sábado, 22 de julho de 2017

SOBRIEDADE

“Escolheu certo”! A frase integra emblemática cena no penúltimo filme sobre as aventuras de Indiana Jones. O lendário arqueólogo está, na companhia de seu pai, em busca do Santo Graal, supostamente o cálice usado por Jesus Cristo na última ceia e que confere, a quem dele beber, a vida eterna. Jones alcança a gruta onde repousa o cálice, guardado pelo último cavaleiro das cruzadas. O arqueólogo defronta-se com uma mesa cheia de cálices, cada um mais ricamente ornado que o outro. Surpreso ouve a sentença: é preciso fazer escolhas! Inspirado nas sugestões de seu pai, Jones escolhe o cálice mais simples, o de barro! Escolha certa! A propaganda moderna insiste na tese que para crescer é preciso aparecer. Quem possui visibilidade progride. Essa doutrina mercadológica invade também o campo religioso. Acompanha-se, hoje, a consolidação de uma mentalidade que pretende atrair gente para a religião recorrendo a estratégias vistosas. Edificam-se templos suntuosos, confeccionam-se paramentos ornados, elaboram-se liturgias pomposas. É inegável o impacto que a suntuosidade exerce sobre a imaginação humana. Já se afirmou, inclusive, por um renomado carnavalesco, que o povo simples gosta de luxo! O pomposo fascina, gera admiração. Atrai. Inspirada nesta doutrina mercadológica, floresce a indústria da ornamentação sagrada. Quanto mais esplendoroso o templo, quanto mais ornamentados os paramentos, quando mais espetaculares os rituais, mais o povo se extasia, mais perto do céu se sente! Não se nega que esta mentalidade do fausto e do extravagante encontra forte respaldo nos livros sagrados. Basta conferir o material para a construção do templo deixado por Davi a seu filho Salomão. O risco real, todavia, de trocar o essencial pelo descartável não pode ser sumariamente ignorado. É previsível a probabilidade de desviar o foco do espiritual ao insistir demasiadamente no ostentoso. O ritual passa a ser apreciado pelo acessório, não pelo conteúdo. E como se, nos óculos, valoriza-se mais o aro que as lentes! Abre-se, no contexto espiritual, espaço para a vaidade, para o narcisismo, para o extravagante. Emoções transbordam, enquanto escasseia a substância. Entende-se porque Deus fez registrar nos livros sagrados sua pouca afeição à edificação de templos. Em plena sintonia com o pensamento divino, o Mestre de Nazaré, em sua vida, e em seus ensinamentos, deixa clara a preferência pela simplicidade. O desapego foi sua característica inconfundível. Em seus dois maiores momentos na vida – nascimento e crucifixão – apresentou-se totalmente despojado. Antes de lavar os pés dos discípulos, fez questão de largar o manto que trajava, eloquente gesto para quem se dispõe a colocar-se a serviço do semelhante. Capas projetam. Capas protegem! Perspicaz e coerente, Jesus insistiu com os discípulos a saírem evangelizando sem carregar bolsas, nem dinheiro, nem túnicas! A essência está no conteúdo, não na apresentação. Oportuno, portanto, seria questionar essas crescentes preferências pelo vistoso e pela grife sagrada. Educativo seria analisar se o destaque na aparência não anda se sobressaindo ao essencial, relegando o que realmente santifica a planos secundários. Arquitetura simples também gera admiração. Ambientes singelos também extasiam. Liturgias bem celebradas, sem excessivas pompas, também enlevam. Beleza nunca foi refém de esplendor, nem o sacro do suntuoso! Ambientes simples e singelos também possuem particular arrebatamento. Paramentos modestos, desde que bem cuidados, também dignificam. Apresentar-se bem não necessariamente envolve ostentação. A sobriedade possui seu encanto. E está mais em sintonia com o Evangelho. Urge fazer escolhas certas!

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