sábado, 6 de setembro de 2014

POTENCIALIDADE HUMANA

POTENCIALIDADE  HUMANA
Pedro quase se afogou! Entusiasmado pela vista de Jesus caminhando sobre o mar agitado, Pedro solicitou ao Mestre para que fosse ao seu encontro caminhando, ele também, sobre as ondas. Jesus atendeu, chamou o apóstolo a arriscar-se. E este, de fato, caminhou sobre mar furioso. Domar adversidade, profundo anseio humano! Ao incitar seu apóstolo a enfrentar o mar bravio, Jesus insinua que o Homem reúne condições a vencer turbulências.  Enquanto permanece com seu olhar fito em Jesus, Pedro avança. Quando, porém, desvia o olhar e passa a dar mais atenção à agitação das ondas, Pedro perde a confiança e começa a afundar. E se não fosse a pronta ajuda do Mestre, atendendo ao desesperado apelo por socorro de seu apóstolo, as ondas, muito provavelmente, o engoliriam!
Costuma-se afirmar que faltou fé a Pedro. E é verdade, mas é preciso entender bem de que fé se trata, uma vez que o seu conceito está sujeito a várias leituras. É preciso entender o alcance da verdadeira fé. Ao proporcionar clareza de visão quanto aos objetivos que se pretende alcançar, a fé proporciona firmeza no caminhar. Clareza de visão significa noção exata de identidade. Consequentemente, de tarefas e de potencialidades. Um conhecimento que provoca naturalmente confiança e alegria. Clareia, assim, o correto conceito sobre Fé, que é obediência, no sentido literal e nobre do termo, que é escutar de coração aberto. Embora pareça paradoxal, a obediência, no sentido de acolhimento consciente, eleva e purifica a liberdade. Insistem os místicos, e hoje os analistas, que obediência sem liberdade é escravidão. A obediência agride a liberdade quando cerceia ideais e patrulha consciências.  Emerge o DNA da fé – escuta – consciência – liberdade – confiança. Na ausência de um desses elementos, a fé balança, começa-se a afundar, como no episódio de Pedro. Ao deixar de confiar em Jesus, Pedro perdeu a confiança em si e deixou-se perturbar pelo furor das ondas.
 Teoricamente, incontável é o número de pessoas que dizem sim ao chamado de Jesus para segui-lo. Não são necessárias, contudo, demoradas analises para concluir que muitas dessas adesões são bastante porosas. Crê-se em Jesus, mas de uma maneira vaga, light, como se diz na linguagem de hoje. Crê-se em Jesus, mas sem dar-se conta que isso implica ouvir, acolher e seguir sem hesitação sua palavra. Acreditar na própria potencialidade, em suma. Pedro foi considerado homem de pouca fé porque ouviu, acolheu, mas vacilou! Deu espaço ao medo. Os seguidores de Jesus são constantemente instados a enfrentar mares bravios. O que não quer dizer necessariamente oposição, mas os desafios inerentes à fidelidade do discipulado. Pois crer em Jesus, em última análise, significa caminhar na contramão do mundo. Significa aderir de uma forma consciente e livre ao projeto do amor generoso e incondicional. O mundo, que sempre seguiu o compasso da produção e do sucesso, propostas com fortes tendências egocêntricas, bate de frente com o Evangelho com o furor de uma violenta tempestade. No começo, o discípulo arrisca-se enfrentar os desafios, mas ao prosseguir na caminhada realiza a dificuldade e o risco de medir forças com ventos contrários e com ondas impetuosas e começa a duvidar na própria capacidade de sobreviver às provações. Hesita. Duvida. E começa a afundar-se.
Este particular episódio com Pedro ensina que ao crer em Jesus, o discípulo restaura a fé em sua potencialidade como ser humano. Ao confiar na Palavra do Mestre, o Homem reconhece-se capaz de enfrentar mesmo as mais violentas turbulências. Jamais, porém, de uma maneira autônoma. A potencialidade humana, quando gerida de uma forma soberana e independente, facilmente se transforma em arrogância e prepotência. Ao incitar Pedro a imitá-lo e pisar sobre mar agitado, o Mestre solicitava ao discípulo que confiasse em sua Palavra e descobrisse a força interior que possuía. Quando, porém, este se deixou vencer por cálculos e considerações, rapidamente perdeu confiança. Emerge, então, outra confortadora lição. A experiência de Pedro parece insinuar que existe tolerância para a hesitação. Ao perceber-se vacilante na fé, o discípulo reconheceu que precisava de socorro. Clamou e foi atendido. Autônoma e soberba, a potencialidade humana leva ao afogamento!


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