgente se faz proclamar o anúncio do Evangelho.
A gravidade da situação demanda correto posicionamento e sábio encaminhamento. Não se imaginam cruzadas de evangelizadores pregando em cada esquina. Nem mesmo correntes moralistas em redes sociais! Destaca-se, como primeira atitude, o respeito pelas ordenanças constitucionais e, como consequência natural, a exigência para o seu fiel cumprimento. Não se pode compactuar nem jurídica nem moralmente com gestões comprovadamente corruptas. Reclamam-se punições severas e ressarcimento rigoroso. Os milhões desviados são do povo e em benefício da população devem ser aplicados. Primárias, essas exigências não esgotam a responsabilidade evangelizadora do cristão. Sente-se a urgência de operar um salto de qualidade na política. O que só pode acontecer com a inclusão de políticos honestos e íntegros. A sujeira na política afasta, compreensivelmente, gente bem intencionada. Este distanciamento, porém, em nada contribui para operar o desejado salto de qualidade. O Papa Francisco compara este afastamento à atitude de Pilatos, que preferiu lavar as mãos à deliberar em favor de um inocente! Não há espaço para omissão. Cristãos não podem repetir a acomodação de Pilatos.
Para o cidadão cristão não há desculpa para se omitir em situação de tamanha gravidade. Na política pode-se ignorar a fé. Na fé, ao contrário, não se pode excluir a política! Se há políticos desonestos que com cínica desenvoltura espoliam a nação para criminosamente se enriquecer, não há motivos para o cristão se perder em justificativas e esconder-se em melindres para não defender a justiça e não promover o bem comum! A gravidade da situação exige correto posicionamento e sábio encaminhamento. Convicto de possuir as verdades capazes de regenerar o ser humano, o cristão não pode mais ‘brincar de Pilatos’. A caridade evangélica demanda decidida atitude!
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