
DACHAU
O inferno dos piedosos! Assim foi definido o primeiro campo de concentração construído pelo regime nazista na cidade de Dachau. Meses após chegar ao poder, os nazistas transformaram em presídio uma desativada fábrica de munições, para ali recolher opositores políticos. Com o fortalecimento da tese ariana, a raça pura, e as progressivas invasões do exército alemão, o rol dos condenados foi se ampliando e passou a incluir homossexuais, ciganos, judeus e, especificamente, sacerdotes católicos. Estima-se que durante os doze anos de funcionamento, o campo recebeu mais 2.500 sacerdotes católicos. Expandindo suas fronteiras, o regime hitlerista, construiu outros vários campos de concentração, seguindo o modelo de Dachau.
O desenho arquitetônico dos campos de concentração reproduz a rígida e inflexível ideologia ariana. A planta baixa desses campos se destaca por extensas avenidas recortadas por ruelas transversais, em interminável sequência de anglos retos. Nas ruas transversais situavam-se os blocos que abrigavam os condenados, como também outros reservados para as várias, e nefastas, experiências médicas. A monotonia simétrica das retas reforçava a ideologia do pensamento único. A medida que a guerra avançava, aumentava a necessidade de mão de obra para as diversas tarefas. Os campos passaram a fornecer mão de obra escrava, cinicamente indicada pelo letreiro que acolhia os famigerados comboios de condenados: o trabalho torna o homem livre! Tão logo o trem adentrasse o campo, os sobreviventes passavam pela primeira e terrível experiência da triagem. Totalmente despidos, eram obrigados a entregar os pertences e recebiam um número, tatuado na pele. Literalmente, deixaram de ser gente e passaram a ser número. O impacto psicológico dessa perda de identidade era terrível. Seguia-se então a separação por gênero e pela capacitação ao trabalho. Os que eram considerados úteis, tanto homens como mulheres, eram encaminhados para blocos específicos. Os demais, eram destinados ao extermínio. Estima-se que mais de 35.000 pessoas encontraram a morte em Dachau. Neste contexto de linhas retas ficava fácil controlar rebeldias ou espionar tentativas de fugas, como também implantar o horror proporcionado pelo espetáculo das execuções, seja por enforcamentos ou fuzilamentos. A crueldade, a brutalidade e as humilhações praticadas nesse campo mereciam-lhe a alcunha de ‘escola de atrocidades’.
Em comparação a outros campos de concentração – Auschwitz e Birkenau, por exemplo – o campo de Dachau reúne, atualmente, modestas relíquias daqueles tempos de brutal insanidade. Por feliz opção, Dachau foi transformado em memorial, espaço enorme recheado de informações, fotografias, filmes e depoimentos de sobreviventes, registrando o horror de quem viveu e conseguiu sobreviver à terrível experiência. Marca o memorial o imponente e imenso monumento do holocausto, evocando as tétricas bitolas dos trens, demarcadas pelos postes que seguravam as cercas elétricas e os arames farpados. No meio, uma escultura de bronze reproduz as esqueléticas formas humanas a que foram reduzidos os internos, vítimas de toda espécie de degradação e maus tratos. O monumento termina num sombrio mural conclamando a humanidade a nunca mais esquecer tamanha vergonha.
Integram o memorial as capelas das várias religiões. A católica evoca a agonia de Jesus Cristo: a protestante, destaca a reconciliação e convoca o visitante ao perdão e à paz: a israelita, induz o visitante a olhar para o céu, o destino final de todos os seres humanos: e a russa ortodoxa, conclama a orar pela humanidade. Já fora do campo, mas integrando-o, o visitante conhece os famigerados fornos de cremação e alguns monumentos que impõem silêncio e reflexão: o monumento ao preso desconhecido, a tumba para os anônimos mortos e uma urna, evocando as cinzas de tanta gente, vítimas da estupidez e da arrogância humana.
Prazeroso não é conhecer esse lugar! É, no entanto, de salutar importância, pois todos somos possíveis agentes de atitudes intolerantes e prepotentes. O memorial de Dachau alerta: se o ser humano não souber domar a soberba e a arrogância, facilmente se transforma num abjeto e asqueroso tirano.
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