
Ora a pessoa de fé!Quem em Deus acredita, naturalmente põe-se em oração. Por outro lado, nem todo jeito de orar é manifestação de fé autêntica. Isto explica a sensação de angústia e de incerteza que pessoas que rezam frequentemente experimentam. Atormenta-as a dúvida se estão rezando direito! Se sua prece está sendo atendida. Seriamente aflitas e sinceramente desejosas de serem atendidas em suas necessidades, querem saber o que precisam fazer para rezar direito. Esta situação de compreensível angústia cresce em dramaticidade, especialmente quando o objeto da oração é urgente ou de especial relevância na vida da pessoa ou de sua família. Inquieta e impaciente, a pessoa busca aquela oração ‘poderosa’ que, em seu entendimento, será capaz de garantir a graça solicitada. Espalham-se por aí muitas dessas rezas e novenas supostamente infalíveis!
Ora, ninguém melhor que o Senhor Jesus para orientar a respeito da oração. Os evangelistas registram que Ele costumava recolher-se com frequência para orar, em especial em momentos de particular relevância. Pelos registros é possível perceber que, ao orar, mesmo em situações de extrema angústia, Jesus se revestia de confiança e de coragem. Na oração o Mestre encontrava inspiração e vigor! A sensação de segura confiança que Jesus transmitia após seus retiros de oração, impulsionou os discípulos a solicitarem ao Mestre que os ensinasse a orar. Eles também deviam ter tido suas dúvidas e questionamentos a respeito da oração. Ao responder, Jesus coloca a oração em sua fundamental dimensão de comunhão com Deus. Este clima de amor confiante é pressuposto preliminar e indispensável na oração. Ensinando, pela palavra e pelo exemplo, a, no ato da oração, tratar Deus de Pai, Jesus põe em evidência esta atmosfera de comunhão e intimidade. Ao destacar o relacionamento Pai/filho, Jesus orienta e estabelece que na oração o clima a prevalecer é de filial e irrestrita confiança. É na condição de filho amado por um Pai incondicionalmente envolvido com seu destino que o fiel coloca-se ao orar. Repara-se como este clima configura, transforma e eleva o compasso da oração. Ao mergulhar-se neste ambiente de filial comunhão, o fiel descansa, confiante e seguro que pousa sobre ele o olhar tenro do Pai. É na condição de filho que se ora. Ao deixar-se infiltrar, no ato da oração, pela angústia ou por outros temores, o fiel deixa transparecer que, em sua vida, o conceito de órfão prevalece sobre o conceito de filho. É com semblante de órfãos que muitos oram, como comprova a coleção de assessórios - velas, fitas,correntes ... - a que se apela para reforçar a prece e chamar a atenção de Deus!
Ao insistir em invocar Deus de Pai, Jesus estabelece que o clima a prevalecer na oração seja de extrema ternura e repouso. Já ouvi depoimentos de pais e mães a descrever a reação impulsiva que toma conta de suas entranhas ao ouvir ou pressentir o clamor de um filho. A química é tão profunda que a aproximação se dá por instintiva intuição! Tudo perde sentido e importância diante do apelo por socorro de um filho. Conhecedor profundo da alma humana, Jesus recorda esta química para enfatizar a condição paterna de Deus. Se os humanos, tão inconstantes em seus sentimentos, fazem de tudo para atender os apelos dos filhos, quanto mais o Pai que está nos céus não dará o que é necessário a seus escolhidos e amados. Emerge, então, outra fundamental condição para uma oração proveitosa: a absoluta confiança em Deus. Neste clima de íntima confiança, palavras e fórmulas perdem relevância. Quem se importa com retórica em clima de profunda comunhão. Vale, consola e fortalece a certeza de se estar na presença de Deus-Pai! Que por amar tão generosamente sempre dá mais do que dele se solicita!
Orar com fé é mergulhar-se nesta atmosfera de comunhão e confiança. Neste clima de íntimo abandono em Deus a oração descansa e revigora. Livre daqueles penduricalhos artificiais que, de um lado, reduzem Deus à condição de robô programado a responder somente a partir da inserção de determinadas senhas, e, do outro, mantêm o fiel tenso e temeroso, o ato de orar se transforma num prazeroso, descontraído e fecundo encontro entre um Pai irremediavelmente apaixonado e filhos em constante necessidade de socorro!
Nenhum comentário:
Postar um comentário