sábado, 30 de maio de 2020

DOM MAIOR

Busca-se uma âncora! Nestes tempos turbulentos, enorme é a ânsia de encontrar uma âncora capaz de evitar que a nau soçobre fustigada por vagas ameaçadoras. Notório é que em tempos conturbados, o ser humano costuma buscar refúgio e proteção na religião. A religião sai das gavetas! Non obstante o inegável bem que a religião proporciona, encontram-se pessoas que, curiosamente, a culpam por alguns dos transtornos que afligem a sociedade. Pensadores influentes acusam o catolicismo tradicional pela atual estagnação econômica. Na opinião desses autores, a moral católica considera a pandemia como castigo divino contra a desenfreada ganância e o consumismo hedonista. Impurezas que precisam ser purificadas por penitências e expiadas por sacrifícios. O distanciamento social é uma penitência imposta contra o pecado do lucro para aleijar a economia. Curiosamente, quando se olha para países, livres do pensamento católico, e adeptos a um convívio mais liberal, supostamente favorecido por um cristianismo de prosperidade, repara-se como, na prática, suas desventuras econômicas estão mais dramáticas ainda. Países que não adotaram o isolamento, ou que retardaram a sua aplicação, passam por consideráveis apertos econômicos. Desautorizar a religião por causa da estagnação econômica é infundada tese. Por outro lado, encontram-se governos que incrustam a religião cristã em seus manifestos políticos. Presume-se, nesses casos, que a gestão administrativa se pautasse por princípios evangélicos. Quando, no entanto, gestões e discursos destoam frontalmente dos postulados bíblicos, deduz-se que, nesses casos, a religião é mais pretexto que inspiração. Simulação em desserviço da própria religião. Neste contexto, a religião também passa por crivos críticos, questionando seu real valor! Para ser religioso dessa maneira é melhor permanecer pagão! Em suma, a religião ajuda ou atrapalha? Urge clarificar conceitos sobre religião, particularmente a cristã, e depurar condutas. Etimologicamente, religião indica a ligação do ser humano a Deus. Na Bíblia cristã, Deus é amor, promotor da vida. Por sua natureza, o amor é sempre envolvente, cria vínculos. A prova maior desse envolvimento profundo de Deus com a humanidade é a encarnação de seu Filho Unigênito. Na sua passagem pela terra, Jesus entronizou o amor como qualificativo do discípulo e proclamou a vida como objetivo primário da sua missão. À essência da religião cristã cabe, por óbvio, incentivar a pratica da caridade, tendo como declarado objetivo o empenho em preservar a vida do semelhante. A quarentena causa transtornos na economia, privações nos relacionamentos sociais, abstinências nas práticas religiosas. Na falta de um medicamento eficaz para reprimir o contágio do Covid-19, a religião se alia à ciência médica e recomenda o isolamento. Mesmo angustiada pela abstinência litúrgica, o reforça na certeza de estar agindo em plena comunhão com seu Divino Mestre! Bem ilustrativo, a propósito, o resultado de uma recente pesquisa apontando as mães e as classes mais pobres como os mais interessados defensores da quarentena. O mandamento do amor está visceralmente atrelado ao mandamento de não matar. Ora, facilitar aglomerações é não-amar, pois favorece o contágio, potencializando mais óbitos! Quem ama não quer mortes, que, na leitura de Jesus, implica, igualmente, a supressão de linguagem boçal! De escolhas certas depende o futuro. Urge entender que viver a religião envolve compromisso inalienável de promover a caridade e defender a vida. Praticar a misericórdia, segundo Jesus, é mais prioritário que liturgias e cultos A religião, quando bem entendida e praticada, transparece na encarnação da caridade e na preservação convicta da vida, o dom maior do Criador! Segura âncora nesta tenebrosa borrasca!

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