Reflexões para crescer no amor a Deus, no amor aos irmãos e fortalecer-se na fé cristã.Viver, em suma!
domingo, 3 de setembro de 2017
DÍZIMO
O dízimo é bíblico! Antes de qualquer legislação social, o Criador tratou de educar o ser humano a relacionar-se responsavelmente com a sua produção e a relacionar-se, com igual responsabilidade, com seu semelhante! Na primitiva comunidade cristã não se fala em dízimo. Insiste-se na partilha, que representa o pleno cumprimento da lei, tão ao agrado do pensamento de Jesus. Não interessa o cumprimento legal, mas o espírito com que a lei é cumprida. A insistência sobre a partilha aponta para a básica instrução de Jesus envolvendo a fraternidade radical. A solidariedade comprometida indica um evidente salto de qualidade, uma profunda mudança de mentalidade e de atitude. Não é o cálculo legalista que regula, mas a gratuidade inspirada na generosa providência divina. De graça recebe-se tudo, de graça, abertamente deve-se partilhar. Numa belíssima reflexão encontrada no livro de Jó, o personagem símbolo roga a Deus para que nunca coma sua fatia de pão sem reparti-la com o faminto. É a consciência profunda que tudo o que se possui, mesmo adquirido com o esforço do próprio trabalho, deve-se á benevolência divina.
Inspirado na dimensão mística da generosidade, era previsível que o sentimento de partilha se arrefecesse. A alma humana dificilmente se liberta do mesquinho cálculo. Outra tendência recorrente na conduta humana é a acomodação. É mais confortável ignorar e desligar-se de obrigações que interferem diretamente no orçamento cotidiano. Se puder conseguir serviços e bem estar sem o ónus de custeá-los, ótimo. É o infeliz hábito de sempre querer tirar vantagem! Por conta dessa teimosa tendência interesseira da alma humana, a instituição eclesiástica se vê obrigada a regredir à prática da lei do dízimo, pelo simples e elementar motivo que sem recursos financeiros fica impossível qualquer desempenho evangelizador e missionário. Toda e qualquer pessoa com um mínimo de bom senso e de objetividade entende a necessidade de um suporte financeiro para que uma instituição, mesmo que não tenha fins lucrativos, possa desempenhar satisfatoriamente sua missão. Esse pressuposto vale, obviamente, para o trabalho evangelizador.
Em anos recentes, a prática do dízimo readquiriu destaque no contexto religioso. Embora sempre presente na formação católica – pagar o dízimo representava um dos mandamentos da Igreja – na prática, as paróquias católicas dependiam do estipêndio dos sacramentos para sobreviver. A receita ficava substancialmente complementada pelas quermesses e outras iniciativas promocionais. O movimento neopentecostal reavivou de uma maneira vigorosa, e agressiva, a prática do dízimo, apelando para uma leitura fundamentalista da Bíblia. Cobra e fiscaliza o recebimento aritmético dos 10%, recorrendo não raramente a censuras morais contra os inadimplentes. Se de um lado essa estratégia garante um regular suporte financeiro para a instituição, por outro lado, fica evidente o gravíssimo risco de deturpar orientações e desviar focos. O dinheiro sempre enfeitiça! A ganância representa sempre tentação real!
Teólogos e pastoralistas mais centrados insistem na dimensão mística do dízimo, no binário da generosidade e da corresponsabilidade. Quando esta dimensão é compreendida e assumida, observa-se uma salutar e madura participação na vida da comunidade. E que vai além da contribuição financeira. Quem opta participar do dízimo nesta dimensão mística, não se contenta em limitar sua colaboração a numerários. Compreende que o dinheiro representa apenas um aspecto da corresponsabilidade. Reconhece que possui outras riquezas, outras habilidades, incluindo tempo, que pode colocar à disposição da comunidade. Nesta dimensão, a participação econômica representa apenas um aspecto – e nem é o mais importante – de seu engajamento e identificação com a comunidade. Espontânea e alegremente entende que sempre pode, e quer, fazer mais por sua comunidade e pela evangelização. Mais que dinheiro, dízimo é corresponsabilidade na salutar causa de semear o evangelho!
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