POTENCIALIDADE HUMANA
Pedro quase se afogou! Entusiasmado pela vista de Jesus caminhando
sobre o mar agitado, Pedro solicitou ao Mestre para que fosse ao seu encontro
caminhando, ele também, sobre as ondas. Jesus atendeu, chamou o apóstolo a
arriscar-se. E este, de fato, caminhou sobre mar furioso. Domar adversidade,
profundo anseio humano! Ao incitar seu apóstolo a enfrentar o mar bravio, Jesus
insinua que o Homem reúne condições a vencer turbulências. Enquanto permanece com seu olhar fito em
Jesus, Pedro avança. Quando, porém, desvia o olhar e passa a dar mais atenção à
agitação das ondas, Pedro perde a confiança e começa a afundar. E se não fosse
a pronta ajuda do Mestre, atendendo ao desesperado apelo por socorro de seu
apóstolo, as ondas, muito provavelmente, o engoliriam!
Costuma-se afirmar que faltou fé a Pedro. E é verdade, mas é preciso
entender bem de que fé se trata, uma vez que o seu conceito está sujeito a
várias leituras. É preciso entender o alcance da verdadeira fé. Ao proporcionar
clareza de visão quanto aos objetivos que se pretende alcançar, a fé
proporciona firmeza no caminhar. Clareza de visão significa noção exata de
identidade. Consequentemente, de tarefas e de potencialidades. Um conhecimento
que provoca naturalmente confiança e alegria. Clareia, assim, o correto
conceito sobre Fé, que é obediência, no sentido literal e nobre do termo, que é
escutar de coração aberto. Embora pareça paradoxal, a obediência, no sentido de
acolhimento consciente, eleva e purifica a liberdade. Insistem os místicos, e
hoje os analistas, que obediência sem liberdade é escravidão. A obediência
agride a liberdade quando cerceia ideais e patrulha consciências. Emerge o DNA da fé – escuta – consciência –
liberdade – confiança. Na ausência de um desses elementos, a fé balança,
começa-se a afundar, como no episódio de Pedro. Ao deixar de confiar em Jesus,
Pedro perdeu a confiança em si e deixou-se perturbar pelo furor das ondas.
Teoricamente, incontável é o
número de pessoas que dizem sim ao chamado de Jesus para segui-lo. Não são
necessárias, contudo, demoradas analises para concluir que muitas dessas
adesões são bastante porosas. Crê-se em Jesus, mas de uma maneira vaga, light,
como se diz na linguagem de hoje. Crê-se em Jesus, mas sem dar-se conta que
isso implica ouvir, acolher e seguir sem hesitação sua palavra. Acreditar na
própria potencialidade, em suma. Pedro foi considerado homem de pouca fé porque
ouviu, acolheu, mas vacilou! Deu espaço ao medo. Os seguidores de Jesus são
constantemente instados a enfrentar mares bravios. O que não quer dizer
necessariamente oposição, mas os desafios inerentes à fidelidade do discipulado.
Pois crer em Jesus, em última análise, significa caminhar na contramão do mundo.
Significa aderir de uma forma consciente e livre ao projeto do amor generoso e
incondicional. O mundo, que sempre seguiu o compasso da produção e do sucesso,
propostas com fortes tendências egocêntricas, bate de frente com o Evangelho
com o furor de uma violenta tempestade. No começo, o discípulo arrisca-se enfrentar
os desafios, mas ao prosseguir na caminhada realiza a dificuldade e o risco de
medir forças com ventos contrários e com ondas impetuosas e começa a duvidar na
própria capacidade de sobreviver às provações. Hesita. Duvida. E começa a
afundar-se.
Este particular episódio com Pedro ensina que ao crer em Jesus, o
discípulo restaura a fé em sua potencialidade como ser humano. Ao confiar na
Palavra do Mestre, o Homem reconhece-se capaz de enfrentar mesmo as mais
violentas turbulências. Jamais, porém, de uma maneira autônoma. A
potencialidade humana, quando gerida de uma forma soberana e independente,
facilmente se transforma em arrogância e prepotência. Ao incitar Pedro a
imitá-lo e pisar sobre mar agitado, o Mestre solicitava ao discípulo que
confiasse em sua Palavra e descobrisse a força interior que possuía. Quando,
porém, este se deixou vencer por cálculos e considerações, rapidamente perdeu
confiança. Emerge, então, outra confortadora lição. A experiência de Pedro
parece insinuar que existe tolerância para a hesitação. Ao perceber-se
vacilante na fé, o discípulo reconheceu que precisava de socorro. Clamou e foi
atendido. Autônoma e soberba, a potencialidade humana leva ao afogamento!
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