sábado, 16 de agosto de 2014

EMBALAGEM

EMBALAGEM Altamente lucrativa é a industria do casamento. Núpcias viraram eventos a envolver variados serviços que, por estarem se tornando sofisticados e caros, transformam o período preparatório em uma tensão aflitiva. Ao ficar reféns dessa exigente indústria, os noivos desperdiçam o melhor da festa, o encanto próprio que antecede um grande evento. Analisando com objetividade, as exigências impostas desviam os noivos do que deve ser a real e essencial preparação para o casamento. São tantos e tão variados os detalhes a serem providenciados que, não raramente, os noivos chegam esgotados ao casamento. Falta tempo e disposição para curtir o clima. É o típico caso da moldura que recebe mais cuidados que o próprio quadro. Diante dessa realidade, fica mais apropriado dizer que as núpcias não passam de cerimônias de casamento. Eventos sociais, marcados por protocolos de discutível serventia. Há uma diferença substancial entre cerimônias e celebrações. Cerimônia é um evento com começo e fim, sem implicar necessariamente em desdobramentos substanciais posteriores. O cerimonial cuida de realizar formalmente o ritual estabelecido para a ocasião. É o que se vê, por exemplo, em inaugurações oficiais. Importa cumprir um protocolo estabelecido. Passando para a realidade das núpcias, é de reparar como muitos casamentos se encaixam perfeitamente neste modelo. Estabelece-se um pacote protocolar que pode, pasme-se, incluir ato religioso. Quando inserido no pomposo conjunto da festa o ato religioso perde, compreensivelmente, a relevância. Em especial quando a exigência é realizá-lo fora do espaço apropriado para a liturgia. Nesses casos, fica evidente que não é a dimensão religiosa que importa, mas, sim, o impacto estético, a emoção romântica. A moldura é mais importante que o quadro. A bênção é detalhe! Pena que encontram-se religiosos que aceitam ser coadjuvantes nesta montagem equivocada! Ao se contentar com cerimônias, muitos noivos perdem a preciosa oportunidade de inserir sua união num contexto genuinamente sublime e humano. A indústria os induz a pensar mais nos periféricos que na essência do matrimônio. O propósito pode até existir, mas fica obviamente diluído diante de tantas exigências triviais. Festa tem que haver, mas sem perder o foco, sem inverter valores. Celebrar é privilegiar a dimensão interior da ocasião. O foco está na essência do evento e é o que deve dar forma e ritmo ao ritual! Toda celebração verdadeira começa no íntimo, na clara consciência do que a pessoa pretende realizar. No caso do matrimônio, em especial o cristão, a celebração começa naquele íntimo instante quando os noivos, em sua condição de adultos batizados, decidem por amor unir suas vidas para formar uma família. Casar na igreja é muito mais que realizar um evento num templo religioso. É formalizar um vínculo, um propósito de fundar uma família e encaminhá-la segundo os ensinamentos de Jesus Cristo. Repara-se que o vínculo já existe e é o que torna nobre o ritual. Tão serio é o compromisso que o casal chama como testemunhas e apoio tanto a comunidade como os amigos e, em especial, o próprio Jesus Cristo. São estes os sentimentos a destacar na celebração do matrimônio. Indicativo claro da intenção do casal de empenhar-se em tornar mais sólida e perene a união conjugal. Censura-se a doutrina cristã por querer impor um modelo de casamento considerado ultrapassado pelos padrões modernos. No ritmo atual de vida não existem mais vínculos perpétuos. Tudo é contingente e relativo. O amor é eterno enquanto dura! A ambiguidade, na realidade, se dá quando o casal pede o casamento religioso sem estar intimamente convicto e comprometido com o ensinamento da Igreja. Fica claro, neste caso, que para os noivos é a cerimônia que importa. Perdido o foco, é natural o avolumar-se de valores secundários, motivos de frequentes desgastes entre párocos e noivos. Presentes carinhosos são revestidos de mimosas embalagens. Capricha-se na embalagem para destacar a preciosidade do presente! Ao celebrar o casamento os noivos revestem seu vínculo numa embalagem que destaca e fortalece o que consideram essencial e sagrado no matrimônio. Ao submeter-se à industria casamenteira, os noivos escolhem uma embalagem que, por ser sofisticada e cara, rouba-lhes o protagonismo!

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