
Brittany Maynard escolheu a hora para morrer! A divulgação e a publicidade dadas a essa decisão desencadearam, compreensivelmente, um acalorado debate focando os vários aspectos que envolvem o caso. Com destaque evidente à questão moral. Como se sabe, a Sra. Maynard, jovem esposa de 29 anos foi diagnosticada no começo do ano, logo após o seu casamento, com um agressivo tumor cerebral. O diagnóstico foi cruel: o tumor era incurável e, em sua forma agressiva, provocaria fortes dores que demandariam medicação igualmente forte, de efeito, porém, paliativo. Diante do sinistro diagnóstico a jovem decidiu antecipar a hora da morte. Mudou-se para o Estado de Oregon, onde este tipo de opção é permitido e no último dia 1º de novembro, lúcida e na companhia de seus entes queridos, tomou um coquetel de barbitúricos e despediu-se do mundo!
A repercussão do episódio, patrocinada pela própria Maynard com seu depoimento no FaceBook, com mais de 9 milhões de visitas, estimulou mais ainda o debate. É impossível ficar neutro diante de um acontecimento dessa envergadura. Por outro lado, devem ser evitados palpites precipitados e julgamentos categóricos. O delicado caso exige ponderação e uma abordagem respeitosa, deixando espaço para ulteriores amadurecimentos. É preciso afirmar, como ponto de partida, que a decisão pela morte assistida é estritamente pessoal, e condicionada, nos Estados Unidos, a uma série de rigorosas disposições prévias. O diagnóstico fatal precisa ser confirmado por uma junta médica. O paciente recebe assistência psicológica. O pedido precisa ser feito três vezes pelo paciente, observando intervalos de trinta dias entre cada solicitação. E quando chega o fatídico dia, é o próprio paciente, sem ajuda de ninguém, que toma o remédio. Há casos em que todas as disposições legais são observadas, mas quando chega o momento de ingerir o coquetel, o paciente refuga! Reserva-se ao paciente a possibilidade de mudar de opção até o último momento! Todo este procedimento acurado visa garantir plena consciência e total liberdade ao paciente. Entre tomar a decisão e cumpri-la vai uma distância considerável! Fortíssimo permanece o instinto de preservar a vida!
Na teologia moral, a responsabilidade por atos genuinamente humanos é da própria pessoa. Ele responde perante Deus por seus atos e a ninguém é dada a faculdade para julgar! Somente a Deus cabe o julgamento! No entanto, o citado episódio provoca compulsoriamente análises e reflexões oportunas, capazes de iluminar o entendimento e ordenar raciocínios. É consenso entre os estudiosos da bioética, amparados pela orientação da Igreja, que quando a doença atinge fase terminal e irreversível, respeitando sempre a decisão do paciente e de familiares, fica-se permitido dispensar tratamentos paliativos que somente prolongam artificialmente a vida. A este procedimento dá-se o nome de ortotanásia, procedimento médico considerado ético e legal. No caso em pauta, a paciente decidiu por conta própria antecipar este procedimento! Queria poupar a si e a seus queridos inútil sofrimento. Questiona-se, sob o ponto de vista moral, se o indivíduo possui o direito de pôr fim à própria vida. Nas religiões monoteístas é firme a crença que a vida é dom de Deus e somente Ele tem o poder de dar e de a tirar! Em reverência a esta verdade, e em casos semelhantes à que está em pauta, seria presunçoso afirmar que o diagnóstico comprovado de uma doença incurável já não indicaria a vontade divina? Diferente do suicídio, não é o paciente que decide morrer! Complexo e delicado é o assunto e demanda reflexão serena e corajosa. E abordagem responsável.
A vida é dom de Deus e a morte não a destrói. A fé cristã professa que o ser humano é imortal e encontra sua perfeita realização na plena comunhão com Deus na eternidade. Conscientizar-se de que se está no mundo de passagem é vital para valorizar cada momento da existência e, simultaneamente, para não cair no equívoco denunciado por João Paulo II de quem se apega obstinadamente à vida, a ponto de recorrer a terapias que não melhoram o estado de saúde do doente nem preservam sua dignidade. Muita gente morre triste, porque morre contrariada. Preparar-se para morrer é sinal claro de apreço pela vida e da convicção de sua dimensão eterna. Adeus mundo, escreveu Brittany Maynard. A Deus o julgamento!
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