
FIXAR EM JESUS O OLHAR
Na cruz, Jesus manteve abertos os olhos! É com esta inspiração que um anônimo artista destacou a entrega voluntária de Cristo para salvar a humanidade. Franco Zefirelli, o renomado diretor cinematográfico, reproduz a cena no seu magistral JESUS DE NAZARÉ! Na cruz Jesus não é vítima, é protagonista! Idêntica imagem tocou o coração de um jovem confuso e revolucionou sua vida. A partir do momento quando Francisco de Assis contemplou a imagem de Cristo crucificado de olhos abertos em uma capela semidestruída, sua percepção sobre Jesus mudou. Compreendeu que na cruz, Cristo não era vítima, como a tradição piedosa ama representa-lo, mas, sim, protagonista. Consciente e livremente Jesus entrega a vida para indicar o caminho para um seguro resgate da humanidade. É a verdade evidente, transparente em toda a narrativa bíblica da paixão. Cristo não é um derrotado, vencido pela implicância das lideranças religiosas da época. Nem um condenado, consequência da covarde omissão de Pilatos. Tudo o que aconteceu nos últimos 24 horas na vida de Jesus, faz parte do plano de Deus, assumido livremente pelo próprio Cristo, como expressão máxima de amor por uma humanidade que, embora rebelde e arrogante, é incondicionalmente amada.
Assim como aconteceu com Francisco, sucede na vida de qualquer pessoa que se compenetre da verdadeira dimensão do mistério de Jesus Cristo na cruz. No contexto da paixão de Cristo, o conceito de amor atinge a mais sublime expressão. Pois no dizer do próprio Cristo, não há amor maior que dar a vida pelos amigos! Ao morrer na cruz, Jesus dá a mais cabal demonstração do profundo grau de estima que nutre por toda humanidade. A narrativa bíblica deixa claro, em seus vários registros da paixão, que Jesus não somente estava em pleno controle da situação, como também, caso quisesse, podia simplesmente reverter o processo. Se não o fez, foi porque estava convicto na eficácia do plano redentor do Pai. Ao entregar livremente sua vida – como se recorda a cada celebração eucarística – Jesus proclama que a história da humanidade, a solução pelos terríveis desacertos no mundo, começa a encontrar prumo a partir de uma radical mudança de abordagem. Não é o poder que conserta o mundo, mas o esquecimento de si em favor do semelhante. No caso de Cristo, o rebaixamento foi levado propositalmente até o extremo. Atitude pedagógica para indicar que não há limite para a renúncia. Afinal, um olhar penetrante sobre as tristes e dolorosas confusões que afligem a humanidade deixa claro que a mais perniciosa raiz a ser vencida chama-se a arrogância, que se manifesta em sentimentos como soberba, ganância, indiferença, prepotência. Ao despojar-se de toda pretensão, ao rebaixar-se até ocupar o último lugar de serviço, Jesus Cristo mostra a quem se dispusesse entender que o caminho do resgate do mundo passa, essencialmente, pela renúncia de si mesmo.
A Igreja faz um zeloso apelo a seus fiéis na Semana Santa. Conclama-os a fixar seu olhar em Jesus Cristo. Enxerga-lo não como vítima, mas como protagonista da salvação. Compenetrar-se das suas escolhas e deixar-se tocar pelo seu exemplo, a ponto de permitir uma radical mudança interior de atitudes. Romper com a exacerbada cultura personalista que contamina escolhas e preferências para adotar a cultura evangélica: a que inspira esquecer-se de si em favor do semelhante. As celebrações da Semana Santa, vividas na mística do Evangelho, representam uma peculiar oportunidade para engajar-se efetivamente na obra redentora da humanidade.
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