
Morreram recentemente grandes escritores! Justamente na semana quando se festeja o dia do escritor! João Ubaldo Ribeiro, Ariano Suassuna e Rubem Alves farão falta. No Brasil e no mundo. Cada um, seguindo o próprio estilo e as pessoais convicções, contribuiu para enriquecer a literatura e induzir milhares de leitores a refletir sobre relevantes questões existenciais. Seus admiradores e os amantes da literatura experimentam aquela sensação de irrecuperável perda, tamanha a envergadura desses mestres. Emerge, neste fúnebre contexto, a recorrente inquietação sobre a realidade da morte. Alimentada ainda por mais algumas tragédias que regularmente sacodem o cotidiano. Noticia-se o absurdo ataque contra um avião de carreira, vitimando centenas de passageiros inocentes, que absolutamente nada tinham a ver com o conflito étnico da região que sobrevoavam. Comove-se com um bebê que consegue sobreviver ao desabamento de um prédio em Aracaju, mas falece logo após ser retirado dos escombros. A morte debocha da potencialidade humana. Por mais bem sucedido que se imagina ser, topa-se impiedosamente com a morte. A última palavra parece dela. A vitória parece dela.
A mente humana, contudo, não se resigna. Embora reconheça a inevitabilidade da morte, a mente vive buscando uma luz confiável a iluminar esta desafiadora sombra. Há uma intuição íntima e profunda na alma humana que a vida não pode simplesmente terminar no túmulo. A vida não pode ser somente isto. O ser humano reconhece em si uma potencialidade que recusa dobrar-se diante da morte. As progressivas conquistas tecnológicas expressam esta ânsia instintiva de viver. Consegue-se hoje viver mais e de uma forma saudável e produtiva. Mesmo assim incomoda o pensamento de que se está na fila do cemitério. Desconhece-se se se está mais á frente ou mais atrás, mas sabe-se que se está na fila! E a possibilidade do desfecho gera desassossego.
Muitas são as doutrinas e teorias sobre o assunto. Do ponto de vista racional, nenhuma convence. Na falta de convincentes argumentos, pensadores mais recentes preferem defender o fim da existência. Ao cessar a cerebral atividade, o ser humano acaba. Duríssimo é conformar-se com a realidade de que o que era simplesmente deixará de existir! Nem serve o consolo do legado que o sujeito deixa para a posteridade. A dura conclusão deste pensamento filosófico é que o futuro não existe. O fim é o nada. Em termos crus, a vitória é da morte. Esta mentalidade que propaga a inexistência do futuro está por detrás da banalidade a que está sendo reduzida a vida. Mata-se e morre-se estupidamente. Dramático é o paradoxo: enquanto a ciência investe pesado para prolongar a vida e garantir um futuro saudável, a juventude desperdiça oportunidades e brinca com a morte. O absurdo deste contexto induz a concluir que a razão sozinha não possui recursos nem respostas convincentes para o enigma do fim da vida. A urgência da aspiração acompanha a gravidade das frustrações.
A fé no Deus da vida socorre a fragilidade da mente humana. A fé em Deus não desqualifica, ao contrário, revigora a intuição da alma humana. Ao crer no Deus da Vida, Princípio e Fim da história, a mente compreende que o ser humano existe em função de um destino. E o fim da jornada da vida é o encontro com o Deus Eterno. Há futuro! E a certeza é psicologicamente benéfica e tranquilizadora. Ao contrário do que se insinua, a certeza do futuro não somente não entorpece o Homem, como o estimula a valorizar tanto a própria como a vida alheia. Ao reconhecer sua dimensão imortal, a alma humana passa a amar mais viver, a sentir prazer em progredir e produzir, animada por uma subjacente certeza: se já neste mundo, viver é maravilhoso, imagina-se, então, na eterna companhia de Deus-Amor! Por uma lógica inferência, quanto mais Deus está presente na vida do sujeito, mais plena se torna sua existência, mais ele quer viver. Mais ele se torna fonte de vida para os outros.
Entristece a partida de gente amiga. Sua ausência abre um buraco que demora a fechar. Ao entender, no entanto, que os amigos foram ao encontro do Sublime Amor a dor é suavizada. Alegra-se, apesar da dor, pela plenitude alcançada. Suassuna costumava chamar a morte de Caetana. A fé no Deus Vivo assegura que a Caetana não tem a última palavra. Caetana é que está ferida de morte!
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