
Considerável é o número de desistentes. Recentes pesquisas dão conta que numerosas pessoas que outrora participavam regular e efetivamente de suas comunidades religiosas, deixaram de fazê-lo. Simplesmente se afastaram. Curioso, este fenômeno não está restrito a regiões ou nações. Sendo uma realidade tão difusa, excita a imaginação. Sociólogos e pastoralistas se debruçam em busca de razões ou motivos que explicam tão alastradas desistências. Claro, variadas considerações aparecem que, na realidade, conseguem justificar apenas parcialmente tão difuso fenômeno. Destaca-se, na condição de denominador comum nessas análises, uma indigesta constatação: durante anos a religião – católica, em especial – concentrou-se demasiadamente na disciplina dos sacramentos, propostos mais como obrigações que como etapas de amadurecimento e expressão na fé. A tradição exige a cerimônia. A família não abre mão do ritual. Mesmo com todo empenho catequético preparatório, a mentalidade permanece fechada no e obcecada pelo cerimonial, considerado um fim em si mesmo. Importa o rito, ignoram-se pressupostos e consequências a ele inerentes. Desconcertante paradoxo emerge: ao mesmo tempo em que se exige o ritual, sua realização não garante prosseguimento religioso. O sacramento é encarado e entendido como exigência cultural sem a consequente noção de vínculo comunitário. A participação no sacramento, e consequentemente a religião, são consideradas e vividas como assunto particular.
Pesa neste posicionamento outro fenômeno preponderante: a ignorância religiosa. Estranho falar de desconhecimento nesses tempos modernos, dada a facilidade de acesso a uma multiplicidade de informações. Sem esforço grande, encontram-se comentários variados sobre a religião e seus rituais. Penoso é filtrar as informações para formar correta e balizada conscientização. São, na maioria das vezes, informações fragmentadas e desconexas que mais confundem que esclarecem. A consequência óbvia é que se multiplicam sujeitos que opinam sem fundamentação alguma e, como a tendência é acatar as teses que correspondem ao jeito preestabelecido de pensar, fica fácil persistir em conceitos ambíguos. A carência de uma formação religiosa objetiva e consistente representa, certamente, outro fator fundamental a justificar o difuso afastamento. Somente pessoas bem intencionadas se dispõem a procurar fontes confiáveis capazes de ajuda-las a formar opinião consistente. Ao juntar, então, a falta de formação consistente com o rígido e equivocado tradicionalismo que apresenta a religião mais como um regimento de obrigações que como uma proposta de vida plena, compreende-se a difusa debandada. Na atual cultura subjetivista, raras são as pessoas que se dispõem a participar de rituais por obrigação. Muitos, especialmente a geração jovem, questionam os rituais. Recusam representar. Querem entender. Buscam, corretamente, o sentido e a real utilidade das práticas religiosas. Como nem sempre encontram respostas satisfatórias, optam afastar-se.
Fator outro a agravar essa crônica ausência de formação religiosa, é o crescente individualismo religioso. A prática religiosa é entendida como assunto de foro individual. O sujeito se contenta em guardar sua fé, mas sem cultivar nenhum vínculo comunitário. A religião passou a ser assunto privativo. Contenta-se em manter o contato com o divino, dispensando a dimensão horizontal. É de se reparar, a grande maioria dos que se desencantam com a religião, começaram por afastar-se da vivência comunitária. Alegam vários motivos para justificar o distanciamento: as hipocrisias dos frequentadores, a monotonia dos rituais, a mediocridade das pregações ... todas essas alegações têm fundamento, mas não justificam o afastamento. Nenhuma classe profissional é imune a defeitos, nem por isso dispensam-se seus serviços. Pelo simples motivo que sempre se encontram servidores competentes e dedicados. A falta de inserção numa comunidade fixa abre caminho para o esfriamento na fé!
Ritualismo tradicionalista, ignorância religiosa, subjetivismo espiritual são alguns dos motivos que explicam o desencanto com a religião. É o libelo que a realidade moderna apresenta contra a igreja. Urge atender, despertar e reagir! Sal insosso não tem serventia nenhuma!
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