sábado, 8 de dezembro de 2012

TRANQUILIDADE

Aflige a incerteza! A difusa ansiedade causa agonias na vida de um número crescente de pessoas. Ao analisar bem, convence-se que este estado de interior agitação tem a sua origem ligada às preocupações com o futuro. Há de se afirmar, como premissa, que somente a mente humana possui noção do futuro. Os bichos não têm esta consciência. Logicamente, não conhecem a sensação de incerteza. Por uma questão de precisão, não é o conceito do futuro que gera desassossego. A origem das dúvidas existenciais deve-se ao fator imprevisibilidade ligado ao futuro. Fato é, o ser humano não consegue deixar de pensar no futuro. Emerge, então, o drama. Ao conferir as muitas indefinições da realidade presente, o sujeito, ao pensar no futuro, se vê invadido por uma série de dúvidas, originarias, paradoxalmente, a partir de uma evidência, os desdobramentos da atual conjuntura fogem ao seu controle. O cidadão comum vive a aflitiva sensação de não ser dono do seu destino. Por mais que invista diligentemente e por mais que tente se proteger, a sensação de impotência persiste e provoca ansiedades. Enquanto contido no limite racional, o sentimento de intranquilidade é compreensível e normal. Estimula, inclusive, reações positivas, no sentido de manter o cidadão sempre vigilante e atualizado. Ruim é quando o sujeito se deixa dominar pelas negativas sensações de impotência e de pavor. Descontrolado, o medo paralisa! Fato curioso é a persistência desse estado de incerteza numa civilização tão tecnologicamente evoluída como a nossa. Encontra-se hoje a humanidade num estágio admiravelmente evoluído, preparada para enfrentar adversidades, de qualquer natureza. Ufana-se o Homem, e com justiça, de suas formidáveis conquistas. O conforto progrediu sobremaneira. Contudo, a ansiedade teima persistir e retarda o tão almejado sossego. Ao conferir que o ser humano não consegue se libertar da dimensão do futuro, uma escola recente de pensamento desenvolveu teorias com o objetivo de convencê-lo a libertar-se desta incômoda sensação do futuro. Apresenta argumentos racionais para comprovar que o futuro não passa de uma ilusão cultural, de um artifício religioso para amenizar as agruras do cotidiano. Anestesiado por uma hipotética beatitude futura, a coração humano aquieta e fica mais conformado. O que existe, advogam esses pensadores, é o dia de hoje, o momento, sobre o qual se tem plenos poderes. Seduzida pela aparente lógica desta argumentação, muita gente passou a viver como se não houvesse amanhã. Mergulhou numa vida de consumo e de satisfações imediatas. A dura realidade, porém, acaba se impondo e o amanhã aparece. E muito cidadão se vê despreparado para enfrentar situações desafiadoras. Os mais desesperados entram em pânico. Derrotados e desorientados apelam por trágicas soluções. É sintomático o alto índice de suicídios em países considerados avançados. Emerge uma inconteste verdade, a dimensão do futuro na existência humana não é utópica. Tampouco é cultural ou produto de uma armadilha religiosa. É anelo natural e inerente à constituição da vida humana. Não se acaba com a dimensão do futuro por decreto. A alma humana procura, com denodo, a fórmula que a liberte das incertezas que a afligem quanto ao futuro. A correta noção de eternidade ajuda sobremaneira nesta urgente tarefa. A eternidade não é um dado cronológico, é realidade existencial. Em outras palavras, não é experiência que vai acontecer “depois”, mas é uma realidade que afeta o cotidiano. Ao assegurar-se que sua existência possui um destino definido, o ser humano organiza as suas preferências. Põe ordem em sua vida! Às realidades passageiras e contingentes, dá importância secundária e flexível. Às realidades superiores e permanentes, dá atenção preferencial e intransigente. É esta falta de ordem que está na origem de tanto desassossego e de tanta irritação. Ao definir corretamente a perspectiva da vida, o ser humano continua enfrentando incertezas inerentes a contingências do cotidiano. Com menos agonia, porém. Pois sobre os valores que garantem o verdadeiro e esperado futuro ele continua tendo domínio e ascendência. Em direção a este futuro confiante caminha e tranqüilo. WWW.pecharles.blogspot.com.br

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