sábado, 15 de agosto de 2020

PRUMO

PRUMO “Onde está você”? É a primeira indagação que se encontra na Bíblia! Adam e Eva se escondem após desobedecerem ao mandamento divino. O Todo-poderoso, estranhando a ausência física do casal, indaga por sua localização. Fica evidente o alcance existencial desta pergunta. A intenção do Criador, ao indagar pela localização, era provocar o Homem a refletir sobre as consequências de seus atos. Não era o Criador que precisava saber onde se encontrava Adão. Era o Homem que necessitava saber onde se encontrava existencialmente. Ao imaginar esconder-se de Deus, na realidade, Adam estava se escondendo de si próprio. E Deus queria chama-lo de volta à realidade, à original harmonia. Ao tentar se esconder, o casal buscava camuflar sua identidade, retardando, consequentemente, sua própria libertação! O ato rebelde gerou conflito onde antes havia harmonia, confusão de conceitos onde antes havia ordenamento. A nudez foi novidade para o casal, gerando perplexidade e medo diante da descoberta. Difusa persiste a sensação: a ‘nudez’ desconcerta e muitos tentam encobri-la. Desconhecem quem realmente são! Fundamental possuir consciência clara sobre a própria identidade, caso se queira genuinamente avançar na vida de forma amadurecida. A pergunta do Criador é atemporal! É universal! Todo ser humano é confrontado, e de uma maneira constante, com a existencial provocação: onde estou? Ignorar esta indagação, como também fugir de responder a ela com transparente sinceridade, representa uma gravíssima falha de personalidade e um sério atraso no processo de amadurecimento. Previsível consequência do receio de se encarar com maturidade é a adoção de comportamentos ambíguos, de escolhas dúbias. Com evidentes consequências desastrosas tanto para a própria vida como também para a vida alheia. Dissimulando a própria identidade passa-se a viver de mentiras existenciais, de inconsequentes e frustrantes fantasias. A prolongada alienação da própria identidade, embora facilmente camuflada por agitações e frivolidades, torna-se paulatinamente fardo insuportável para o próprio indivíduo, abrindo caminho para a depressão ou para tentativas desesperadas de preencher artificial ou quimicamente o vazio existencial. A pandemia emerge como excepcional oportunidade para quem deseja conhecer onde se está e se dispõe a precisar o rumo da própria existência. Situação singularmente propícia para compenetrar-se acerca do que se espera de si neste particular, e dramático, momento da história. A quarentena obriga a muitos a estarem onde preferem não estar! Espaços que costumavam preencher tempos e atividades que serviam para fugir de indagações indigestas encontram-se impedidos. A incômoda diminuição da marcha, emerge, paradoxalmente, redentora, caso se pretenda encontrar-se consigo próprio, definir onde se está! A antipática redução do ruído se faz providencial, caso se queira redescobrir o sentido da existência. Indispensável a quietude, caso se queira recuperar o prumo original. O retiro cívico salta como preciosa oportunidade para saber onde se está e se onde se está é onde se deveria estar! Este é o espaço! Agora é o momento! Permita ecoar a indagação: Onde você está? Longe de ser inquisitiva ou moralista, a indagação é intencionalmente terapêutica. Restauradora! A hora é para ouvir a consciência! O espaço é para se ver, sem maquiagens! Conhecer e assumir a própria identidade e agir de acordo representa reconquistar a paz da alma, o prazer em viver!

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