
É triste a história do nascimento de Jesus! Do ponto de vista humano. Prestes a dar à luz, Maria e José não encontram uma porta acolhedora. Apenas lhes é oferecido um puxadinho, de fundo de casa. A semelhança com a situação de milhares de famílias que atualmente buscam refúgio impressiona. Maria e José dão de cara com portas cerradas. Famílias numerosas, hoje, encontram fronteiras protegidas por muros, arames farpados, cães treinados, policiais truculentos e guardas armados. Acomodados em provisório abrigo, Maria e José envolvem seu recém-nascido em panos e o deitam em manjedoura, cocho para alimentar animais! Milhares de mães experimentam a angustiante situação de querer oferecer a seus filhos condições dignas de sobrevivência, mas não conseguem. Faltam condições. Faltam oportunidades. Abundam descasos! Abundam abusos! Triste é a história do Menino-Deus! Vergonhosa é a situação de tantos meninos, filhos de Deus!
A situação de Maria e José torna-se ainda mais provocadora quando se entende que o Filho que estava para nascer era mesmo o Filho Divino. Acredita-se que Jesus é tão Filho de Maria quanto é Filho de Deus! Emerge espontânea indagação: não poderia Deus preparar um lugar mais nobre para seu Filho nascer? Que Pai é este que, em podendo fazer coisa melhor, permite que seu Filho fosse deitado em cocho de animais? Pertinentes, estas perguntas induzem obrigatoriamente a fazer séria reflexão. Se Deus permitiu que seu Filho nascesse nessas precárias condições é porque por trás dessas infelizes circunstâncias existe um Evangelho. Urge, então, largar conceitos piegas e sentimentais e mergulhar no mistério. Urge reconhecer que há muitas verdades redentoras embutidas na narrativa de Belém. Cabe debruçar-se para encontrar e instruir-se dessas Boas Notícias!
Salta o despojamento que emoldura toda a narrativa. Nasceu Jesus com a explícita missão de salvar a humanidade. Ora, a arrogância e a presunção, respondem pela maioria dos crimes e abusos cometidos contra a humanidade. Ao buscar, cada cidadão, seu espaço, não raramente, o subtrai de outro. Enquanto uns se projetam, alargando fronteiras e ampliando poderes, alimentando a própria vaidade, outros se veem progressivamente encurralados e explorados. Privados de básicas necessidades. As nefastas injustiças e as perversas desigualdades são consequências diretas de ambições desmedidas e criminosas indiferenças. Ao nascer pobre, o Filho de Deus, inicia um movimento oposto à mentalidade considerada ‘normal’ pelo mundo narcisista. Acena, de forma eloquente, para a necessidade do ser humano moderar seus impulsos vaidosos e dominadores. Cada conquista concreta neste processo, cada renúncia que beneficia o próximo, cada gesto de genuína acolhida, representa uma luz a mais a iluminar e vencer as atuais brumas consumistas. Somente a caridade é capaz de aliviar a pesada herança do pecado! Cada gesto de bondade não representa apenas um sofrimento a menos. Significa uma bênção a mais.
Recolhimento e meditação são ingredientes indispensáveis para assimilar toda a envergadura do mistério da Encarnação. Sem reflexiva compenetração a celebração do Natal de Jesus permanece superficial, facilmente profanada e descaracterizada. Por outro lado, quanto mais genuinamente cristã, mais humana esta celebração fica. Quanto mais religiosa, mais cívica! E quanto mais humana, mais universal e consistente a esperança que irradia. Coerente o júbilo dos anjos ao anunciar paz na terra a homens de boa vontade, a gente disposta a enxergar o outro e abrir-lhe a porta da esperança! O Filho de Deus pobre se fez para a muitos enriquecer! A triste história do nascimento de Jesus, Evangelho é!
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