sábado, 23 de maio de 2020

TELEPASTORAL

Em 1973 comecei a celebrar missa na TV Coroados em Londrina! Graças às orientações de dois grandes amigos – JB Faria e Ricardo Espinosa, proprietários da Rádio Paiquerê, Londrina – fui aprendendo a lidar com a linguagem televisiva e radiofônica. Fui, igualmente, percebendo o enorme potencial de penetração desses meios. Uma única apresentação televisa ou radiofônica alcançava, potencialmente, mais gente que um ano inteiro de celebrações presenciais. À medida que fui amadurecendo no mundo midiático da época, crescia, paradoxalmente, em mim um questionamento quanto à pastoral conveniência das missas televisionadas. Inegável é seu valor de conforto espiritual quando se trata de espectadores idosos ou doentes. Por outro lado, me incomodava ouvir pessoas, perfeitamente saudáveis, justificando sua ausência nas comunidades paroquiais alegando estar acompanhando a missa pela Tv. O que vale, diziam, é assistir à missa, não importa de onde nem por qual meio. Ora, a celebração eucarística alcança seu sentido pleno na partilha do Pão Consagrado – o Corpo e o Sangue do Senhor Jesus – a Comunhão sacramental. Afinal, é a Ceia do Senhor! Elementar é que não há comunhão via televisão, assim como não se participa de um churrasco via internet! Defendia, na época, aproveitar o espaço da Tv para uma formação bíblico-catequética, muito mais consoante com a linguagem midiática e que, simultaneamente, cobria uma grande lacuna na formação permanente dos cristãos. Meus argumentos não foram suficientemente convincentes nem para os meus superiores eclesiásticos e nem para os donos do canal televisivo. Somente na Rádio Paiquerê consegui desenvolver uma diversificada programação catequética, graças, novamente, aos senhores acima mencionados, que colocavam à minha disposição a estrutura logística da emissora. Por conta da COVID-19 voltei a celebrar a missa, com transmissão em tempo real pela internet e ainda motivo os fiéis a acompanharem. O real perigo de contágio impõe, emergencial e caridosamente, a adoção desse recurso. Quanto à comunhão eucarística, apelo para a comunhão espiritual. Percebo que muita gente acompanha, com devoção, as celebrações via mídia. Ouço comentários opinando estar nascendo uma nova forma de ser igreja – virtual – mais moderna, de maior alcance. A normalidade com a qual se habituou a conviver, passa por radicais transformações. A rotina será definitivamente diferente, assim como mudou após os ataques terroristas de 11/9/2002. Alguns valores, no entanto, não serão substancialmente afetados. Entre esses, a participação presencial na Eucaristia. A Igreja é uma família, e é na condição de família que celebra a Eucaristia. Ouve e acolhe a Palavra de Deus, consagra e reparte o Pão Eucarístico ao redor da mesa do Senhor! A retomada presencial que certamente virá, acompanhada, evidente, de apropriados protocolos sanitários, responde a uma exigência teológico-litúrgica. É da natureza do ser Igreja que a comunidade se congrega em nome do Senhor. Viver social e comunitariamente corresponde, igualmente, ao anseio profundo da alma humana. Intenso é o anseio por essa volta presencial. Forte é a necessidade de se encontrar com o irmão, de conviver alegre e prazerosamente. O distanciamento social não pode abafar a dimensão familiar da igreja. É preciso resistir à ambiguidade de achar que o virtual veio a suplantar o presencial. O que emerge é um novo e vasto potencial a ser pastoralmente explorado. As redes sociais não substituem o convívio presencial. Ao contrário, o alimentam e, devido à sua fabulosa capilaridade, facultam novas oportunidades de contato e de assistência pastoral. Assim como a telemedicina agiliza os protocolos clínicos, uma ‘telepastoral’ articulada e bem produzida desponta como preciosa ferramenta tanto no campo da evangelização e da catequese como também na preservação dos vínculos fraternos! A mídia é a nova terra de missão!

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