sábado, 5 de julho de 2014

ALICERCES

Educar é edificar! Na arquitetura estilos e fachadas chamam atenção e geram admiração. Todo arquiteto é, contudo, considerado competente quando dedica particular atenção às fundações. O bom profissional sabe que fachadas podem ser majestosas, mas se não estiverem alicerçadas em sólidas fundações facilmente desabam. Ruem-se prédio e reputação. As fundações costumam consumir volume considerável de recursos e de tempo sem apresentar sensíveis progressos. Não é raro neste estágio, o dono do imóvel pressionar o arquiteto ou o mestre de obras para apressar os trabalhos ou economizar no material. A ânsia de ver o prédio pronto e funcionando pode induzir a cometer leviandades, a trabalhar com misturas inadequadas. As paredes podem até subir rápido, mas com sérias probabilidades de apresentar falhas e rachaduras. Pressa e economia nos alicerces podem até passar desapercebidas, mas a gestão irresponsável infalivelmente aparecerá. É a história recorrente em tantas obras, públicas e particulares. Temerários são os arquitetos e mestres de obras quando fazem concessões em assunto de segurança. A semelhança do honesto arquiteto, o educador, mais particularmente os pais, ao planejarem a formação de seus filhos, devem dedicar prioritário cuidado ao alicerce. Na formação de uma criança o ensino, a saúde, a alimentação podem ser comparados à fachada e à distribuição de uma construção. Importantes, sem dúvida, e indispensáveis. Mas não suficientes. Necessitam de sólidas fundações para manterem-se firmes, suportando os solavancos da vida. Apesar da evidência do argumento, a experiência do cotidiano induz a reconhecer que nem todos os pais dedicam a devida atenção aos alicerces na proposta da educação dos filhos. A prevalecente cultura imediatista e hedonista desvia com habilidade e insistência a atenção dos pais e os induz a se focarem em conquistas vistosas, como conhecimentos, esporte, apresentação. A ânsia de encaminhar o filho para sair do anonimato pode induzir os pais a negligenciarem o cuidado com as colunas de sustentação. Sem esses alicerces a criança rapidamente se destaca, competente e hábil em vários atividades, mas carente daquele elemento interior que dá harmonia e consistência à personalidade. Conhecem-se crianças versáteis em variadas áreas, mas desencontradas, quando não em conflito consigo mesmas. Seguem uma rotina cheia de atividades e compromissos, mas vivem de uma maneira superficial e desarticulada. Dispersas e ocupadas com tantas tarefas, muitas crianças perdem a capacidade de se concentrar. Apesar da pouca idade, encontram-se esgotadas. Estressadas, necessitadas de terapia. Cuidar das fundações na educação de uma criança é uma urgência prioritária tanto em matéria de tempo como de conteúdo. Compreensivelmente, debate-se a natureza desses alicerces, dada a pluralidade cultural vigente. Compreende-se também, no entanto, que os princípios somente serão sólidos e consistentes quando livres de vieses ideológicos e sectários. Ao preparar as fundações, os pais devem se pautar por valores genuinamente humanos e universais, profundos e simples a ponto de dispensarem justificativas. Exemplo de um desses fundamentos é o respeito pelo outro. Aprender a respeitar a dignidade do semelhante como regra básica e inegociável, seja qual for a circunstância, é uma coluna de sustentação inestimável na formação da personalidade de uma criança. Em lares onde a vivência religiosa é abraçada com convicção os princípios religiosos oferecem outros sólidos alicerces na formação do caráter. Vale reparar que os valores genuinamente cristãos combinam perfeitamente com os princípios humanos universalmente aceitos. Isto quer dizer que a religião, quando vivida em sua pureza e com convicção, é precioso alicerce na formação da personalidade. A religião dá, sim, consistência e harmonia. Resistência para, com bravura e coragem, suportar os solavancos e enfrentar as turbulências da vida. Urge alertar, todavia, para uma sutil ambiguidade: o uso da religião como fonte discriminatória. Quando se torna sectária, a religião trai seus originais ideais e perde a dimensão genuinamente humana. As fundações numa construção e na formação do caráter representam a única repartição que não admite economias nem material de inferior qualidade. O alicerce ou é bem feito ou terá, com o tempo, que ser refeito!

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