
Está difícil dialogar! E se entender! Que o confirme toda pessoa que, por ofício, atende outros cidadãos. As razões evidentemente são variadas. Ocupa a primazia o conflito de interesses. Ao buscar determinada informação, orientação ou serviço, o postulante nem sempre leva em conta a especificidade do interlocutor ou da empresa em questão. Raramente cogita analisar previamente se o que busca se enquadra nas atribuições da empresa. Centrado apenas em seus interesses imediatos, nem sempre atenta ao que a instituição propõe. Ouve, mas não acolhe. Emerge o primeiro sério entrave para um diálogo consequente, a disponibilidade e a capacidade para entender as razões do outro. Focado em seus 'direitos', fica chateado ao não ser atendido. Inconformado, sai falando mal do funcionário ou da instituição porque não quis atender suas solicitações. É a situação recorrente que se enfrenta na Igreja Católica, especialmente com relação à celebração de alguns sacramentos, com destaque ao matrimônio. O leitor ficará abismado ao conhecer algumas das solicitações surrealistas apresentadas por noivos ou por cerimonialistas. São pedidos que expõem o total desconhecimento do caráter religioso e da dimensão sacramental da celebração.
O primeiro passo em direção a um diálogo consequente e respeitoso entre pessoas é criar consciência acerca da individualidade de cada parte. Os orientadores profissionais chamam este estágio preliminar de domínio da individualidade. Trata-se da capacidade e da necessidade do indivíduo se propor a elementar questão: Quem sou e que quero? Sem este conhecimento básico da própria individualidade e, subentende-se, da individualidade do outro é impossível estabelecer diálogo proveitoso. Sem perceber, o sujeito fica distante de si mesmo! É a razão porque muitos jovens se frustram com a escolha de cursos profissionalizantes. Formam-se em determinadas áreas para descobrir em seguida que não era bem aquilo que almejavam. Faltou, evidente, o preliminar conhecimento da própria individualidade. Nem sempre é fácil chegar a este discernimento, concede-se. Nem, por isso, deve-se fugir do processo. Encontram-se agentes, em todas as áreas, com formação profissional para orientar e ajudar. Esta consciência da própria identidade é básica e necessária para todas as situações da vida. Se faltar, a probabilidade das pessoas se envolverem precipitadamente em conflitantes situações é enorme. E quando se dão conta da extensão da realidade, balançam. Ou agridem, recorrendo a todas as manhas para impor seus supostos direitos.
Ligado intimamente à questão do conhecimento da própria individualidade é o conhecimento da individualidade do outro. Seja este outro, pessoa ou instituição. Importa conhecer as especificações do outro e quais as suas competências. Não é raro perceber que as conversas e as combinações acontecem em frequências diferentes. Usam-se os mesmos termos, mas como as sintonias são diversas o que um lado propõe o outro lado não capta. Estabelece-se a confusão porque as partes ou não se explicam com clareza ou porque um interlocutor deixa de pedir melhores esclarecimentos. Terminologias técnicas ou teológicas nem sempre são as mais indicadas. Como também nem sempre é consolo saber que o interlocutor seja possuidor de diploma universitário. Tampouco resolve passar orientações por escrito. Bom número de pessoas sabe ler, mas não é certeza que entende o que lê. Quando finalmente se consegue chegar a algum entendimento, costuma aparecer outro empecilho agravante. O solicitante entende, acha lógicos os argumentos, mas reluta mudar de opinião ou de exigência. Normalmente por razões sentimentais: fez-se uma promessa, precisa-se agradar uma tia ... Diz que entende, mas insiste no que quer! Volta-se à estaca zero, desfecho lamentável e desgastante!
Persistirá o desafio de manter diálogos consequentes caso as pessoas continuem a negligenciar a fundamental tarefa de conhecer, primeiro, a si próprios e, depois, a individualidade do outro. Definir e ajustar essas preliminares respostas corroborará enormemente na qualidade e na eficácia da comunicação e, consequentemente, no respeitoso convívio entre cidadãos.
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