sábado, 9 de dezembro de 2017

GRITOS

Época de tensão é o tempo de Natal. Neste período do ano, assiste-se a uma tenaz competição por espaço. Esta delicada situação fica mais aguda para uma pessoa de fé. De um lado, a incessante e bem articulada propaganda de valores profanos que insiste em reduzir este tempo a uma época meramente festiva e consumista. Totalmente secularizada. Na outra trincheira, a Igreja, com a rica mística do Advento, convocando os cristãos a se deixarem moldar pelo Salvador que vem! Embora preservasse o verniz cristão, a cultura natalina passa por uma radical mudança de eixo. Já não é o Menino Jesus que polariza a atenção, mas o papai Noel, com seus atraentes apelos consumistas. A sociedade, de uma forma geral, relegou Deus a uma posição periférica, algo já grave em si. Todavia, o prejuízo maior encontra-se no fato de que o ser humano começa a não sentir falta da dimensão espiritual em sua vida. Cresce o número de pessoas que dispensa Deus, por achar que não faz falta em suas vidas. É nesta direção alarmante que a sociedade hoje caminha. Multiplicam-se pensadores que tentam convencer as pessoas que vive-se muito bem sem Deus! O número de adeptos a esta tese aumenta, evidente! Este tempo de Natal é providencial referência: festeja-se muito bem a estação, sem necessariamente fazer menção ao divino menino! De maneira muito sutil, embora insistente e articulada, a atual cultura laica introduz valores – inocentes aparentemente -, mas com poder enorme de minar seculares tradições. O assunto não é nostálgico. É a escala de valores que interessa. Há de se reparar como novos costumes vêm se infiltrando nas tradições natalinas, diminuindo, de uma maneira consistente e paulatina, o impacto e a dimensão cristãos da festa. O exemplo mais evidente é a substituição do menino Jesus pela figura do papai Noel. O ícone símbolo do natal é papai Noel. Decora-se mais com a imagem do ‘bom velhinho’ do que com o presépio! Quantas crianças sabem, hoje, o que é presépio? Compreende-se porque se dá mais importância à ceia natalina do que à ceia eucarística na noite de Natal. É ou não mais intensa a participação na ceia do natal, do que na ceia eucarística na noite quando se festeja o nascimento do menino Deus? Os novos costumes impõem escolhas! Na tentativa de conciliar tensões, antecipa-se o horário da missa do galo. Além de descaracterizar por completo o profundo e catequético sentido simbólico da missa do galo, que enaltece a luz de Jesus Cristo que irrompe no meio da noite, vencendo as densas trevas, a antecipação do horário é uma tácita confissão de submissão. Ao sobrepor valores profanos aos religiosos, a alma humana vai ficando mais materialista, o coração mais frio, a sociedade mais violenta, as famílias mais pulverizadas, as pessoas mais isoladas e vulneráveis. Não se trata de nostalgia. A insistência é sobre os reais valores, capazes de tornar mais humana e harmoniosa a vida em nossas sociedades. Valioso contraponto a esses apelos profanos é a liturgia cristã neste rico tempo de Advento. Ao ler com atenção os textos bíblicos depara-se com a frequente ocorrência de clamores e gritos. A liturgia reporta clamores no deserto, gritos em altas colinas. Grita-se muito no Advento! Parece mesmo que a liturgia aceita competir com o mundo profano para ver quem consegue mais espaço no coração humano, mais atenção no ouvido das pessoas. A voz da liturgia quer penetrar mais fundo do que a poderosa voz do mundo! O objetivo, todavia, não é competir, na escala dos decibéis, com a bem articulada propaganda profana, mas despertar o sonolento cristão do seu torpor. Acordá-lo para o risco real de diluir a fé e de descartar a esperança. Com exímio conhecimento da alma humana, a liturgia não condena os aspectos festivos da época. Grita e insiste tão somente para que não se perca o foco. Grita e insiste para que o espiritual e o sagrado prevaleçam sobre o profano e o consumista!

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